A mirada do outro - Educación en valores
A mirada do outro - Educación en valores
A mirada do outro - Educación en valores
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
de forma a rejeitarem a velha monarquia e a influência da igreja católica, que<br />
responsabilizavam por séculos de obscurantismo e pela manipulação opressiva<br />
das consciências <strong>do</strong>s portugueses.<br />
O movim<strong>en</strong>to republicano evoluíra para a defesa de um patriotismo cresc<strong>en</strong>te,<br />
que se exacerbara com o ultimato inglês de 1890, relativo às possessões<br />
portugueses em África. Na nova ordem republicana, posterior a 1910, a substituição<br />
<strong>do</strong> ideário e da liturgia católicas por referências e formas que dessem<br />
corpo a uma verdadeira religiosidade cívica republicana e permitissem a concepção<br />
da sociedade portuguesa como uma comunidade imaginada, colocaram<br />
no c<strong>en</strong>tro de todas as manifestações cívicas o culto da pátria, a par <strong>do</strong> culto <strong>do</strong>s<br />
símbolos nacionais que a repres<strong>en</strong>tavam, a nova bandeira e o novo hino, assim<br />
como <strong>do</strong> culto <strong>do</strong>s grandes hom<strong>en</strong>s que se haviam destaca<strong>do</strong> ao longo da história<br />
de Portugal. Nas festividades cívicas que se des<strong>en</strong>volviam pelo país, como<br />
era o caso da festa da árvore (onde participavam, invariavelm<strong>en</strong>te, as crianças<br />
das escolas primárias), a evocação da pátria ocupava um lugar de grande c<strong>en</strong>tralidade<br />
em todas as manifestações.<br />
A pátria era, de forma lógica, apres<strong>en</strong>tada como a <strong>en</strong>tidade superior que<br />
acolhia no seu seio to<strong>do</strong>s os seus filhos, alim<strong>en</strong>tan<strong>do</strong>-os e garantin<strong>do</strong> o seu<br />
bem-estar. Resulta<strong>do</strong> de um percurso histórico, cabia à geração de republicanos<br />
interpretar os acontecim<strong>en</strong>tos que tinham <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> o país de grandeza e<br />
assumir os deveres patrióticos que lhe estavam cometi<strong>do</strong>s para dar continuidade<br />
a esse destino glorioso.<br />
Os republicanos assumiam-se como os herdeiros das “mais nobres tradições”<br />
<strong>do</strong> passa<strong>do</strong> histórico português, investi<strong>do</strong>s da responsabilidade de dar continuidade<br />
à grandeza da pátria e formar toda a população na consciência <strong>do</strong>s<br />
seus direitos e deveres, como cidadãos e principalm<strong>en</strong>te como portugueses.<br />
O papel reserva<strong>do</strong> pelos republicanos ao <strong>en</strong>sino da história marcou o conteú<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong>s manuais – apres<strong>en</strong>ta-se fundam<strong>en</strong>talm<strong>en</strong>te uma história pátria, que<br />
privilegia os mom<strong>en</strong>tos de afirmação da indep<strong>en</strong>dência <strong>do</strong> país e das suas grandes<br />
realizações. Como consequência, as restantes nações, povos e culturas<br />
p<strong>en</strong>insulares são <strong>en</strong>cara<strong>do</strong>s como um to<strong>do</strong> homogéneo, g<strong>en</strong>ericam<strong>en</strong>te designa<strong>do</strong><br />
por Espanha (ou, para perío<strong>do</strong>s cronologicam<strong>en</strong>te anteriores, conferin<strong>do</strong><br />
a Castela ou Leão esse lugar c<strong>en</strong>tral), já que era em torno <strong>do</strong>s interesses desse<br />
esta<strong>do</strong> que se movim<strong>en</strong>tavam os <strong>outro</strong>s actores históricos, como, por exemplo,<br />
alguns nobres galegos refer<strong>en</strong>cia<strong>do</strong>s em perío<strong>do</strong>s e situações específicos da história<br />
de Portugal.<br />
Nos manuais, que dão corpo a ori<strong>en</strong>tações educativas <strong>do</strong>s responsáveis políticos,<br />
surge uma dicotomia clara <strong>en</strong>tre Portugal e Espanha, em que a afirma-<br />
NO TEMPO DO LIBERALISMO<br />
25