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A mirada do outro - Educación en valores

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A MIRADA DO OUTRO<br />

226<br />

passa<strong>do</strong>s e destacar o arrojo e a val<strong>en</strong>tia <strong>do</strong>s heróis na conquista e na preservação<br />

da indep<strong>en</strong>dência <strong>do</strong> país. O que tanto tinha custa<strong>do</strong> a obter a gerações e gerações<br />

de portugueses devia ser def<strong>en</strong>di<strong>do</strong> com igual determinação por aqueles que<br />

tinham a oportunidade de se s<strong>en</strong>tirem portugueses. O que estava em causa era a<br />

defesa da pátria e <strong>do</strong>s <strong>valores</strong> que lhe davam id<strong>en</strong>tidade. Ora, relativam<strong>en</strong>te a<br />

Espanha, era especialm<strong>en</strong>te a História que conferia singularidade a Portugal.<br />

Assim s<strong>en</strong><strong>do</strong>, a restauração da indep<strong>en</strong>dência tinha, forçosam<strong>en</strong>te, de constituir<br />

um marco deveras significativo da sua existência e, como tal, não devia ser perturbada<br />

por quaisquer considerações que diminuíssem o valor e o significa<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

acontecim<strong>en</strong>to.<br />

Na verdade, de um mo<strong>do</strong> geral, os textos históricos que referiam o país vizinho,<br />

insertos quer nos manuais de leitura quer nos livros de história destina<strong>do</strong>s às<br />

crianças que frequ<strong>en</strong>tavam o <strong>en</strong>sino primário, estavam sintoniza<strong>do</strong>s com a compre<strong>en</strong>são<br />

da política externa salazarista e serviam bem a resposta a uma das suas<br />

grandes preocupações: a defesa da indep<strong>en</strong>dência nacional perante o “perigo<br />

espanhol”. Não se p<strong>en</strong>se que estamos diante duma ficção ideológica ou retórica<br />

política da época. Ao longo <strong>do</strong>s anos 30, como já vimos, e na primeira metade<br />

da década seguinte, o problema era olha<strong>do</strong> com seriedade. Como bem realçou<br />

Fernan<strong>do</strong> Rosas, “mesmo para o Esta<strong>do</strong> Novo, a ameaça não se limitava aos<br />

governos da esquerda republicana espanhola por interposto apoio político-militar<br />

à acção <strong>do</strong>s grupos oposicionistas exila<strong>do</strong>s em Espanha, t<strong>en</strong><strong>do</strong> como alega<strong>do</strong><br />

objectivo a criação de uma ‘Federação das Repúblicas Socialistas Ibéricas”. 37<br />

Salazar também conhecia as confessadas pret<strong>en</strong>sões anexionistas da Falange,<br />

ac<strong>en</strong>tuadas nos primeiros tempos <strong>do</strong> conflito mundial e isso não o deixou indifer<strong>en</strong>te.<br />

De qualquer mo<strong>do</strong>, tanto os debates estratégicos sobre a defesa de<br />

Portugal Contin<strong>en</strong>tal como as medidas militares a<strong>do</strong>ptadas desde os anos 30 até<br />

ao fim da II Guerra Mundial tiveram como pressuposto uma agressão espanhola,<br />

“fosse secundan<strong>do</strong> grupos arma<strong>do</strong>s oposicionistas, fosse associada a um ataque<br />

das tropas hitlerianas” ?38 . É evid<strong>en</strong>te que se percebia que o “perigo espanhol”<br />

não vinha só <strong>do</strong>s regimes hostis ao Esta<strong>do</strong> Novo chefia<strong>do</strong> por Salazar e que, portanto,<br />

os lat<strong>en</strong>tes interesses hegemónicos de Espanha sobre a P<strong>en</strong>ínsula podiam<br />

despertar sempre que as condições políticas se mostrassem favoráveis. Não se<br />

pod<strong>en</strong><strong>do</strong> controlar essa ev<strong>en</strong>tualidade, convinha preparar o país para reagir, at<strong>en</strong>d<strong>en</strong><strong>do</strong>,<br />

obviam<strong>en</strong>te, às compon<strong>en</strong>tes militar e, sobretu<strong>do</strong>, diplomática e apostan<strong>do</strong><br />

numa educação fortem<strong>en</strong>te nacionalista que vincasse a vontade de se ser<br />

português numa pátria digna <strong>do</strong> esforço <strong>do</strong>s seus antepassa<strong>do</strong>s. Um tal contexto<br />

reforçava, naturalm<strong>en</strong>te, a necessidade de se insistir sobre os mom<strong>en</strong>tos em que<br />

37 Rosas, Fernan<strong>do</strong>, “O Esta<strong>do</strong> Novo” in Mattoso, José, História de Portugal, vol VII, p.296.<br />

38 Rosas, Fernan<strong>do</strong>, “O Esta<strong>do</strong> Novo” in Mattoso, José, História de Portugal, vol VII, p.296.

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