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Impressões Capixabas 165 anos de jornalismo no Espírito Santo

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foi assassinado o presi<strong>de</strong>nte chile<strong>no</strong> Salvador Allen<strong>de</strong>, veio a or<strong>de</strong>m da censura fe<strong>de</strong>ral para que não<br />

se reportasse o ocorrido e para que só fossem feitas <strong>no</strong>tícias elogiosas ao golpe militar daquele país.<br />

Todas as atrocida<strong>de</strong>s e massacres <strong>de</strong>veriam ficar <strong>de</strong> fora dos jornais. Os presos políticos foram<br />

levados ao Estádio Nacional <strong>de</strong> Santiago, on<strong>de</strong> foram separados em celas, torturados e,<br />

muitos <strong>de</strong>les, ali mesmo assassinados. Nessa mesma época, a seleção chilena precisava fazer um<br />

jogo das eliminatórias para a Copa <strong>de</strong> 74 contra a seleção da União Soviética, naquele estádio.<br />

Mas os soviéticos se recusaram a jogar, alegando que não jogavam em campos <strong>de</strong> concentração. No<br />

dia seguinte à publicação <strong>de</strong>ssa <strong>no</strong>tícia, a chefia, preocupada com a repercussão que a<br />

matéria po<strong>de</strong>ria causar, chamou a atenção do editor <strong>de</strong> Esporte, Álvaro José Silva: “Álvaro, você<br />

viu o que você publicou?”. “O que eu ia fazer? Dizer que o jogo vai acontecer?”, retrucou o editor.<br />

“Mas não podia ter tirado o campo <strong>de</strong> concentração?”, reclamou a temerosa chefia. “Ih, passou<br />

batido, nem vi!”, constatou o “<strong>de</strong>sligado” editor.<br />

Alguns jornalistas eram chamados a prestar esclarecimentos quanto ao teor do material<br />

publicado e, às vezes, até ficavam dois ou três dias presos para serem intimidados, como foi o caso<br />

do chargista Milson Henriques. Milson fazia diariamente a charge para A Gazeta e, quando estava<br />

preso, era substituído pelo também chargista Janc. Desse modo, a população tomava<br />

conhecimento da sua prisão, o que, para ele, era uma garantia <strong>de</strong> que não seria torturado. “Toda a<br />

cida<strong>de</strong> sabia que eu estava preso. Eu não tinha medo <strong>de</strong> apanhar, por exemplo, porque eles não iam<br />

me bater ou me matar, já que todo mundo sabia que estava preso.<br />

Essa certeza me tirou muito do medo que eu po<strong>de</strong>ria ter. E, na época, A Tribuna era um jornal<br />

peque<strong>no</strong>. Então era A Gazeta que mandava mesmo”, conta Milson Henriques. Os jornalistas,<br />

<strong>de</strong> certa forma, tinham essa segurança <strong>de</strong> serem respaldados pelo respeitável <strong>no</strong>me A Gazeta, o<br />

veículo para o qual trabalhavam.<br />

No meio <strong>de</strong>sse caminho, também havia os interesses da empresa.<br />

A convicção política da diretoria <strong>de</strong> A Gazeta ia contra os i<strong>de</strong>ais da gran<strong>de</strong> maioria dos<br />

jornalistas <strong>de</strong> sua redação, que era <strong>de</strong> esquerda. “As pessoas mais inteligentes eram <strong>de</strong> esquerda.<br />

Então eles [os diretores] tinham que se ren<strong>de</strong>r às pessoas inteligentes, e as pessoas inteligentes,<br />

para sobreviver, tinham que se ren<strong>de</strong>r a eles”, reflete Milson Henriques. Jornalistas e editores<br />

se viam obrigados a seguir algumas <strong>de</strong>terminações. Existia a linha editorial do jornal e o que a

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