18.04.2013 Views

programa de pós-graduação em desenvolvimento regional - Unisc

programa de pós-graduação em desenvolvimento regional - Unisc

programa de pós-graduação em desenvolvimento regional - Unisc

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

237<br />

[...] a) que mais convinha, colher o café ou <strong>de</strong>ixá-lo apodrecer nos arbustos,<br />

abandonando parte das plantações como uma fábrica cujas portas se fecham durante<br />

a crise?<br />

b) caso se <strong>de</strong>cidisse colher o café, que <strong>de</strong>stino <strong>de</strong>veria dar-se ao mesmo? Forçar o<br />

mercado mundial, retê-lo <strong>em</strong> estoques ou <strong>de</strong>struí-lo?<br />

c) caso se <strong>de</strong>cidisse estocar ou <strong>de</strong>struir o produto, como financiar essa operação?<br />

Isto é, sobre qu<strong>em</strong> recairia a carga, caso fosse colhido o café 588 ?<br />

Analisando esse aspecto, v<strong>em</strong>os que o governo se viu num impasse, pois a economia<br />

havia <strong>de</strong>senvolvido uma série <strong>de</strong> mecanismos, segundo os quais a classe dirigente cafeeira<br />

conseguia transferir para o resto da população o peso da carga das quedas na produção<br />

cafeeira. Logo, a solução esperada pela elite do café era a que ela não arcasse com o custo<br />

total do ônus da crise que se instalara 589 .<br />

Dessa forma, constatamos que a liquidação das reservas cambiais brasileiras e a falta<br />

<strong>de</strong> perspectiva <strong>de</strong> financiamento das safras para o futuro aceleraram mais ainda a queda<br />

internacional do preço do café e, junto com ele, também o <strong>de</strong> todos os <strong>de</strong>mais produtos<br />

primários comercializados na época. O Brasil passou pelos efeitos <strong>de</strong> duas crises, a da procura<br />

e da oferta do café, as quais favoreciam as organizações intermediárias no comércio do<br />

produto. Estas, percebendo a <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong> da posição da oferta, pu<strong>de</strong>ram transferir para os<br />

produtores brasileiros a totalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua parcela <strong>de</strong> perdas causada pela crise geral,<br />

<strong>de</strong>monstrando que o po<strong>de</strong>r econômico dos fazen<strong>de</strong>iros continuava a se sobrepor aos interesses<br />

da maioria da população.<br />

O impasse dos cafeicultores não se restringiu somente ao aspecto da produção e do<br />

preço, mas também envolv<strong>em</strong> as questões <strong>de</strong> dívidas e <strong>de</strong> créditos. A estrutura fundiária e<br />

econômica do café foi <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> e, mesmo que a crise tenha atinjido seu ponto<br />

máximo e apresentado sinais <strong>de</strong> <strong>de</strong>clínio, continuou intensa e representativa da base<br />

econômica do Brasil. Reconhec<strong>em</strong>os que as mudanças políticas ocorridas a<strong>pós</strong> 1930, pelas<br />

quais os grupos governamentais continuavam a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r os interesses agrícolas, b<strong>em</strong> como os<br />

acordos comerciais feitos com o exterior, no sentido <strong>de</strong> proteger a exportação do café e <strong>de</strong><br />

outros produtos nativos, começaram a dar sinais <strong>de</strong> <strong>de</strong>clínio, o que ocorreu a partir da II<br />

588 FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. São Paulo: Nacional, 1968. p. 196.<br />

589 Ibid., p.197.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!