You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
2.<br />
3.<br />
4.<br />
Evoco desde logo uma descoberta contundente <strong>para</strong> todos da<br />
área de criação musical: a música não existe. Ou seja, a ideia<br />
de que existe uma música no mundo é uma ideia falsa. No máximo,<br />
se pode dizer que existem músic<strong>as</strong> no mundo, algum<strong>as</strong><br />
radicalmente diferentes d<strong>as</strong> outr<strong>as</strong>, a ponto de colocar a própria<br />
unidade do conceito em risco. Obviamente, também não<br />
existe a cultura, existem <strong>as</strong> cultur<strong>as</strong>. A diversidade cultural<br />
estabelece uma crítica sobre a manipulação do mérito – exige<br />
o alargamento do conceito. Então, essa ideia de que o mérito é<br />
uma questão política nos traz a percepção radical de que não é<br />
coisa neutra que paira sobre nós. O mérito é algo que faz parte<br />
de uma construção social e histórica.<br />
A ideia de mérito como algo absoluto é uma ideia tapada, contra<br />
a qual temos que colocar alternativ<strong>as</strong>; é uma ideia que nos<br />
provoca, que provoca a humanidade. É algo que está incrustado<br />
no próprio cansaço do capitalismo e de su<strong>as</strong> recompens<strong>as</strong>. M<strong>as</strong><br />
como é que vamos sair de um sistema de recompensa direta?<br />
Sua eficácia é inegável. Como é que vamos sair desse sistema de<br />
mérito que circunscreve a criação, a novidade e a emancipação?<br />
Como é que vai se conceber uma universidade que não seja uma<br />
universidade no sistema de recompens<strong>as</strong> (inclusive contábeis,<br />
de créditos e diplom<strong>as</strong>)? Uma universidade que se entrincheira<br />
dentro de muros (reais e metafóricos), e diz, ‘nós somos o mérito,<br />
nós somos o conhecimento, e o que não está aqui, não é’?<br />
Como é que se sai disso <strong>para</strong> um modelo de construção dialógica<br />
de reconhecimento da produção de conhecimento em outros<br />
lugares, e de reconhecimento dessa produção outra? Como é<br />
que se investe no mérito dos diálogos e d<strong>as</strong> interações? Estamos<br />
aí, parece-me, no cerne da questão: a perspectiva de gestão da<br />
cultura em uma cidade como Salvador. Uma cidade que fundiu<br />
heranç<strong>as</strong> culturais tão distint<strong>as</strong>. Consta que no início do século<br />
98 paulo costa lima