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pode demarcar a cultura e a vida partilhada d<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> por uma<br />
linha... é o que tem acontecido na África e mesmo em algum<strong>as</strong><br />
regiões da Europa.<br />
Nós criamos, então, um sentido novo de geografia, que,<br />
num belo estudo, cujo acesso podemos agradecer, em parte, à<br />
Professora Eneida Leal Cunha, do Stuart Hall, 4 tece-se algum<strong>as</strong><br />
reflexões profund<strong>as</strong> sobre o sentido de diáspora, ele está <strong>para</strong><br />
além do sentido da geografia física, ele se constitui exatamente a<br />
partir de um sentido de cultura, de pertencimento, de partilha; é<br />
um sentido diferenciado no que diz respeito à <strong>as</strong>sunção do grupo<br />
ou da tribo, não é aquele sentido de identidade que até então se<br />
utilizava, tipo “estudar os indiozinhos”, “estudar os neguinhos”,<br />
“estudar a tribozinha”, não, é um sentido novo, diferenciado,<br />
marcado, claro, por esse cenário novo, como sempre a questão<br />
do espaço presente.<br />
Quero voltar um pouco <strong>para</strong> Salvador, porque acho que o desabafo<br />
do Ruy Espinheira é muito importante e que nós devemos<br />
pegar esse vácuo. O carnaval sempre foi uma coisa importante na<br />
cidade de Salvador; sempre foi um espaço de luta simbólica e social<br />
em Salvador. Anteriormente, somente a elite podia transitar no espaço,<br />
ou cenário central da festa. Então, a grande população ficava<br />
de parte olhando, quer dizer, recebendo inclusive parte daquel<strong>as</strong><br />
simbologi<strong>as</strong> tant<strong>as</strong>, daquel<strong>as</strong> ideologi<strong>as</strong> tant<strong>as</strong>. Com a invenção,<br />
então, da Embaixada, tudo vai mudar, nós entramos no século<br />
xx com uma grande mudança, a mudança “espacializada”. Novos<br />
sentidos de espaço vão se constituir, com ess<strong>as</strong> nov<strong>as</strong> possibilidades,<br />
e começamos ali um processo de multiplicação e proliferação<br />
dessa participação popular. Muito se fala por aí, o Fred Góes fala<br />
por aí que o trio elétrico é que ocupou, levou o povo <strong>para</strong> a praça,<br />
e não foi nada disso! Falar isso é tirar um mérito desse povo todo,<br />
dos “Filhos de Gandhy” daquela época, do “Vai Levando” daquela<br />
época, que ocupou o espaço popular, muito antes da década de<br />
cinquenta; e <strong>as</strong> fotos de Pierre Verger provam isso, claramente.<br />
4<br />
hall, Stuart.<br />
Da diáspora:<br />
Identidades e<br />
mediações culturais.<br />
Belo Horizonte: ufmg;<br />
Representações da<br />
unesco no Br<strong>as</strong>il, 2003.<br />
diversidade e cultur<strong>as</strong> urban<strong>as</strong>: uma breve reflexão 185