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204 gey espinheira<br />
de largo”, e pela transformação do “carnaval em grande negócio”,<br />
priorizando a negociação com empres<strong>as</strong> de todos os tipos em<br />
relação à cultura popular que se manifestava na livre invenção<br />
e criação da fant<strong>as</strong>ia. O fim da fant<strong>as</strong>ia foi decretado pelo princípio<br />
de realidade da economia, na forma de mercantilização da<br />
criatividade, sob o comando unificado de uma <strong>as</strong>sociação empresarial<br />
dos grandes blocos de trio elétrico, marca do carnaval<br />
de Salvador, tecnologia de comunicação musical de mobilização<br />
de m<strong>as</strong>sa em expressão corporal no espaço público da cidade.<br />
O folião “compra” a sua fant<strong>as</strong>ia, o seu abadá, como p<strong>as</strong>saporte<br />
<strong>para</strong> entrar e participar em um bloco de trio e lá, devidamente<br />
“fardado”, segue ao comando dos animadores que regem a forma<br />
de expressão do corpo e, quiçá, da alma.<br />
O espaço urbano dos circuitos carnavalescos fica à disposição<br />
dos administradores da cultura do lúdico, agora sob a racionalidade<br />
instrumental do lucro empresarial a impor modelos de<br />
atuação de todos e do próprio uso da cidade. A política cultural<br />
é no sentido de fazer da cidade um cenário temático <strong>para</strong> turista<br />
ver e participar na compra d<strong>as</strong> emoções colocad<strong>as</strong> no mercado de<br />
entretenimento contemplativo e participativo, sendo esta opção<br />
ainda que orquestrada por “maestros” do corpo empresarial da<br />
indústria cultural.<br />
Mesmo em uma manisfestação lúdica, considerada a “maior<br />
festa do mundo”, como registra o veículo de comunicação da<br />
Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, inscrita no Guiness<br />
Book (Viver Bahia! p. 9), a segregação d<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> é evidente,<br />
salta aos olhos, e é quando <strong>as</strong> cl<strong>as</strong>ses socialmente dominantes<br />
dominam o espaço público d<strong>as</strong> ru<strong>as</strong> e praç<strong>as</strong>, com su<strong>as</strong> cord<strong>as</strong> de<br />
isolamento de seus blocos, obrigando <strong>as</strong> camad<strong>as</strong> populares às<br />
margens estreit<strong>as</strong> e dens<strong>as</strong> dos excluídos. O rio claro corre por<br />
entre margens escurecid<strong>as</strong> e neste c<strong>as</strong>o é o rio que comprime <strong>as</strong><br />
margens e é esse o efeito dessa organização social, da sociedade<br />
de cl<strong>as</strong>ses, em que a solidez desse rio se se<strong>para</strong> de su<strong>as</strong> margens