You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
entrevista com essa expressão: “ganhando a <strong>para</strong>da”. O professor<br />
Milton Santos, todo formal, falando “ganhando a <strong>para</strong>da<br />
<strong>para</strong> a cultura de m<strong>as</strong>sa”, em que nível? Em que perspectiva?<br />
Em que dimensão? Existe a metrópole, e ela é produtora de um<br />
volume de cultura popular tão imenso que, por mais poderosa<br />
que seja a cultura de m<strong>as</strong>sa, ela não consegue apreendê-la, nem<br />
capturar essa cultura popular. Não é porque a cultura popular<br />
é boa nem porque a cultura popular é má, é porque a cultura<br />
de m<strong>as</strong>sa não consegue capturar toda quantidade e diversidade<br />
dessa cultura popular.<br />
Então, é nessa perspectiva que eu creio que <strong>as</strong> polític<strong>as</strong> de<br />
preservação desses patrimônios da cidade serão polític<strong>as</strong> sempre<br />
relativ<strong>as</strong>... Não digo fáceis, porque não tem nada fácil, são polític<strong>as</strong><br />
relativ<strong>as</strong>, os caminhos não são relativamente fáceis. Onde se<br />
localizam ess<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> durante o carnaval, de que perspectiva<br />
el<strong>as</strong> falam? Dou um exemplo claro. O camarote do ex-ministro<br />
da cultura que discursa em prol da preservação do patrimônio<br />
imaterial, por que ele está na Barra? Aliás, “por que tem camarote<br />
de ministro?” é uma outra pergunta. Camarote de ministro não<br />
deveria existir, em minha opinião. M<strong>as</strong>, já que existe, então por<br />
que ele se localiza na Barra?<br />
Então, há uma questão fundamental também envolvendo<br />
essa captura dos setores populares, que <strong>as</strong> polític<strong>as</strong> culturais<br />
viriam minorar essa questão, o que é isto? É a questão da própria<br />
política cultural funcionando como um fator de fiscalização<br />
desse chamado patrimônio imaterial, de que forma? É ter mecanismos<br />
que permitam que hoje grupos culturais expressivos,<br />
de manifestação cultural expressiva, não sejam capturados, ou<br />
por polític<strong>as</strong> de Estado de cooptação, ou capturados pelo poder<br />
econômico. Digo isso aí voltando <strong>para</strong> o carnaval de Salvador.<br />
Boa parte de donos de blocos pequenos sobrevive às cust<strong>as</strong> dess<strong>as</strong><br />
polític<strong>as</strong> culturais de carnaval. Um dinheirinho aqui, outro ali,<br />
uma coisinha aqui, outra ali. E, enquanto expressões verdadei-<br />
carnaval, cultura urbana e polític<strong>as</strong> culturais em salvador 53