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64 frederico mendonça<br />
mantenha o que já tinha antes, a exemplo d<strong>as</strong> pedr<strong>as</strong> portugues<strong>as</strong><br />
do Porto da Barra que, de repente, viraram um elemento<br />
cultural, uma referência cultural muito importante, enquanto,<br />
<strong>para</strong> outros, nem tanto <strong>as</strong>sim. Então, a questão que se coloca é:<br />
o que constitui uma referência cultural num momento em que<br />
a sociedade está mudando tão rapidamente?<br />
Não estou trazendo reflexões acadêmic<strong>as</strong>, m<strong>as</strong> reflexões de<br />
quem está na gestão de equipes acostumad<strong>as</strong> aos órgãos de patrimônio,<br />
como o iphan e o ipac. Não se pode falar de política<br />
patrimonial <strong>para</strong> Salvador porque não temos, não é verdade?<br />
Infelizmente. M<strong>as</strong> esperamos ter, em breve.<br />
Então, com quê nos defrontamos? Tivemos uma formação e<br />
uma prática muito voltad<strong>as</strong> <strong>para</strong> os monumentos, os monumentos<br />
dissociados de dinâmica urbana. Já estou entrando um pouco<br />
no tema de amanhã, que são <strong>as</strong> polític<strong>as</strong>, m<strong>as</strong> não temos como<br />
fugir disso. Como é que vamos intervir em um contexto tão mutável<br />
e, ao mesmo tempo, com quadros técnicos que não foram<br />
formados <strong>para</strong> entender o monumento, a referência cultural de<br />
determinados grupos culturais, no âmbito de uma dinâmica urbana,<br />
também, muito intensa. Temos vivenciado essa dificuldade<br />
no ipac <strong>as</strong>sim como no diálogo com o iphan e na <strong>as</strong>sistência que<br />
damos a municípios que nos solicitam norm<strong>as</strong> <strong>para</strong> proteger a<br />
ambiência e a visibilidade – que são <strong>as</strong> du<strong>as</strong> palavr<strong>as</strong> chaves <strong>para</strong><br />
a preservação – dos monumentos tombados ou daqueles que os<br />
grupos sociais consideram merecedores de proteção.<br />
Esse desafio perp<strong>as</strong>sa não apen<strong>as</strong> os órgãos públicos, m<strong>as</strong>,<br />
também, os grupos sociais. Um grande exemplo é, ainda, o Porto<br />
da Barra, pois mostra como os grupos sociais estão divididos em<br />
relação a essa abordagem. Temos enfrentado essa dificuldade,<br />
internamente no ipac, com <strong>as</strong> oficin<strong>as</strong> de educação patrimonial,<br />
quando percebemos o nosso discurso, o nosso escopo teórico<br />
<strong>para</strong> abordar essa questão. Os grupos sociais precisam urgentemente<br />
de mais estofo, de mais discussão, porque esse é um tema