Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Então, a questão do espaço sempre foi fundamental na nossa<br />
luta intersticial nessa cidade e eu não tenho dúvida de que, em<br />
outr<strong>as</strong> cidades, ess<strong>as</strong> cois<strong>as</strong> também transitaram um pouco por aí.<br />
Nós terminamos, então, a década de cinquenta, em 59, com o<br />
surgimento da Federação de Grupos Carnavalescos aqui, o que<br />
denota exatamente a proliferação desses clubes. Começamos a<br />
década de sessenta com o surgimento de blocos já influenciados<br />
por outr<strong>as</strong> cois<strong>as</strong>, a exemplo dos blocos de índios, como o Apaxes<br />
do Tororó, e, logo depois, na década de setenta, temos o surgimento<br />
do Ilê Ayê <strong>para</strong> reconfigurar a cidade. O Ilê saiu completamente<br />
espremido, numa espécie de uma “kombizinha”, num<br />
fusca, sei lá. Bom, m<strong>as</strong> isso reconfigurou a cidade. Nós chegamos<br />
à década de oitenta, então, com um fenômeno novo, que estava<br />
começando a surgir na cidade de Salvador, <strong>para</strong> além do espaço.<br />
Possibilidades outr<strong>as</strong>, já elétric<strong>as</strong>, de se exalar, emanar, dizer<br />
cois<strong>as</strong>... e aqui estava se implantando, então, um certo mercado<br />
fonográfico, esse mercado fonográfico colado aí, já com certa,<br />
infelizmente, certa costura... Com uma nova política que estava<br />
aqui se configurando. Na década de oitenta, também se cria e<br />
se fortalece aqui a Rede Bahia – a Rede Bahia, olha a arrogância.<br />
A Rede Bahia, que não é nem emissora, <strong>as</strong>socia-se a uma grande<br />
rede nacional e cria um complexo de produção de cultura local,<br />
terrível, no qual eles determinam até os estacionamentos, tudo.<br />
Surge a Penta Produções – sem mei<strong>as</strong> palavr<strong>as</strong> (um estudioso tem<br />
que dizer a verdade), e se costura, então, uma política de produção<br />
de cultura pobre, paupérrima, e se enfia isso goela abaixo.<br />
Na minha c<strong>as</strong>a, eu tinha que desligar o rádio, <strong>para</strong> a minha<br />
filha não ouvir <strong>as</strong> lam<strong>as</strong> que entravam por lá. Música é coisa séria,<br />
tem que existir uma política mais coerente, mais séria, porque a<br />
música invade a sua c<strong>as</strong>a. Eu sempre comento: você pode pegar<br />
um livro e colocar lá em cima, seu filhinho não pode ainda ler<br />
aquele livro. Está lá o livro, m<strong>as</strong> a música invade sua c<strong>as</strong>a, então<br />
a coisa é seríssima.<br />
186 antônio jorge victor dos santos godi