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<strong>Polític<strong>as</strong></strong> culturais da memória<br />
e do esquecimento<br />
Tome-se o exemplo da recuperação arquitetônica e urbanística<br />
dos conjuntos de c<strong>as</strong>arios históricos de Salvador. Em todos eles a<br />
população residente foi retirada, “inconsentida” em permanecer,<br />
como se estivesse fora do seu lugar, tão logo se dava a valorização<br />
urbana, estética e, consequentemente, imobiliária desses lugares.<br />
Em dois artigos sucessivos sobre <strong>as</strong> polític<strong>as</strong> de restauração<br />
de sítios históricos na América Latina (azevedo, 2004;<br />
espinheira, 2005), considerando a experiência do Pelourinho,<br />
em Salvador-Bahia, e de outros, no Equador, ficou patente a intervenção<br />
da Cultura na cultura da vida cotidiana, promovendo<br />
imposições e modificações de prátic<strong>as</strong> populares, af<strong>as</strong>tando-<strong>as</strong><br />
como indesejáveis aos padrões turísticos internacionais, cujo<br />
lema é buscar a segurança, do conhecido em seu próprio país,<br />
em lugares diferentes. Ou seja, o já conhecido no desconhecido,<br />
a padronização que tranquiliza. Assim, a diversidade cultural<br />
tende a se moldar à semelhança em que, em lugares diferentes,<br />
encontra-se o que é igual no local de origem do viajante. Mundo<br />
repetitivo, reproduzido na domesticação da cultura popular.<br />
As cidades e seus lugares que se mostram ao turismo são<br />
aquel<strong>as</strong> domesticad<strong>as</strong> pel<strong>as</strong> instituições oficiais da cultura, que<br />
exilam <strong>as</strong> representações populares ou <strong>as</strong> transformam em exotismos<br />
de demonstração, a exemplo d<strong>as</strong> representações de danç<strong>as</strong><br />
do candomblé em restaurantes e c<strong>as</strong><strong>as</strong> de shows turísticos, ou<br />
os tipos “bahian<strong>as</strong>” estilizad<strong>as</strong> no Centro Histórico de Salvador,<br />
fazendo <strong>as</strong> figurações epocais. Aí, no c<strong>as</strong>o, <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> de cor são<br />
recrutad<strong>as</strong> <strong>para</strong> o “realismo inventado” pela cultura do turismo.<br />
No processo de valorização dos espaços urbanos, dá-se também<br />
o processo de substituição d<strong>as</strong> populações, enfatizando<br />
racionalmente a segregação social como política cultural. Como<br />
se deu em Salvador, com a conhecida “desfavelização d<strong>as</strong> fest<strong>as</strong><br />
cultura, cidade e democracia: o jogo da cultura no mundo contemporâneo 203