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78 valdina pinto<br />
primeir<strong>as</strong> palavr<strong>as</strong>, ia <strong>para</strong> a Igreja do Bonfim, eu e meu irmão<br />
somos padrinhos da nossa irmã caçula e eu me lembro que quando<br />
ela estava nessa f<strong>as</strong>e, minha mãe chamou a mim e meu irmão<br />
e disse: tá na hora de levar a Maria Angélica <strong>para</strong> o Bonfim; não<br />
era por causa da Igreja do Bonfim, m<strong>as</strong> é porque, na tradição<br />
Congo, tem-se o costume de considerar o morro, uma elevação,<br />
como sendo de lemba (Oxalá), e de levar <strong>as</strong> crianç<strong>as</strong>, durante o<br />
seu processo de desenvolvimento, quando estão se firmando<br />
<strong>para</strong> dar os primeiros p<strong>as</strong>sos, <strong>para</strong> o morro de lemba. Estou contando<br />
isso <strong>para</strong> se ver a importância que a gente dá a um morro,<br />
a uma colina; m<strong>as</strong> aí, como até hoje acontece, se apropriam da<br />
nossa cultura, dão outr<strong>as</strong> form<strong>as</strong> e aí a cultura negra vira outra<br />
coisa. Deve acontecer o mesmo com os nossos irmãos indígen<strong>as</strong>.<br />
Então, tem que se ter cuidado. O Br<strong>as</strong>il, no seu desenvolvimento,<br />
se não fosse essa coisa tão perversa e besta que foi a escravidão<br />
e depois com todo o processo de discriminação, de racismo que<br />
impera até hoje, se procur<strong>as</strong>se construir essa nação com <strong>as</strong> cultur<strong>as</strong>,<br />
com <strong>as</strong> tradições, com os jeitos dos índios e dos negros,<br />
seria uma nação muito mais humana e uma nação justa, com<br />
equidade, a gente não tem uma nação <strong>as</strong>sim porque justamente<br />
fomos deixados de fora.<br />
Então, se hoje a gente está tendo esse espaço <strong>para</strong> construir,<br />
<strong>para</strong> reconstruir, <strong>para</strong> desconstruir, uma série de cois<strong>as</strong> errad<strong>as</strong>,<br />
vamos atentar <strong>para</strong> isso... Se a gente chega ness<strong>as</strong> comunidades<br />
por esta Bahia afora e vai se desenvolver projetos, vocês músicos<br />
que estão aqui, que já estão na academia, a academia tem<br />
que ficar a serviço disso, o conhecimento dessa academia tem<br />
que ser construído “com”, não tem que ser “<strong>para</strong>”, tem que ser<br />
com! Quando fizerem seus projetos, não façam seus projetos<br />
“<strong>para</strong>”, façam seus projetos “com”. Vai lá, vê aquele sujeito quem<br />
é, senta junto, não faz a coisa dentro da Universidade e depois<br />
vai <strong>para</strong> lá brincar, porque não vai dar certo, por isso, um bocado<br />
de coisa, não tem dado certo. Tem que planejar junto; tem que