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sonhos de uma unidade cultural latino-americana, de um encontro<br />
de todos os povos oprimidos, ligados pelo sentimento<br />
comum da opressão e do desejo da liberdade ou, de todos com<br />
todos, na afirmação de que “um outro mundo é possível”.<br />
3<br />
“Le Poète est semblable<br />
au prince des nuées /<br />
Que hante la tempête<br />
et se rit de l’archer; /<br />
Exilé sur Le sol au<br />
milieu des huées, /Ses<br />
ailes de géant<br />
l’empêchent de<br />
marcher”. (Charles<br />
Baudelaire: l’albatros.<br />
Fleurs du mal, 1858)<br />
A águia, o condor e o albatroz<br />
A águia americana e o condor dos Andes abriram su<strong>as</strong> <strong>as</strong><strong>as</strong> sobre<br />
os países latino-americanos e instauraram o Estado de terror por<br />
décad<strong>as</strong>. Como o albatroz, na metáfora poética de Baudelaire,<br />
estavam <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> de espírito livre, que vagam nos sonhos de<br />
liberdade, com dificuldades de se mover 3 na estreiteza d<strong>as</strong> ditadur<strong>as</strong><br />
militares. O campo da cultura tornou-se lugar de resistência<br />
e a arte <strong>as</strong>sumiu o importante papel de comunicar esses<br />
sonhos libertários, unindo, de algum modo, a América Latina,<br />
sobretudo através da música, da poesia e da literatura fantástica,<br />
capitaneada por Gabriel Garcia Marquez, Nobel de literatura.<br />
A América Latina, saída do ciclo de ditadur<strong>as</strong> impost<strong>as</strong> pelos<br />
Estados Unidos, nos últimos trinta anos do século vinte, segue<br />
elegendo candidatos com perfis esquerdist<strong>as</strong>, com discursos<br />
radicais, em termos de mudanç<strong>as</strong> de orientação política, privilegiando<br />
<strong>as</strong> m<strong>as</strong>s<strong>as</strong>, como nos c<strong>as</strong>os do Br<strong>as</strong>il, Bolívia, Venezuela<br />
e Equador. E personagens femininos, no Chile e na Argentina,<br />
quebrando tradições com promess<strong>as</strong> de inovações, sempre mais<br />
à esquerda. A diversidade étnica de países, como a Bolívia e o<br />
Equador, confrontam diferentes grupos, sobretudo os descendentes<br />
indígen<strong>as</strong> e os brancos eurodescendentes, que sempre<br />
foram <strong>as</strong> elites dominantes. No Br<strong>as</strong>il, um fato inusitado: um<br />
operário, sem nível superior, chega à presidência da república e<br />
é reeleito, consolidando uma liderança pessoal jamais vista. É<br />
uma resposta d<strong>as</strong> cidades e da cultura d<strong>as</strong> cidades.<br />
Em cada um desses países, o perfil do presidente ou da presidenta<br />
é peculiar, não se encontrando nenhuma homogeneidade<br />
196 gey espinheira