Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
2<br />
virilio, P. A bomba<br />
informática. São Paulo:<br />
Estação Liberdade,<br />
1999.<br />
A palavra-chave <strong>para</strong> entender a cidade enquanto fenômeno<br />
cultural parece ser, portanto, articulação. Articulação de diferentes<br />
conteúdos e de diferentes idei<strong>as</strong> de cultura.<br />
É preciso, por outro lado, negar categoricamente o caráter<br />
ontológico da cultura. “A” cultura é uma invenção burguesa e,<br />
portanto, trabalhar a cidade como fenômeno cultural implica<br />
partir justamente da possibilidade de manifestação de outr<strong>as</strong><br />
idei<strong>as</strong> de cultura na cidade.<br />
É necessário também admitir a manifestação e o embate de<br />
diferentes idei<strong>as</strong> de cultura na cidade. O que há, na verdade, são<br />
múltipl<strong>as</strong> cidades e múltipl<strong>as</strong> idei<strong>as</strong> de cultura. De um lado, uma<br />
cidade que se “descola” da realidade dos lugares, que se autossegrega<br />
em condomínios, grandes shoppings centers, centros<br />
empresariais etc., seus habitantes priorizando o automóvel como<br />
meio de transporte, servidos naturalmente por grandes avenid<strong>as</strong>,<br />
os eixos necessários deste descolamento mencionado e desta<br />
estratégia de autossegregação.<br />
Então, aqui a ideia de centralidade vai ganhar novos sentidos<br />
que vão negar a cidade como lugar de articulação e como lugar de<br />
encontro. Est<strong>as</strong> centralidades são centralidades hierárquic<strong>as</strong>, articulad<strong>as</strong><br />
em rede e sob a lógica da produção capitalista, centralidades<br />
da produção e do consumo, inclusive do consumo cultural.<br />
Paul Virilio 2 diz que nest<strong>as</strong> centralidades não existe mais<br />
“aqui”, tudo é “agora”, em decorrência da compressão do tempo<br />
e da aceleração d<strong>as</strong> velocidades. Tudo acontece sem que seja<br />
necessário partir, ir ao encontro dos seres à nossa volta, ir aos<br />
lugares que nos rodeiam. A interação virtual parece superar toda<br />
ação e todo ato concreto.<br />
A questão que se coloca aqui é como fazer frente a este descolamento<br />
e dar novos sentidos à ideia de cidade como fenômeno<br />
cultural, como centralidade cultural. Isso nos leva também à<br />
ideia de centralidades vivid<strong>as</strong>, que se constituem a partir da<br />
esfera da reprodução da vida e do cotidiano de relações socio-<br />
30 angelo serpa