Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
de Todos os Santos, a Cidade do Salvador, a Soterópolis em que<br />
todos estão salvos, ainda que não saibamos de quê. A terra da<br />
felicidade não é <strong>para</strong> todos. M<strong>as</strong> a cultura nos oferece uma ideia<br />
difusa de baianidade, essa singularidade coletiva que nos uniria<br />
em um modo peculiar de ser. E como uma crença acreditada com<br />
fé, a baianidade p<strong>as</strong>sa a existir como um fato concreto: então,<br />
“sorria, você está na Bahia”. Parodiando o poeta, concluímos:<br />
uma rima, não uma solução.<br />
M<strong>as</strong> vamos mais uma vez recorrer a Eagleton (2005b, p. 75),<br />
<strong>para</strong> situar o fenômeno da culturalização da pós-modernidade<br />
na controvérsia d<strong>as</strong> diferenciações culturais.<br />
Era irônico que o pensamento pós-moderno cri<strong>as</strong>se tamanho<br />
fetiche em torno da diferença, dado que seu próprio impulso era<br />
apagar <strong>as</strong> distinções entre imagem e realidade, verdade e ficção,<br />
história e fábula, ética e estética, cultura e economia, arte culta<br />
e arte popular, esquerda e direita polític<strong>as</strong>.<br />
É com ironia que Eagleton fala d<strong>as</strong> contradições do mundo e,<br />
no mundo contemporâneo, no jogo d<strong>as</strong> ideologi<strong>as</strong>, tal como o<br />
anúncio pomposo do fim da história: “mais tarde ficaria claro<br />
que os fundamentalist<strong>as</strong> islâmicos não estavam prestando suficiente<br />
atenção quando esse anúncio foi feito”. (2005 b, p. 75)<br />
E na sequência, escreve:<br />
A “política cultural” havia n<strong>as</strong>cido. M<strong>as</strong> a fr<strong>as</strong>e é profundamente ambígua.<br />
Há muito havia sido reconhecido em círculos radicais que a mudança política<br />
tinha que ser “cultural” <strong>para</strong> ser efetiva. Qualquer mudança política<br />
que não se entranhe nos sentimentos e n<strong>as</strong> percepções d<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> – que<br />
não obtenha seu consentimento, engaje seus desejos e permeie seu senso<br />
de identidade – está provavelmente fadada a não durar muito.<br />
M<strong>as</strong> vamos um pouco mais adiante e pensemos na largueza<br />
do mundo e do tempo, na confluência de forç<strong>as</strong> que nos fizeram<br />
do modo que somos, nestes últimos anos, a envolver desejos e<br />
cultura, cidade e democracia: o jogo da cultura no mundo contemporâneo 195