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1<br />
Uma livre adaptação do<br />
poema “Os ombros<br />
suportam o mundo”, de<br />
Carlos Drummond de<br />
Andrade.<br />
1<br />
urbegente: Salvador<br />
em múltipl<strong>as</strong><br />
linguagens (2006).<br />
2<br />
Cf: poe, Edgar A.<br />
O homem da multidão.<br />
Tradução de Dorothée<br />
de Bruchard. Edição<br />
bilíngue. Porto Alegre:<br />
Paraula, 1993.<br />
Estamos aqui <strong>para</strong> conversar um pouco sobre Diversidade<br />
e Cultur<strong>as</strong> Urban<strong>as</strong>, uma responsabilidade muito grande, haja<br />
vista que não sou exatamente aquele profissional que se diz competente<br />
<strong>para</strong> tal. M<strong>as</strong>, de qualquer forma, meu corpo comporta o<br />
mundo “e ele não pesa mais que a mão de uma criança”. 1 E meu<br />
corpo comporta outr<strong>as</strong> cois<strong>as</strong> também, outr<strong>as</strong> tant<strong>as</strong> vid<strong>as</strong>...<br />
Ele compartilha também com outros, outr<strong>as</strong> tant<strong>as</strong> vid<strong>as</strong>. Meu<br />
corpo, <strong>para</strong> além do corpo, aquilo que eu carrego nele, partilha<br />
com outr<strong>as</strong> vid<strong>as</strong> e vid<strong>as</strong>, e vid<strong>as</strong> e vid<strong>as</strong>... em determinados<br />
lugares e espaços, nem sempre arquitetados e projetados por<br />
nós que aqui estamos.<br />
Essa é, de certa forma, a situação da nossa cidade de Salvador,<br />
e é um pouco a situação d<strong>as</strong> dimensões metropolitan<strong>as</strong>. Lembrome<br />
sempre de um velho e clássico sociólogo, George Simmel, que<br />
dizia que, na dimensão agonística d<strong>as</strong> metrópoles, o homem olha<br />
muito, escuta muito e fala pouco. Na dimensão d<strong>as</strong> cidades, o espaço<br />
urbano e o cruzamento d<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> e d<strong>as</strong> vid<strong>as</strong> tant<strong>as</strong> é um<br />
cruzamento marcado principalmente pela tensão. Em qualquer<br />
cidade que se vá, do mundo moderno – essa construção cultural<br />
que se criou no encontro de povos tantos, essa construção cultural<br />
que se criou dentro de cenários determinados – nós executamos<br />
determinados papéis. Eu me lembro de Erving Goffman,<br />
sociólogo canadense, falando sobre a representação do ‘eu’ na<br />
dimensão da vida; ele vai muito longe, quando fala um pouco<br />
sobre isso. E me lembro do também sociólogo Richard Sennett,<br />
falando sobre os conflitos tantos, n<strong>as</strong> dimensões dos espaços<br />
metropolitanos, de id<strong>as</strong> e vind<strong>as</strong> e encontros, e olhando aqui<br />
<strong>para</strong> a minha colega e parceira Nádia Virginia, que nos deu esse<br />
presente maravilhoso, que é o vídeo “Urbegente”. 2 Eu me lembro<br />
de um texto maravilhoso de Edgar Allan Poe 3 sobre o homem<br />
d<strong>as</strong> multidões, já naquele período, no início de um processo<br />
de metropolização diferenciado... No final do século xix, ele<br />
percebe exatamente o quanto é perigoso emergir na dimensão<br />
182 antônio jorge victor dos santos godi