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Essa legitimação aciona vári<strong>as</strong> esfer<strong>as</strong> e, inclusive, existem propost<strong>as</strong><br />
vind<strong>as</strong> de parte do próprio movimento social hoje, de que<br />
os loteamentos fechados p<strong>as</strong>sem a compor também alternativ<strong>as</strong><br />
<strong>para</strong> a habitação de interesse social.<br />
A questão principal é que a soma ou a justaposição de espaços<br />
privados não faz uma cidade. Essa é uma crise e um drama do<br />
crescimento atual, na medida em que se está abandonando a ideia<br />
mais simples e mais corriqueira de cidade: <strong>as</strong> relações de troca,<br />
de convivência, do encontro do diferente, do coletivo e da possibilidade<br />
de solidariedade e de conflitualidade no espaço urbano.<br />
Em termos da cultura do desperdício, já se está acostumado<br />
a que os objetos – computador, geladeira, fogão, máquina fotográfica<br />
– devam ser trocados a cada três ou quatro anos. Nada<br />
mais dura muito. Tudo tem que ser recorrentemente trocado,<br />
abandonado, e isso está acontecendo também com o espaço da<br />
cidade. A produção infindável de espaço novo, característica de<br />
cert<strong>as</strong> form<strong>as</strong> de crescimento, faz necessariamente sucumbir<br />
áre<strong>as</strong> inteir<strong>as</strong> da cidade. Quanto mais se constrói na vertente<br />
atlântica de expansão de Salvador – Iguatemi, Paralela, Orla,<br />
Lauro de Freit<strong>as</strong> –, mais se esvaziam, na mesma medida, outr<strong>as</strong><br />
áre<strong>as</strong> da cidade. Assim, <strong>as</strong>sistimos à repetição e aceleração de processos<br />
que já esvaziaram áre<strong>as</strong> centrais, como o Comércio aqui<br />
em Salvador. Simplesmente porque não há demanda que seja<br />
capaz de dar conta dessa quantidade de novos objetos que vêm<br />
sendo construídos na cidade. Portanto, a produção se pauta hoje<br />
por uma população inexistente, o que, muito em breve, pode<br />
fazer com que os espaços novos que pontuam nossos horizontes<br />
já sejam, eles mesmos, espaços fant<strong>as</strong>m<strong>as</strong> na cidade. Isso pode<br />
ser visto em vári<strong>as</strong> cidades american<strong>as</strong>, com a última crise, a da<br />
bolha imobiliária, que dev<strong>as</strong>tou enormes áre<strong>as</strong> urban<strong>as</strong>. Então,<br />
ao lado de áre<strong>as</strong> cada vez mais privad<strong>as</strong>, de áre<strong>as</strong> de circulação<br />
extremamente restrit<strong>as</strong> e controlad<strong>as</strong>, nós vamos ter também<br />
áre<strong>as</strong> vazi<strong>as</strong> em noss<strong>as</strong> cidades.<br />
cidade contemporânea e cultura: termos de um imp<strong>as</strong>se? 27