You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
estão <strong>as</strong> seiv<strong>as</strong> de leite que estavam aí e que tiraram, <strong>para</strong> botar<br />
outra coisa que vem não sei de onde”, entende? Isso é burrice,<br />
<strong>para</strong> mim, isso é burrice!<br />
Então, quando for planejar uma cidade, tem que chamar os<br />
antigos, tem que ver o que tem naquela cidade, como é que aquele<br />
povo se relaciona com aquele ambiente natural, o que é que eles<br />
acham da sua mata, da sua água, dessa ou daquela rua... O povo<br />
não é ouvido, <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong>, os elementos, sujeitos d<strong>as</strong> cidades não<br />
são ouvidos; a cidade é planejada lá numa sala, com ar condicionado,<br />
e alguém que na maioria d<strong>as</strong> vezes não tem nada a ver<br />
com aquela cidade, com aquele lugar, que é convidado <strong>para</strong> fazer<br />
um projeto <strong>para</strong> a cidade. Então, isso é um apelo <strong>para</strong> <strong>as</strong> cidades<br />
que ainda não se desenvolveram. Para guardarem algo de sua<br />
memória, de seu patrimônio natural.<br />
A meu ver, o primeiro patrimônio de uma cidade depois do<br />
ambiente natural são os sujeitos daquela cidade, porque se não<br />
tem os sujeitos, <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> ali, cadê a cidade? Às vezes tem uma<br />
praça que já está lá, tem um pequeno caminho; se é <strong>para</strong> pavimentar,<br />
bota o concreto, o cimento no caminho, m<strong>as</strong> deixa a<br />
terra respirar minha gente. Olha, eu fico triste quando vejo <strong>as</strong><br />
praç<strong>as</strong> com tanto concreto, tanto cimento ou sei lá o quê <strong>para</strong><br />
justificar o dinheiro que vai <strong>para</strong> o bolso dos outros, entendeu?<br />
Pelo amor de Deus... E, quanto aos morros, todo mundo vai<br />
<strong>para</strong> a lavagem do Bonfim, a Igreja do Senhor do Bonfim, aquele<br />
morro foi sacralizado, está ali com aquela igreja, porque antes<br />
de ter uma igreja ele já era sagrado <strong>para</strong> os negros, o lançaté de<br />
vovo, o morro de lemba, aquilo ali é coisa do p<strong>as</strong>sado, aí vieram<br />
e botaram a igreja lá em cima. Por que se vai <strong>para</strong> lá? Porque a<br />
colina já era sagrada <strong>para</strong> os africanos. Eu sei que o tempo está<br />
acabando, m<strong>as</strong> eu tenho o que falar.<br />
Quando eu era criança, eu me lembro que, quando a gente<br />
começava a andar, ia <strong>para</strong> a Igreja do Bonfim, m<strong>as</strong> não era por<br />
causa da Igreja do Bonfim. Quando a gente começava a dar <strong>as</strong><br />
o patrimônio de uma cidade 7 7