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176 ruy espinheira filho<br />
te ninguém deu a mínima importância a isso, é como se fosse<br />
coisa de burguês, “Não importa isso, literatura é uma bobagem,<br />
pra que literatura? A gente pode viver sem literatura”. Então,<br />
todo mundo pode viver sem literatura, não tem importância<br />
nenhuma, eu sinto que isso continua sendo <strong>as</strong>sim. Daí nunca<br />
ter me envolvido nos últimos tempos nesse debate, porque é um<br />
debate que me irrita muito, quando vejo que, na verdade, não<br />
existe interesse. Uma d<strong>as</strong> grandes realizações do Governo atual<br />
foi dar fim no prêmio Jorge Amado, <strong>para</strong> fazer uma economia<br />
de cem mil reais. Não só deu fim no prêmio como sequer teve a<br />
humildade de aceitar sugestões. Eu escrevi em jornal, sugerindo<br />
modificações nesse prêmio, que o prêmio estava errado. Na<br />
verdade, o prêmio não poderia ser dado como vinha sendo dado,<br />
tinha que ser um prêmio que também vis<strong>as</strong>se o baiano, pelo<br />
menos a metade desse prêmio devia ser <strong>para</strong> autores baianos.<br />
Jorge Amado era um escritor, Jorge Amado não era compositor<br />
de música erudita, Jorge Amado não era ator de teatro, nem ator<br />
de televisão, nem coisa nenhuma disso. O prêmio Jorge Amado<br />
tinha que ser um prêmio de literatura, como existe em outros<br />
estados em que há um prêmio nacional e um prêmio <strong>para</strong> escritor<br />
do Estado, como existem prêmios <strong>para</strong> conjunto de obra, como<br />
existe um interesse, uma valorização disso. Eu vi, agora, por<br />
exemplo, no c<strong>as</strong>o de João Ubaldo Ribeiro, que acaba de receber<br />
o prêmio Camões, o maior prêmio da língua portuguesa de literatura,<br />
eu estava no júri do prêmio, eu fui presidente do júri<br />
desse prêmio, combati muito, lá em Portugal, pela candidatura<br />
que lancei lá, de João Ubaldo Ribeiro. Saímos vitoriosos, chego<br />
no Br<strong>as</strong>il, Portugal empolgado, a imprensa portuguesa empolgada,<br />
chego no Br<strong>as</strong>il, chego no aeroporto, vim no dia seguinte,<br />
comprei uns jornais do Sul, nem uma nota, na Bahia um<strong>as</strong> notinh<strong>as</strong><br />
mais ou menos. O anúncio tinha sido feito às du<strong>as</strong> hor<strong>as</strong> da<br />
tarde do Br<strong>as</strong>il, seis hor<strong>as</strong> da tarde em Portugal, e é o que se vê no<br />
País, quer dizer, há uma indiferença. Depois o Ubaldo deu uma