Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
sado, do presente e d<strong>as</strong> profeci<strong>as</strong> que antecipam o futuro. Este<br />
ser, criado pel<strong>as</strong> transformações tecnológic<strong>as</strong> desde o século<br />
xviii, sonha com a liberdade; lê sossegado ou inquietamente o<br />
romance e, em seu individualismo, transgride fronteir<strong>as</strong> com a<br />
imaginação, vivendo <strong>as</strong> vid<strong>as</strong> que a ficção, mais que a realidade,<br />
constrói. A cultura é o campo do indivíduo, seja ele o criador ou<br />
o consumidor da criação, m<strong>as</strong>, em ambos os c<strong>as</strong>os, a liberdade é<br />
essencial. O indivíduo é essencialmente político, tem uma causa,<br />
em que pese o fato de que toda política é fundamentalmente<br />
coletiva. Então, a política é o encontro dos indivíduos; a cultura<br />
o pano de fundo dos modos de ser, de querer e de sentir.<br />
Diante da “tolerância” contemporânea que se esboça no pluralismo,<br />
a percepção de Eagleton (2005, p. 28) merece ser aqui<br />
lembrada, <strong>para</strong> pontuar a nossa percepção do jogo da cultura no<br />
mundo contemporâneo em que o Ocidente quer se impor, <strong>para</strong><br />
além da <strong>as</strong>túcia ideológica, pela força militar:<br />
2<br />
said, E. Culture and<br />
imperialism. Londres,<br />
1993.<br />
Os que consideram a pluralidade como um valor em si mesmo são formalist<strong>as</strong><br />
puros e, obviamente, não perceberam a espantosamente imaginativa<br />
variedade de forma que, por exemplo, pode <strong>as</strong>sumir o racismo. De qualquer<br />
modo, como acontece com muito do pensamento pós-moderno, o<br />
pluralismo encontra-se aqui estranhamente cruzado com a auto-identidade.<br />
Em vez de dissolver identidades distint<strong>as</strong>, ele <strong>as</strong> multiplica. Pluralismo<br />
pressupõe identidade, como hibridização pressupõe pureza. Estritamente<br />
falando, só se pode hibridizar uma cultura que é pura; m<strong>as</strong> como Edward<br />
Said sugere, “tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> cultur<strong>as</strong> estão envolvid<strong>as</strong> um<strong>as</strong> com <strong>as</strong> outr<strong>as</strong>; nenhuma<br />
é isolada e pura, tod<strong>as</strong> são híbrid<strong>as</strong>, heterogêne<strong>as</strong>, extraordinariamente<br />
diferenciad<strong>as</strong> e não monolític<strong>as</strong>” 2 . É preciso lembrar, também, que<br />
nenhuma cultura humana é mais heterogênea do que o capitalismo.<br />
As cidades são os espaços dos indivíduos, o encontro de muita<br />
gente, um ajuntamento extraordinário da diversidade humana<br />
e ao mesmo tempo uma curiosa síntese, como no c<strong>as</strong>o da Bahia<br />
194 gey espinheira