Convivendo com a diversidade: - Programa de Pós-Graduação em ...
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pra gente <strong>com</strong> esse olhar que a fantasia da gente fazia a gente ver.<br />
Mas aí quando você ta toda enrolada… ao mesmo t<strong>em</strong>po que eu fazia<br />
o movimento <strong>de</strong> me aproximar para conhecer, ao mesmo t<strong>em</strong>po eu<br />
tinha medo, enten<strong>de</strong>u?<br />
Este <strong>de</strong>poimento retrata toda a ambivalência que qualquer um po<strong>de</strong> sentir diante da<br />
estranheza causada pelo corpo <strong>de</strong> uma pessoa <strong>com</strong> paralisia cerebral, e das limitações<br />
severas que ela po<strong>de</strong> impor. Descreve também essa maravilhosa possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
participação que a inclusão escolar po<strong>de</strong> proporcionar, se existir<strong>em</strong> os recursos<br />
materiais apropriados – neste caso, a criança dispunha <strong>de</strong> <strong>com</strong>putador <strong>com</strong> teclado<br />
adaptado para sua <strong>com</strong>unicação – e <strong>em</strong>penho <strong>de</strong> professores dispostos a tentar<br />
facilitar seu <strong>de</strong>senvolvimento.<br />
De acordo <strong>com</strong> a leitura psicanalítica, a pessoa <strong>com</strong> <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong>nuncia as nossas<br />
próprias limitações e fragilida<strong>de</strong>s - ou o risco <strong>de</strong> chegarmos a ter dificulda<strong>de</strong>s<br />
s<strong>em</strong>elhantes. Tal projeção po<strong>de</strong> funcionar <strong>com</strong>o um motivo inconsciente <strong>de</strong> evitar a<br />
convivência <strong>com</strong> elas. Sab<strong>em</strong>os que seria difícil obter respostas prontamente<br />
afirmativas quanto a essas questões, pois envolv<strong>em</strong> mecanismos psíquicos<br />
inconscientes, mas <strong>em</strong> nosso roteiro <strong>de</strong> entrevista, incentivamos as participantes a<br />
falar<strong>em</strong> sobre as repercussões mais subjetivas que essa convivência <strong>com</strong> a<br />
<strong>de</strong>ficiência lhes suscitou.<br />
Em geral, elas não associaram a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> enfrentar suas próprias limitações<br />
pessoais ou o receio <strong>de</strong> adquirir uma <strong>de</strong>ficiência <strong>com</strong>o possíveis motivos que<br />
pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> influenciá-las a evitar receber esses alunos. Entretanto, fizeram uma<br />
associação <strong>com</strong> o t<strong>em</strong>a da maternida<strong>de</strong>.<br />
Eu fico pensando, se eu tivesse um filho <strong>de</strong>ficiente, eu ia fazer o que?<br />
Eu ia botar na escola especial ou na escola normal? Será que eu<br />
saberia lidar <strong>com</strong> isso?<br />
Era uma coisa assim, era um paradoxo. Eu ficava <strong>com</strong> aquela coisa<br />
assim: será que se fosse minha filha, eu trazia? E aí ao mesmo t<strong>em</strong>po,<br />
eu achava que sim, ao mesmo t<strong>em</strong>po eu achava que não…<br />
Uma <strong>de</strong>las fala da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alguma professora - não ela própria - chegar a<br />
t<strong>em</strong>er ter um filho <strong>com</strong> <strong>de</strong>ficiência <strong>com</strong>o um “castigo” por ter recusado um aluno<br />
<strong>com</strong> essas características: