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Convivendo com a diversidade: - Programa de Pós-Graduação em ...

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princípios educativos: por trás dos princípios e racionalizações que os sustentam, a<br />

vida fantasmática dos pais e professores t<strong>em</strong> um papel <strong>de</strong> extr<strong>em</strong>a importância na<br />

estruturação da criança. Assim, <strong>em</strong> toda relação educativa, está <strong>em</strong> jogo o<br />

enebriamento narcísico <strong>de</strong> ocupar para um outro o lugar <strong>de</strong> i<strong>de</strong>al e moldar-lhe <strong>de</strong><br />

acordo <strong>com</strong> seus i<strong>de</strong>ais.<br />

Freud (1914), ao teorizar sobre a questão do narcisismo, ressaltou a importância dos<br />

filhos na economia psíquica dos pais, utilizando a expressão Sua Majesta<strong>de</strong>, o bebê,<br />

para tentar explicar o investimento libidinal dos pais nos seus filhos. Descreve a<br />

tendência dos pais <strong>em</strong> projetar<strong>em</strong> seus i<strong>de</strong>ais na criança, formando a expectativa <strong>de</strong><br />

que ela realize os sonhos a que eles próprios tiver<strong>em</strong> <strong>de</strong> renunciar. “Assim, eles se<br />

acham sob a <strong>com</strong>pulsão <strong>de</strong> atribuir todas as perfeições ao filho (…) e <strong>de</strong> ocultar e<br />

esquecer todas as <strong>de</strong>ficiências <strong>de</strong>le” (op.cit., p.108).<br />

Esta busca do narcisismo perdido é bastante evi<strong>de</strong>nte na relação dos pais <strong>com</strong> seus<br />

filhos. O nascimento <strong>de</strong> uma criança, quando <strong>de</strong>sejado, é um acontecimento<br />

celebrado e enaltecido pela família. Já o nascimento <strong>de</strong> um bebê <strong>com</strong> alterações no<br />

seu corpo que implicam limitações diversas ao seu <strong>de</strong>senvolvimento, não provoca<br />

<strong>com</strong><strong>em</strong>oração e, sim, <strong>de</strong>cepção e angústia diante <strong>de</strong>sta realida<strong>de</strong> inesperada e<br />

impossível <strong>de</strong> ser modificada. Nesses casos, <strong>em</strong> vez <strong>de</strong> elevar a auto-estima dos pais,<br />

este bebê provoca uma ferida narcísica: o projeto dos pais se quebra dolorosamente,<br />

pois, no lugar do filho <strong>de</strong>sejado, precioso reduto do narcisismo parental, eles têm que<br />

lidar <strong>com</strong> o filho <strong>de</strong>ficiente.<br />

A elaboração subjetiva <strong>de</strong>sta ferida narcísica implica o fato <strong>de</strong> os pais dar<strong>em</strong> um<br />

significado a este filho <strong>em</strong> sua história pessoal. Trata-se <strong>de</strong> um verda<strong>de</strong>iro trabalho<br />

<strong>de</strong> luto, conforme <strong>de</strong>scrito pela psicanálise: “Um luto, <strong>de</strong> modo geral, é a reação à<br />

perda <strong>de</strong> ente querido, à perda <strong>de</strong> alguma abstração que ocupou o lugar <strong>de</strong> um ente<br />

querido, <strong>com</strong>o um país, a liberda<strong>de</strong> ou o i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> alguém” (Freud, 1917, p. 275).<br />

Freud (1917) chama atenção <strong>de</strong> que o processo <strong>de</strong> retirada da libido do objeto<br />

perdido para o investimento num futuro objeto substituto é lento, exigindo gran<strong>de</strong><br />

dispêndio <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po, prolongando-se psiquicamente, nesse meio t<strong>em</strong>po, a existência<br />

do objeto perdido.

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