Convivendo com a diversidade: - Programa de Pós-Graduação em ...
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No texto Algumas reflexões sobre a psicologia do escolar, Freud (1914) refere-se<br />
explicitamente ao papel do professor, <strong>de</strong>stacando que o que está <strong>em</strong> jogo não é a<br />
pessoa do mestre, mas a função, o lugar que ele representa na economia psíquica do<br />
sujeito. Observa que os professores provocam ora a nossa mais enérgica oposição e<br />
crítica, ora uma submissão <strong>com</strong>pleta e admiração. Esta ambivalência tão marcante<br />
levou Freud a buscar sua orig<strong>em</strong> no <strong>com</strong>plexo <strong>de</strong> Édipo, colocando os professores<br />
<strong>com</strong>o her<strong>de</strong>iros dos sentimentos antes dirigidos ao pai. O filho <strong>de</strong>scobre que ele não<br />
é o “mais sábio e po<strong>de</strong>roso”, ficando insatisfeito e passando a criticá-lo. Nesse<br />
momento <strong>de</strong> <strong>de</strong>sligamento do pai é que a criança encontra os professores. Transfere<br />
para eles as expectativas antes ligadas ao pai e <strong>de</strong>pois também <strong>de</strong>verá <strong>de</strong>stituí-los<br />
<strong>de</strong>sse lugar <strong>de</strong> i<strong>de</strong>al.<br />
Freud foi constatando na clínica o fenômeno da transferência, até concluir que só o<br />
tratamento que opera sobre o pivô da transferência pertence ao campo analítico. Mas<br />
para efeitos <strong>de</strong>sse estudo sobre a transferência na situação ensinante,<br />
o importante é fixar a idéia <strong>de</strong> que o <strong>de</strong>sejo inconsciente busca aferrar-se a<br />
“formas” (o resto diurno, o analista, o professor) para esvaziá-las e colocar aí<br />
o sentido que lhe interessa. Transferir é atribuir um sentido especial àquela<br />
figura <strong>de</strong>terminada pelo <strong>de</strong>sejo (Kupfer, 1997, p.80).<br />
Algumas conseqüências se extra<strong>em</strong> <strong>de</strong>sta pr<strong>em</strong>issa. Instalada a transferência, tanto o<br />
analista <strong>com</strong>o o professor tornam-se <strong>de</strong>positários <strong>de</strong> algo que pertenceu ao analisante<br />
ou aluno. Sua fala <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser inteiramente objetiva, mas é assentada através <strong>de</strong>ssa<br />
posição especial que ocupa no inconsciente do sujeito. Dessa forma, ocorre também<br />
uma transferência <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r.<br />
A cura analítica visa a <strong>de</strong>ssuposição do saber do analista para fazer <strong>em</strong>ergir a<br />
verda<strong>de</strong> do sujeito. Na situação ensinante, contudo, não po<strong>de</strong> prevalecer a mesma<br />
ética, sob pena <strong>de</strong> se <strong>de</strong>svanecer. Só é possível ensinar se houver transferência, isto é,<br />
suposição <strong>de</strong> saber. É nesta suposição que vai se fundar a autorida<strong>de</strong> do professor<br />
para o aluno. Por isto, é necessário que o sujeito suposto saber sustente as<br />
construções imaginárias da criança para que seu discurso tenha efeito.