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Convivendo com a diversidade: - Programa de Pós-Graduação em ...

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aquisições cognitivas. Aqui, fica evi<strong>de</strong>nte o risco <strong>de</strong> o diagnóstico servir <strong>de</strong><br />

justificativa para baixos investimentos na aprendizag<strong>em</strong>, ou até mesmo, na qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vida da criança.<br />

Então, precisava dar pra esse professor, ele ter essa clareza <strong>de</strong>…<br />

vamos supor assim, não sei se é isso, mas o grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência tal, as<br />

crianças têm condições disso, disso e disso. Nesse grau, pra se tornar<br />

uma coisa mais tranqüila.<br />

… mas enquanto você não t<strong>em</strong> nenhuma informação <strong>de</strong>ssa criança,<br />

das possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>la, o que realmente ela t<strong>em</strong>, não adianta…<br />

Ocorre também um uso generalizado e/ou equivocado da nomenclatura <strong>de</strong> quadros<br />

clínicos que exigiriam uma avaliação extr<strong>em</strong>amente rigorosa.<br />

… eu tive um aluno que não era mental, na segunda série, ele tinha<br />

um probl<strong>em</strong>a que ele não queria que ninguém encostasse nele…<br />

Nas outras escolas particulares mesmo, tinha umas crianças <strong>com</strong><br />

hipo… hipo… hipotermia… Alguma coisa assim… [refere-se à<br />

hipotonia].<br />

… tinha muitos que o pessoal falava que era hiperativo…<br />

Parece-nos que esses trechos das entrevistas falam do que muitos autores<br />

(Aquino,1998; Mrech, 1997, 1999) chamam <strong>de</strong> “patologização do processo <strong>de</strong><br />

ensino-aprendizag<strong>em</strong>”: “...ao se privilegiar na educação, a existência <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo<br />

prévio <strong>de</strong> ensino fundado na normalida<strong>de</strong> (...) privilegiou-se um olhar médico a<br />

respeito dos alunos, <strong>em</strong> vez <strong>de</strong> se enfatizar um olhar pedagógico”(Mrech, 1999).<br />

Assim, <strong>de</strong>vidamente “diagnosticada”, a criança per<strong>de</strong> sua singularida<strong>de</strong> <strong>com</strong>o<br />

indivíduo portador <strong>de</strong> uma história e características próprias, passando a ser incluída<br />

na re<strong>de</strong> <strong>de</strong> significados culturalmente <strong>com</strong>partilhados sobre as limitações e<br />

dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sses quadros clínicos. Um saber externo à escola se sobrepõe ao saber<br />

do professor sobre aquele aluno <strong>em</strong> particular. Dessa maneira, o professor, que seria<br />

o eixo <strong>de</strong>sse processo <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> conhecimento, se retira, porque ele reconhece<br />

<strong>em</strong> outros o saber sobre seus alunos, adotando, ele próprio, uma postura exclu<strong>de</strong>nte,<br />

enquanto a inclusão termina por ser consi<strong>de</strong>rada uma proposta coerente e justa, mas<br />

inatingível, tanto pela <strong>de</strong>ficiência da criança <strong>com</strong>o pela falta <strong>de</strong> condições objetivas<br />

<strong>de</strong> apoio institucional.

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