Convivendo com a diversidade: - Programa de Pós-Graduação em ...
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Ao lado <strong>de</strong>sta condição – <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r – i<strong>de</strong>ntificamos outras falas que<br />
r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> a uma posição subjetiva <strong>de</strong> estar disponível para encarar o diferente, estar<br />
aberta para novos <strong>de</strong>safios:<br />
Olha, eu tenho uma coisa que faz parte da minha personalida<strong>de</strong>, eu<br />
adoro <strong>de</strong>safio. Pra mim quanto mais difícil tiver é que eu quero<br />
mesmo (…) Então, é uma questão do <strong>de</strong>sejo, do <strong>de</strong>safio, <strong>de</strong> querer<br />
apren<strong>de</strong>r.<br />
Eu acho que tá relacionado <strong>com</strong> a questão da abertura, e não ter<br />
medo também <strong>de</strong> se expor no sentido <strong>de</strong> ‘eu não sei fazer’…<br />
Essa professora fez uma diferenciação importante relacionada aos objetivos <strong>de</strong>sse<br />
estudo: ela faz uma distinção entre a limitação imposta pelo não saber <strong>com</strong>o trabalhar<br />
<strong>com</strong> a criança <strong>com</strong> <strong>de</strong>ficiência, que po<strong>de</strong>ria se resolver <strong>com</strong> informações, e o limite<br />
pessoal, subjetivo, quanto à falta <strong>de</strong> disponibilida<strong>de</strong> para o novo, para estar aberta às<br />
diferenças. Notamos aqui, na verda<strong>de</strong>, a possibilida<strong>de</strong> do professor não querer – ou<br />
não po<strong>de</strong>r – saber, mesmo que este conhecimento esteja disponível para ele, por<br />
razões pessoais, t<strong>em</strong>a que abordar<strong>em</strong>os posteriormente, <strong>em</strong> outra categoria nesta<br />
análise <strong>de</strong> dados.<br />
Por termos enveredado por uma via que cont<strong>em</strong>pla a subjetivida<strong>de</strong> dos sujeitos, não<br />
po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> pensar que outra possibilida<strong>de</strong> que se abre para a análise das falas<br />
acima é tomar mais <strong>de</strong> perto a expressão “<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r”, que a própria<br />
professora reconheceu <strong>com</strong>o um traço no plano subjetivo. Desejo é um conceito caro<br />
à psicanálise, pois caracteriza o ser humano <strong>com</strong>o sujeito marcado pela falta, pela<br />
in<strong>com</strong>pletu<strong>de</strong>, noção associada à operação <strong>de</strong> castração simbólica, ponto central da<br />
estruturação edipiana. Aprofundar estas consi<strong>de</strong>rações escapa ao escopo do presente<br />
estudo; o que cabe ressaltar aqui são as articulações possíveis entre psicanálise e<br />
educação através da noção do <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> saber, mais <strong>com</strong>umente associado ao aluno –<br />
para ocorrer aprendizag<strong>em</strong>, é imprescindível haver o <strong>de</strong>sejo, o conhecimento precisa<br />
assumir um brilho fálico capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar este <strong>de</strong>sejo pelo saber.<br />
Porém, a psicanálise também aponta que o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> saber do professor é<br />
fundamental para que ele exerça o trabalho docente, já que na relação professoraluno,<br />
está implicado a enunciação <strong>de</strong> dois <strong>de</strong>sejos – o <strong>de</strong> ensinar e o <strong>de</strong> saber.