Convivendo com a diversidade: - Programa de Pós-Graduação em ...
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sustentar essas travessias, reconhecendo a cartografia singular <strong>de</strong> cada autor<br />
(p.51).<br />
Outra contribuição da psicanálise ao estudo da questão da <strong>de</strong>ficiência é a discussão<br />
que alguns autores faz<strong>em</strong> sobre os efeitos psíquicos que a <strong>de</strong>ficiência causa, tanto na<br />
pessoa que a possui, <strong>com</strong>o naqueles <strong>com</strong> qu<strong>em</strong> ela se relaciona. Fedidá (1984) apud<br />
Amiralian (1997) mostra o quanto a percepção da <strong>de</strong>ficiência do outro po<strong>de</strong> levar à<br />
vivência dos nossos próprios limites e <strong>de</strong>ficiências, não só por fazer ressurgir<br />
angústias <strong>de</strong> castração e <strong>de</strong>smoronamento, mas também por l<strong>em</strong>brar que o <strong>de</strong>ficiente<br />
é s<strong>em</strong>pre um sobrevivente que escapou <strong>de</strong> um catástrofe que já ocorreu, o que po<strong>de</strong>rá<br />
acontecer a qualquer um.<br />
A autora, que se dirige a profissionais da área da saú<strong>de</strong> que trabalham <strong>com</strong> essa<br />
clientela, salienta “… que só através <strong>de</strong> um olhar crítico para o nosso interior, e por<br />
meio da experiência pessoal <strong>de</strong> nossas significações <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência, po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os<br />
<strong>com</strong>preen<strong>de</strong>r nossos afetos e <strong>em</strong>oções para <strong>com</strong> a condição <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência e<br />
apreen<strong>de</strong>r nossas negações” (Amiralian, 1997, p.34).<br />
Molina (2001) também aponta que todas as culturas po<strong>de</strong>m chegar a tolerar as<br />
diferenças, porém dificilmente as aceitam, e as evidências da falha no outro abalam<br />
psiquicamente os seres humanos, pois, a pessoa <strong>com</strong> <strong>de</strong>ficiência converte-se na prova<br />
incontestável da impossibilida<strong>de</strong> da plenitu<strong>de</strong> narcísica, da fragilida<strong>de</strong> do ser<br />
humano.<br />
Esse entendimento da dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> aceitação da <strong>de</strong>ficiência <strong>com</strong>o resultado <strong>de</strong><br />
resistências psíquicas também é abordado por Carpigiani (1999), <strong>de</strong> uma forma<br />
bastante inovadora, a partir <strong>de</strong> uma reflexão sobre a experiência social e clínica <strong>de</strong><br />
Oliver Sacks, <strong>de</strong>scrita no livro A ilha dos daltônicos.<br />
A autora questiona a pr<strong>em</strong>issa <strong>de</strong> que, quanto mais <strong>de</strong>senvolvida tecnologicamente<br />
uma socieda<strong>de</strong>, maiores barreiras e obstáculos o <strong>de</strong>ficiente encontrará para integrarse,<br />
pois a socieda<strong>de</strong> primitiva 2 estudada por Sacks também utiliza mecanismos que<br />
<strong>de</strong>s<strong>em</strong>bocam <strong>em</strong> barreiras que levam à dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> integração social do <strong>de</strong>ficiente.<br />
2 A expressão socieda<strong>de</strong> primitiva é utilizada pela autora no texto original.