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Convivendo com a diversidade: - Programa de Pós-Graduação em ...

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pedagógico que o professor dispõe para atuar <strong>com</strong>o mediador que possibilite as tão<br />

esperadas aquisições cognitivas.<br />

O trecho a seguir traduz claramente este incômodo que a criança <strong>com</strong> <strong>de</strong>ficiência<br />

po<strong>de</strong> causar no professor. A entrevistada prossegue avaliando que, diante <strong>de</strong>ste<br />

incômodo, há dois caminhos: ou o professor <strong>com</strong>eça a se inquietar <strong>com</strong> sua prática e<br />

passa a refletir sobre ela, ou então, aquele que não t<strong>em</strong> essa condição para reflexão,<br />

passa batido:<br />

Eu sei que muitos professores se sent<strong>em</strong> ameaçados ao ter uma<br />

menina ou um menino Down ou <strong>com</strong> qualquer outra <strong>de</strong>ficiência na<br />

sala porque essa criança, veja, esse é meu ponto <strong>de</strong> vista, porque essa<br />

criança nos coloca <strong>em</strong> cheque … é <strong>com</strong>o um espelho das nossas<br />

próprias <strong>com</strong>petências <strong>em</strong> trabalhar <strong>com</strong> elas, sabe? É tão <strong>com</strong>plexo<br />

isso… È <strong>com</strong>o se nós quiséss<strong>em</strong>os… Mas o que na verda<strong>de</strong> a gente vê<br />

o t<strong>em</strong>po inteiro é assim: ela não é capaz e se não é capaz, eu não vou<br />

per<strong>de</strong>r meu t<strong>em</strong>po. Mas, por outro lado, eu acho que no momento <strong>em</strong><br />

que nós professores t<strong>em</strong>os uma menina <strong>de</strong>ssas na sala, ao mesmo<br />

t<strong>em</strong>po que a gente pensa que a culpa é <strong>de</strong>la por ela ter a doença e que<br />

nós não t<strong>em</strong>os que nos sentir responsáveis, ao mesmo t<strong>em</strong>po<br />

in<strong>com</strong>oda por não saber fazer. De não saber construir conhecimento,<br />

produzir conhecimento <strong>com</strong> essa menina. Então eu acho que isso<br />

in<strong>com</strong>oda o professor, claro!<br />

É digno <strong>de</strong> nota que ela usou a expressão “espelho”, palavra que traduz tão b<strong>em</strong> este<br />

t<strong>em</strong>a do apaixonamento ou rejeição pela própria imag<strong>em</strong>. Trata-se <strong>de</strong> uma fala que<br />

po<strong>de</strong> nos r<strong>em</strong>eter ao conceito do narcisismo da teoria psicanalítica, noção que<br />

utilizar<strong>em</strong>os para dialogar <strong>com</strong> os dados apresentados, buscando refletir sobre os<br />

<strong>com</strong>ponentes subjetivos da prática docente <strong>com</strong> alunos <strong>com</strong> <strong>de</strong>ficiência.<br />

Já apontamos que o estudo do narcisismo vai possibilitar abordar a relação professoraluno<br />

pelo viés do lugar privilegiado que o professor assume diante do aluno <strong>com</strong>o<br />

mo<strong>de</strong>lo. Se <strong>com</strong>o Freud assinala, o amor é um dos motores principais da educação,<br />

ele o é por preservar a satisfação narcísica, isto é, a conformação do sujeito a um<br />

i<strong>de</strong>al que pais e educadores o incentivam a atingir.<br />

O educador – e especialmente os pais – ten<strong>de</strong>m a projetar sobre a criança seu i<strong>de</strong>al<br />

do eu, introduzindo na relação educativa as vicissitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sua própria história. Para<br />

a psicanálise, não é possível aceitar que o educador aja unicamente por meio dos

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