Se as materializações não passam de alucinações produzidas pelo médium e se este dispõeda faculdade de ver todas as imagens armazenadas nas profundezas da latente consciênciasonambúlica <strong>do</strong>s assistentes e de ler todas as idéias e todas as impressões – que se encontram emesta<strong>do</strong> de latência na lembrança deles – bem fácil lhe seria contentar a to<strong>do</strong>s os que assistem àsessão, fazen<strong>do</strong> sempre que se lhes apresentassem ante os olhos as imagens das pessoas defuntasque lhes são caras. Que triunfo, que glória, que fonte de riq ueza para um médium que chegasse asemelhante resulta<strong>do</strong>! Mas, com grande pesar deles, as coisas não ocorrem assim. Para a maioria,são estranhas as figuras que se lhes apresentam, figuras que ninguém reconhece e extremament<strong>era</strong>ros são os casos em que fica bem comprovada a semelhança com o defunto, não só quanto aoaspecto, mas também quanto à personalidade moral. Os primeiros constituem a regra, os outros aexceção.Este raciocínio relativo à alucinação se pode aplicar inteiramente a uma transfiguração <strong>do</strong>corpo fluídico <strong>do</strong> médium. O fenômeno seria até mais probante ainda, pois que se poderiafotografar o ser aparente, chama<strong>do</strong> das profundezas <strong>do</strong> túmulo, ou obter dele um molde qualquer.Semelhante explicação, por muito engenhosa que seja, não consegue abranger to<strong>do</strong>s os casos.Evidentemente, se é o duplo <strong>do</strong> médium que tenta fazer que o tomem por um defunto, impossívellhe será falar na língua de que em vida usava o morto, desde que não conheça essa língua.Examinemos alguns fatos que põem de manifesto essa verda de.O Sr. James M. N. Sherman, de Rumford, Rhode Island, descreveu em The Light de 1885,página 235, muitas sessões a que assistiu em casa da Sra. Allens, residente em Providence, Rhodeisland. Eis o que se passou na de 15 de setembro de 1883:Fui chama<strong>do</strong> com minha mulher às proximidades <strong>do</strong> gabinete e, coloca<strong>do</strong>s diante dele, viaparecer no assoalho uma mancha branca que insensivelmente se transformou numa formamaterializada, em a qual reconheci minha irmã e que me enviou beijos. Apresentou -se em seguida aforma da minha primeira mulher, depois <strong>do</strong> que as duas metades da cortina se afastaram, deixan<strong>do</strong>ver de pé, pela abertura, uma forma feminina, vestida à moda <strong>do</strong>s insulares <strong>do</strong> Pacifico, tal como<strong>era</strong> quarenta e cinco anos antes e da qual eu me lembrava muito bem. Falou-me na sua línguamaterna. (198)E positivo, nesse caso, que a Sra. Allens não conhecia os dialetos polinésios. Poderíamosjuntar a este outros testemunhos; melhor, porém, nos parece lembremos imediatamente o relato daspesquisas <strong>do</strong> Sr. Livermore, que viu o fantasma de sua mulher e que conservou cartas escritas nasua presença pela aparição, em francês, língua ignorada de Kate Fox, o médium, que absolutamentese conservava no esta<strong>do</strong> normal enquanto durava o fenômeno. (Veja -se pág. 196.) Tanto a formamaterializada de Estela <strong>era</strong> um ser independente <strong>do</strong> médium, que pôde manifestar -se por meio dafotografia, três anos depois de ter deixa<strong>do</strong> de aparecer e na ausência <strong>do</strong> médium Kate Fox.Possuímos, a respeito, o depoimento <strong>do</strong> Sr. Livermore p<strong>era</strong>nte o tribu nal, quan<strong>do</strong> <strong>do</strong> processoinstaura<strong>do</strong> contra o fotógrafo espírita Mumler (Spiritual Magazine, 1869). Ele fez duas experiênciascom Mumler:Na primeira, apareceu no negativo uma figura ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> Sr. Livermore, figura que logo oDr. Gray reconheceu como sen<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s seus parentes; na segunda, houve cinco exposiçõesseguidas e para cada uma o Sr. Livermore tomara uma atitude diferente. Nas duas primeiras chapas,apenas havia nevoeiro sobre o fun<strong>do</strong>; nas três últimas, apareceu Estela, cada vez mais reconhecívele em três atitudes diferentes.A precaução, que o Sr. Livermore tomou, de mudar de posição para ser fotografa<strong>do</strong>, exclui ahipótese de que as chapas tenham si<strong>do</strong> preparadas de antemão. Ao demais, diz ele:Ela foi muito bem reconhecida, não só por mim, como po r to<strong>do</strong>s os meus amigos.A uma pergunta <strong>do</strong> juiz, declarou ele que possuía muitos retratos da esposa, porém nenhumsob aquela forma.Isto, pois, nos dá a certeza de que Estela vive no espaço e que aí conservou a sua formaterrena, visto que deu provas disso por meio da materialização e da fotografia. As comunicaçõesque transmitiu demonstram que a sua capacidade intelectual nenhuma diminuição sofreu, o que120
atestam as cartas que escreveu em francês puro. Os fatos, portanto, confirmam o ensino espírita,com exclusão de qualquer outra teoria.Precisamos não esquecer nunca que uma hipótese é necessariamente falsa ou incompleta,desde que não explica to<strong>do</strong>s os fatos. É o caso dessas explicações que pretendem nada mais havernas materializações <strong>do</strong> que um des<strong>do</strong>brament o <strong>do</strong> médium, ou uma transfiguração <strong>do</strong> seu duplo.A segunda hipótese – leitura no astral – não é mais plausível <strong>do</strong> que a precedente. Os fatosque por último citamos bastam para afastar a suposição de que a consciência sonambúlica <strong>do</strong>médium extraía <strong>do</strong> astral a figura materializada, porquanto, admiti<strong>do</strong> existam no espaçosemelhantes impressões, evidentemente elas seriam apenas imagens inertes, uma espécie de clichêsfluídicos, que não poderiam denunciar qualquer atividade intelectual, <strong>do</strong> mesmo mo<strong>do</strong> que aspersonagens de um quadro ou de uma fotografia não podem animar -se ou discutir entre si. Notemostambém que fora mister viessem esses clichês ao encontro <strong>do</strong> médium, da<strong>do</strong> que há deles bilhõesem torno de nós. Como escolheria ele o que corresponda ao Espírito evoc a<strong>do</strong>? Se admitirmos queessas aparências são capazes de escrever e de dar provas de uma existência física, estaremos com ateoria espírita, pois então já não haveria como distingui -las de verdadeiros Espíritos.Mas, não se pode, sequer, admitir a explicação <strong>do</strong> des<strong>do</strong>bramento transfigura<strong>do</strong>, porquantohá casos em que não se mostra apenas um único Espírito materializa<strong>do</strong>, em que, ao contrário, seapresentam muitos ao mesmo tempo, às vezes de sexos diferentes, provan<strong>do</strong> cada um que é um serreal, com um volumoso organismo anatômico, que lhe permite mover -se de um lugar para outro,conversar, numa palavra: afirmar-se vivo. Aqui vão alguns exemplos desses fatos notáveis.Materializações múltiplas e simultâneasOs Srs. Oxley e Reimers são hábeis experimenta<strong>do</strong>res, de posição independente e muitofamiliariza<strong>do</strong>s com as materializações. Em sua casa, o Sr. Reimers obteve o molde da mão direitade uma aparição que ele viu por um instante ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> médium. Para saber se o molde não forafeito pelo médium, pediu a este que m ergulhasse a mão no balde que continha parafina, a fim demodelá-la. A mão <strong>do</strong> Espírito difere completamente, pela forma, pela delicadeza e pelas dimensões,da <strong>do</strong> médium, a Sra. Firman, que pertencia à classe operária e já <strong>era</strong> i<strong>do</strong>sa. No fim <strong>do</strong> volumeAnimismo e Espiritismo, de Aksakof, encontram -se fotótipos que reproduzem essas moldagens epermitem a comparação. Noutra sessão, a que assistiu o Sr. Oxley, alguém manifestou o desejo deobter a mão esquerda <strong>do</strong> mesmo Espírito e obteve, fazen<strong>do</strong> o par esse segund o molde com o da mãodireita obti<strong>do</strong> antes. Chamava-se Bertie a aparição. Nada, até então, fora <strong>do</strong> comum. O fenômeno,porém, se tornou depois interessante. Eis como:Numa sessão ulterior e por um médium <strong>do</strong> sexo masculino, o Dr. Monck obtiv<strong>era</strong>m -semoldes das duas mãos de Bertie e o de um pé, revelan<strong>do</strong> os três, exatamente, as linhas e traçoscaracterísticos das mãos e pés de Bertie, tais quais tinham si<strong>do</strong> nota<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> feitos os moldes nassessões em que o médium fora a Sra. Firman. (Psychische Studien, 1877, pág. 540.) É muitoimportante a substituição de uma mulher por um homem, como médium, porquanto, de mo<strong>do</strong>algum se pode explicar, mediante o des<strong>do</strong>bramento, a produção de imagens Idênticas, sen<strong>do</strong>diferentes os médiuns, ao passo que se concebe muito bem que um Espírito tome indiferentemente aum organismo feminino ou masculino os elementos necessários à sua materialização, pois que esseselementos são os mesmos nos <strong>do</strong>is sexos. Mas, quan<strong>do</strong> em vez de uma aparição, muitas se mostramsimultaneamente, impossível se torna atribuí-las, seja a um des<strong>do</strong>bramento, seja a umatransfiguração <strong>do</strong> médium. Citemos, segun<strong>do</strong> Aksakof, a narrativa de um desses casos notáveis(sessão de 11 de abril de 1876). (199)A imagem que aqui se vê (200) reproduz exatamente o molde em gesso d a mão <strong>do</strong> Espíritomaterializa<strong>do</strong>, que se intitulava Lily (201), muito diverso de Bertie, <strong>do</strong> qual difere fisicamente. Areprodução em gesso foi feita com o molde que aquele Espírito deixara na sessão de 11 de abril de1876, e isso em condições que tornavam i mpossível qualquer embuste. Como médium, tínhamos oDr. Monck. Depois de revista<strong>do</strong> minuciosamente, foi ele meti<strong>do</strong> num gabinete improvisa<strong>do</strong> com oauxílio de uma cortina posta no vão de uma janela, conservan<strong>do</strong> -se a sala iluminada a gás durantetoda a sessão. Pusemos uma mesa re<strong>do</strong>nda bem junto da cortina e sentamo -nos à volta. Éramos sete.121
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