O mestre das sentenças, Pedro Lombar<strong>do</strong>, deixava em aberto a questão; esposava, contu<strong>do</strong>,esta opinião de Santo Agostinho:Os anjos devem ter um corpo, ao qual, entretanto, não se acharas sujeitos, corpo que eles, aocontrário, governam, por lhes estar submeti<strong>do</strong>, transforman<strong>do</strong> -o e imprimin<strong>do</strong>-lhe as formas que lhequeiram dar, para torná-lo apropria<strong>do</strong> aos atos deles.A escola neoplatônicaA escola neoplatônica de Alexandria foi notável de mais de um ponto de vista. Tentou afusão <strong>do</strong>s filósofos <strong>do</strong> Oriente com a <strong>do</strong>s gregos e, <strong>do</strong>s trabalhos de Proclo, Plotino, Porfirio,Jamblico, idéias novas surgiram sobre grande número de questões . Sem dúvida, a essespesquisa<strong>do</strong>res se pode reprochar uma tendência por demais excessiva para a misticidade; entretanto,mais <strong>do</strong> que quaisquer outros eles se aproximaram da verdade que hoje experimentalmenteconhecemos.As vidas sucessivas e o perispírito faziam parte <strong>do</strong> ensino deles. Em Plotino, como emPlatão, à separação da alma e <strong>do</strong> corpo se achava ligada à idéia da metempsicose, oumetensomatose (pluralidade das vidas corpóreas).Perguntamos: qual é, nos animais, o princípio que os anima? Se é verdade, como dizem, queos corpos <strong>do</strong>s animais encerram almas humanas que pecaram, à parte dessas almas suscetível deseparar-se não pertence intrinsecamente a tais corpos; assistin<strong>do</strong> -as, essa parte, a bem dizer, nãolhes está presente. Neles, a sensação é comum à imagem da alma e ao corpo, mas, ao corpo,enquanto organiza<strong>do</strong> e modela<strong>do</strong> pela imagem da alma. Quanto aos animais em cujos corpos não sehaja introduzi<strong>do</strong> uma alma humana, esses são engendra<strong>do</strong>s por uma iluminação da alma universal.(31)A passagem da alma humana pelos corpos <strong>do</strong>s seres Inferiores é aqui apresentada sob formadubitativa. Sabemos agora que nenhum recuo é possível na senda eterna <strong>do</strong> tornar -se, porquantonenhum progresso seria real, se pudéssemos perder o que tenhamos adquiri<strong>do</strong> pelo nosso esforçopessoal. A alma que chegou a vencer um vício, dele se libertou para sempre; é isso o que assegura aperfectibilidade <strong>do</strong> espírito e garante a felicidade futura para o ser que soube libertar -se das máspaixões inerentes ao seu esta<strong>do</strong> inferior. Plotino afirm a claramente a reencarnação, isto é, apassagem da alma de um corpo humano para outros corpos.E crença universalmente admitida que a alma comete faltas, que as expia, que sofre puniçãonos infernos e passa em seguida por novos corpos.Quan<strong>do</strong> nos achamos na multiplicidade que o Universo encerra, somos puni<strong>do</strong>s pelo nossopróprio desvio e pela seqüência de uma sorte menos feliz.Os deuses dão a cada um a sorte que lhe convém, de harmonia com seus antecedentes, emsuas sucessivas existências. (32)Profundamente justo e verdadeiro é isto, porquanto, em nossas múltiplas vidas, defrontamoscom dificuldades que temos de transpor, para chegarmos ao nosso melhoramento moral ouintelectual. Falso, porém, seria esse princípio, se o aplicássemos às condições sociais, p orque,então, o rico teria, mereci<strong>do</strong> sê-lo e o pobre se acharia aqui em punição, o que é contrário ao que seobserva cotidianamente, pois podemos comprovar que a virtude não constitui apanágio especial denenhuma classe da sociedade.Há, para a alma, duas maneiras de ser em um corpo: verifica -se uma delas quan<strong>do</strong> a alma, jáse encontran<strong>do</strong> num corpo celeste, sofre uma metamorfose, isto é, quan<strong>do</strong> passa de um corpo aéreoou ígneo a um corpo terrestre, migração a que de ordinário se chama metensomatose, porque n ão sevê <strong>do</strong>nde vem a alma; a outra maneira se verifica quan<strong>do</strong> a alma passa <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> incorpóreo a umcorpo, seja qual for, e entra assim, pela primeira vez, em comunhão com o corpo. As almas descem<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> inteligível ao primeiro céu; aí, tomam um corpo ( espiritual) e, em virtude mesmo dessecorpo, passam para corpos terrestres, segun<strong>do</strong> se distanciam mais ou menos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> inteligível.Esta <strong>do</strong>utrina Porfirio a desenvolveu longamente em sua Teoria <strong>do</strong>s Inteligíveis, onde assimse exprime:Quan<strong>do</strong> a alma sai <strong>do</strong> corpo sóli<strong>do</strong>, não se separa <strong>do</strong> espírito que recebeu das esf<strong>era</strong>scelestes.14
A mesma idéia se nos. depara nos escritos de Proclo, que chama a esse espírito o veículo daalma.De um estu<strong>do</strong> atento dessas <strong>do</strong>utrinas resulta que os neoplatônicos sentiram a neces sidade deum invólucro sutil para a alma, em o qual se registram, se incorporam os esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> espírito. É, comefeito, indispensável que o espírito, através de suas vidas sucessivas, conserve os progressos querealizou, sem o que, a cada encarnação, ele se acharia como na primeira e recomeçariaperpetuamente a mesma vida.Os poetasA Idade Média her<strong>do</strong>u essas concepções, como se pode verificar pela seguinte passagem deA Divina Comédia:Logo que um sitio há si<strong>do</strong> assina<strong>do</strong> à alma (após a morte), sua faculdad e positiva se lheirradia em torno, <strong>do</strong> mesmo mo<strong>do</strong> e tanto quanto o fazia, estan<strong>do</strong> ela em seus membros vivos.Assim como a atmosf<strong>era</strong>, quan<strong>do</strong> se acha bastante carregada de chuva e os raios vêm nela refletir -se, ornada se mostra de cores diversas, assim també m o ar que a cerca toma a forma que a alma lheimprime virtualmente, desde que nele se detém. Semelhante à chama que por toda parte acompanhao fogo, aonde quer que ele vá, essa forma nova acompanha a alma a to<strong>do</strong>s os lugares. Porque daitira ela a sua aparência, chamam-lhe sombra e ela, em seguida, organiza to<strong>do</strong>s os senti<strong>do</strong>s, até o davista. (33)Unir o espírito à matéria constitui tanto uma obrigação para a inteligência, que os maiorespoetas jamais a isso se furtaram; sempre revestiram de formas corpóreas os seres celestiais, cujapura essência os órgãos <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s não podem perceber. Milton, na Guerra <strong>do</strong>s Anjos, não hesitouem atribuir um corpo, ainda que sutis e aéreos, segun<strong>do</strong>s entend<strong>era</strong>m de descrevê -lo, a esses seresextra-humanos que ele concebia como puramente espirituais por sua própria natureza. Eis como seexprime, em seu poema Paraíso Perdi<strong>do</strong>, acerca <strong>do</strong>s anjos:Eles vivem inteiramente pelo coração, pela cabeça, pelo olho, pelo ouvi<strong>do</strong>, pela inteligência,pelos senti<strong>do</strong>s; dão a si mesmos e a seu be l-prazer membros, e tomam a cor, a forma e a espessura,densa ou delgada, que prefiram.Também Ossian revestiu de formas sensíveis os espíritos aéreos, que ele cria ver nosvaporem da noite e nos brami<strong>do</strong>s da tempestade.Klopstock, em sua Messíada, represen tou o corpo <strong>do</strong> S<strong>era</strong>fim Elohé como forma<strong>do</strong> por umraio da manhã e o <strong>do</strong> anjo da morte como por uma vaga de chama numa nuvem tenebrosa. Precisoumais essa idéia na dissertação com que encabeçou o sexto livro da sua epopéia. Sustenta: ser muitoverossímil que os Espíritos finitos, cuja ocupação habitual consiste em meditar sobre os corpos deque se compõe o mun<strong>do</strong> físico, são, também eles, revesti<strong>do</strong>s de corpo e que, em particular, se devecrer que os anjos, de que Deus tão amiúde se serve para conduzir à felicid ade os mortais, terãorecebi<strong>do</strong> qualquer espécie de corpo que corresponda aos <strong>do</strong>s eleitos, que o mesmo Deus chama aessa suprema felicidade.O penetrante gênio de Leibnitz não se enganou a esse respeito:Creio, diz ele, com a maioria <strong>do</strong>s antigos, que to<strong>do</strong>s os gênios, todas as almas, todas assubstâncias simples criadas estão sempre juntas a um corpo e que não há almas destituídas jamaisde um corpo... Acrescento que nenhum desarranjo <strong>do</strong>s órgãos visíveis será capaz de levar as coisasa uma inteira confusão no animal, ou a destruir to<strong>do</strong>s os órgãos e privar a alma de to<strong>do</strong> o seu corpoorgânico e <strong>do</strong>s restos impagáveis de to<strong>do</strong>s os traços precedentes. Mas, a facilidade que houve emdeixarem-se os corpos sutis com os anjos (que confundiam com a corporalidade <strong>do</strong>s próp rios anjos)e a introdução de pseu<strong>do</strong>-inteligências separadas nas criaturas (para o que muito contribuíram asque fazem rolar os céus de Aristóteles) e, finalmente, a opinião mal -entendida, segun<strong>do</strong> a qual nãose podiam conservar as almas <strong>do</strong>s animais, sem ca ir na metempsicose, fiz<strong>era</strong>m, a meu ver, que sedesprezasse o mo<strong>do</strong> natural de explicar a conservação da alma. (34)Mister se faz chegar até Carlos Bonnet (35) para se ter uma teoria que, conquanto nãoassente nos fatos, se aproxima singularmente da que o Es piritismo nos permitiu construir, baseadana experiência. Vamos citar livremente as passagens mais importantes de suas obras, relativas ao15
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