O farmacêutico de Charmes aplica na espádua de seu paciente alguns selos <strong>do</strong> correio epassa-lhes por cima, a fim de segurá-los, umas tiras de diaquilão e uma compressa, sugerin<strong>do</strong> -lhe,ao mesmo tempo, que lhe aplicara um vesicatório. O paciente fica sob vigilância. Depois de vintehoras, retiraram o penso, que se conservara intacto. No lugar, a pele, espessa da e mac<strong>era</strong>da,apresentava uma cor azul-amarela<strong>do</strong>, estan<strong>do</strong> a região cercada de uma zona de intensa vermelhidão,com intumescimento. Esse esta<strong>do</strong> verificaram -no os Srs. Liégeols, Bernheim, Liébault, Beaunis.Pouco mais tarde sobreveio a supuração.Tão grave perturbação orgânica fora causada pela vontade, atuan<strong>do</strong> como elemento materialsobre os teci<strong>do</strong>s <strong>do</strong> corpo. Na Salpétrière, o Sr. Charcot e seus alunos ocasionaram queimaduras porsugestão. Finalmente, os Srs. Bourru e Burot (222) conseguiram produzir, à von tade, estigmas nocorpo de um paciente. A hora que os op<strong>era</strong><strong>do</strong>res determinavam, o corpo <strong>do</strong> paciente sangrava noslugares que <strong>era</strong>m toca<strong>do</strong>s por um estilete sem ponta. Letras traçadas na carne se desenhavam emrelevo, de um vermelho vivo, sobre o fun<strong>do</strong> páli<strong>do</strong> da pele. (223)Prova isto à evidência que a vontade de um op<strong>era</strong><strong>do</strong>r pode mudar a matéria <strong>do</strong> corpo de umpaciente, em senti<strong>do</strong> favorável ou nefasto ao indivíduo, conforme a direção que se lhe imprima.Poderíamos também citar o caso <strong>do</strong> célebre Edward Irwing qu e se curou, pela ação davontade, de um ataque de cól<strong>era</strong>, durante a epidemia de 1832. (224)O poder da vontade se exerce igualmente sobre as sensações. Jacinto Langlois, distintoartista, intimo de Talma, narrou ao Dr. Brierre de Boismont que esse grande a tor lhe referira que,quan<strong>do</strong> estava em cena, tinha o poder, pela força da sua vontade, de fazer desaparecessem as vestes<strong>do</strong> seu numeroso e brilhante auditório e de substituir essas personagens vivas por outros tantosesqueletos. Logo que a sua imaginação e nch<strong>era</strong> assim a sala daqueles singulares especta<strong>do</strong>res, aemoção que em conseqüência experimentava lhe imprimia tal força ao jogo cênico, que muitasvezes os mais empolgantes efeitos se produziam. (225)Não é único este fato: Goethe também conseguia ter visõ es voluntárias e sabe-se queNewton podia obter para si, à vontade, a imagem <strong>do</strong> Sol. O Dr. Wigan faz menção de uma família,cada um de cujos membros possuía a faculdade de ver mentalmente, sempre que o queria, a imagemde um objeto e de fazer deste, de mem ória, um desenho mais ou menos exato.Esse poder da vontade, que se exerce sobre o corpo com tanto império, quan<strong>do</strong> a pessoasabe servir-se dele, também tem ação determinada sobre outros organismos. Vamos mostrá -loexperimentalmente.Ação da vontade a distânciaA influência da vontade de um hipnotiza<strong>do</strong>r sobre o seu paciente é fato que hoje dispensaqualquer demonstração. A sugestão, cujas formas são tão variadas, tornou incontestável a ação que,sobre o espírito de um paciente sensível, exerce uma ordem fo rmulada de mo<strong>do</strong> imp<strong>era</strong>tivo. Essaordem se grava no espírito <strong>do</strong> paciente e pode fazê -lo executar to<strong>do</strong>s os movimentos, dar -lhe todasas alucinações <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s, como lhe pode perturbar as faculdades intelectuais e, até, aniquilá -lascompletamente, por certo tempo. Os trata<strong>do</strong>s sobre hipnotismo estão cheios de exemplos dessegênero de ações voluntárias. O que queremos mostrar aqui é o que foi com muita freqüênciacontesta<strong>do</strong>: a ação da vontade, a distância. Os antigos magnetiza<strong>do</strong>res lhe haviam revela<strong>do</strong> aexistência e os modernos experimenta<strong>do</strong>res, sem embargo da repugnância que manifestam, terãoque se resignar a confessá-la. É, aliás, o que fazem os mais sinceros.Aqui estão <strong>do</strong>is fatos, busca<strong>do</strong>s em fontes de confiança, que mostram, sem contestaçãopossível, a influência da vontade a exercer-se fora <strong>do</strong>s limites <strong>do</strong> organismo.No seu célebre relatório à Academia, refere assim o Dr. Husson o primeiro deles:A Comissão se reuniu no gabinete de Bourdais, a 6 de outubro, ao meio -dia, hora em quechegou o Sr. Cazot (o pa ciente). O Sr. Foissac, o magnetiza<strong>do</strong>r, fora convida<strong>do</strong> a comparecer às12h30m. Ele se conservou no salão, sem que Cazot o soubesse e sem nenhuma comunicaçãoconosco. Foi-lhe dito, no entanto, por uma porta oculta, que Cazot se achava senta<strong>do</strong> num canapé,distante dez pés de uma porta fechada, e que a Comissão desejava que ele, magnetiza<strong>do</strong>r,a<strong>do</strong>rmecesse o paciente e o despertasse àquela distância, permanecen<strong>do</strong> no salão e Cazot nogabinete.136
As 12h37m, estan<strong>do</strong> Cazot atento à conversação que entabuláramos, ou a examinar osquadros que a<strong>do</strong>rnam o gabinete, o Sr. Foissac, coloca<strong>do</strong> no compartimento ao la<strong>do</strong>, começa amagnetizá-lo. Notamos que ao cabo de quatro minutos Cazot pisca ligeiramente os olhos, inquieto,e que, afinal, decorri<strong>do</strong>s nove minutos a<strong>do</strong>rmece...O resulta<strong>do</strong> é positivo, com exclusão de toda suspeita, da<strong>do</strong> que se produziu diante deinvestiga<strong>do</strong>res pouco crédulos e de toda a competência exigida para se pronunciarem comconhecimento de causa. Cedamos agora a palavra ao Sr. Pierre Janet, cujos trabalhos sob re ohipnotismo têm autoridade no mun<strong>do</strong> sábio. (226)Pode-se a<strong>do</strong>rmecer o paciente sem o tocar, por uma ordem não expressa, mas apenaspensada diante dele. Numa nova série de experiências, cuja narrativa ainda não está publicada, apóslonga educação <strong>do</strong> paciente, cheguei eu próprio a repetir à vontade esse curioso fenômeno. Oitovezes de seguida, tentei a<strong>do</strong>rmecer a Sra. B..., de minha casa, toman<strong>do</strong> todas as precauçõespossíveis para que ninguém fosse preveni<strong>do</strong> da minha intenção e varian<strong>do</strong> de cada vez a hora d aexperiência. De todas às vezes, a Sra. B... a<strong>do</strong>rmeceu de sono hipnótico, alguns minutos depois dehaver eu começa<strong>do</strong> a pensar nisso. A verificação <strong>do</strong> fato havia naturalmente de provocar novasuposição. Pois que a sugestão mental podia a<strong>do</strong>rmecer a Sra. B. achan<strong>do</strong>-se ela em esta<strong>do</strong> devigília, a mesma sugestão deveria fazê -la passar de uma fase <strong>do</strong> sono a outra.Era fácil verificá-lo, desde que a Sra. B... Estivesse em sonambulismo letárgico. Enquantoeu lhe fazia sempre as sugestões mentais, sem a tocar, sem lhe soprar nos olhos, sem exercer sobreela qualquer ação física, pus-me apenas a pensar: Quero que durma. Ao cabo de alguns instantes,entrava ela em letargia sonambúlica. Repito a mesma ordem mental, ela suspira e ei -la em letargiacataléptica. De cada vez que formulo esse pensamento, transpõe ela um novo esta<strong>do</strong>. O pensamento<strong>do</strong> magnetiza<strong>do</strong>r pode, pois, por uma influência inexplicável, mas que é aqui imediatamenteverificável, fazer que o paciente percorra as diferentes fases, num senti<strong>do</strong> ou noutro.Sabe-se com quanto cuida<strong>do</strong> os Srs. Ochorowicz, Myers, Richet, De Dusart, Dr. Moutin,Boirac, Paul Joire, etc., realizaram essas experiências. E portanto certo que a sugestão pode serexercida a distância. (227)O Sr. Janet reconhece aqui a ação da vontade sem c ontacto material com o paciente;entretanto, para se escusar de tão grande audácia aos olhos <strong>do</strong>s seus <strong>do</strong>utos correligionários,apressa-se a dizer que o fato é inexplicável. Mas, porque, se faz favor? Sabemos que o ser humanopossui uma força nervosa que po de exteriorizar-se e nem as experiências de Crookes sobre as forçaspsíquicas, nem as <strong>do</strong> Sr. de Rochas foram, que nos conste, demonstradas falsas. Por outro la<strong>do</strong>, nãoé certo também que a telegrafia sem fio deixou de ser um mito e constitui um fatoexperimentalmente demonstra<strong>do</strong>? Assim, entre o Sr. Janet e o paciente que recebeu uma educaçãobastante prolongada, um laço fluídico se criou, que transmite ao segun<strong>do</strong> a vontade <strong>do</strong> primeiro,sem dúvida <strong>do</strong> mesmo mo<strong>do</strong> por que os raios luminosos <strong>do</strong> fotofono de Graham Bell transportavamas ondas magnéticas que, provavelmente, são mais materiais <strong>do</strong> que as <strong>do</strong> pensamento.E, em verdade, curioso observar como os experimenta<strong>do</strong>res filia<strong>do</strong>s a uma certa escola seexasp<strong>era</strong>m diante <strong>do</strong>s fatos. Quan<strong>do</strong> são suficientemente honestos para reconhecê-los reais e têm acoragem de proclamá-los tais, como o Sr. P. Janet, imediatamente se tomam de escrúpulos eprocuram desculpar-se da grande ousadia que tiv<strong>era</strong>m de pôr um pé no terreno veda<strong>do</strong>. Nós, muitofelizmente, não padecemos da mesma tim idez; podemos interpretar livremente os fenômenos e dar -lhes to<strong>do</strong> o valor que comportam. E que, malgra<strong>do</strong> a todas as negações, estamos absolutamentecertos de que a alma tem existência independente, apoian<strong>do</strong> -se a nossa crença em vinte anos deinvestigações sev<strong>era</strong>s, cujos resulta<strong>do</strong>s hão mereci<strong>do</strong> a sanção <strong>do</strong>s mais incontesta<strong>do</strong>s mestres emto<strong>do</strong>s os ramos da ciência. Podemos, pois, proclamar desassombradamente a verdade de taisresulta<strong>do</strong>s, sem temor de que o futuro nos desminta.Que é feito <strong>do</strong>s anátemas, zombete iros ou solenes, lança<strong>do</strong>s, vai para cinqüenta anos, peloscépticos e pelos pseu<strong>do</strong>-sábios? Foram juntar-se, no país <strong>do</strong> esquecimento, a todas as hipóteses malnascidas, às teorias cambaleantes, cujo passageiro êxito elas a dev<strong>era</strong>m unicamente aos nomes deseus inventores e que se acham hoje completamente olvidadas.O Espiritismo, qual vigorosa árvore, precisou desse húmus para se desenvolver e, segun<strong>do</strong>uma palavra célebre, ele se eleva alto e forte sobre as ruínas <strong>do</strong> materialismo agonizante.137
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