As narrações de ChardelVamos agora apresentar alguns extratos das narrativas de Chardel, os quais instruem aomesmo tempo sobre as relações <strong>do</strong>s sonâmbulos com o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s desencarna<strong>do</strong>s e sobre o esta<strong>do</strong><strong>do</strong> sonâmbulo durante o sonambulismo. (50)Certa vez, estan<strong>do</strong> a ditar algumas prescrições t<strong>era</strong> pêuticas ao seu magnetiza<strong>do</strong>r, disse -lheem tom singular a sonâmbula Lefrey:— Veja bem que ele me ordens.— Quem é, pergunta o <strong>do</strong>utor, que lhe ordena isso?— Ora! ele; o senhor não o ouve?— Não, a ninguém ouço, nem vejo.— Ah! tem razão, replica ela, o senhor <strong>do</strong>rme, ao passo que eu estou desperta...— Como você, minha cara, está a sonhar, pretende que eu durmo, se bem me ache com osolhos perfeitamente abertos e a tenha sob a minha influência magnética, dependen<strong>do</strong> tão -só daminha vontade fazê-la voltar ao esta<strong>do</strong> em que se encontrava ainda há pouco. Você se julgadesperta porque me fala e dispõe, até certo ponto, <strong>do</strong> seu livre -arbítrio, embora não possa levantaras pálpebras.— O senhor está a<strong>do</strong>rmeci<strong>do</strong>, repito -o. Eu, ao contrário, estou quase tão completamen teacordada, quanto o estaremos um dia. Explico -me: tu<strong>do</strong> o que o senhor pode ver, atualmente, égrosseiro, material; de tu<strong>do</strong> o senhor distingue a forma aparente; as belezas, reais, porém, lheescapam, enquanto que eu, que estou com as minhas sensações corp orais temporariamentesuspensas, que tenho alma quase inteiramente liberto de seus entraves habituais, vejo o que lhe éinvisível, ouço o que seus ouvi<strong>do</strong>s não podem escutar, compreen<strong>do</strong> o que lhe é incompreensível.Por exemplo, o senhor não vê o que sai <strong>do</strong> seu corpo e vem para mim, quan<strong>do</strong> memagnetiza; eu, entretanto, vejo isso muito bem. A cada passe que o senhor me dá, vejo sair -lhe dasextremidades <strong>do</strong>s de<strong>do</strong>s como que pequenas colunas de uma poeira ígnea, que se vem incorporarem mim e, quan<strong>do</strong> o senhor me isola, fico por assim dizer envolta numa atmosf<strong>era</strong> ardente, formadadessa mesma poeira ígnea (51). Ouço, quan<strong>do</strong> o quero, o ruí<strong>do</strong> que se faz ao longe, os sons quepartem e se espalham a cem léguas daqui. Numa palavra: não preciso que as coisas venham a mim;posso ir ter com elas, onde quer que estejam, e apreciá -las com muito maior exatidão, <strong>do</strong> que opoderia qualquer outra pessoa que não se encontre em esta<strong>do</strong> análogo ao meu.Refere também o autor da Fisiologia <strong>do</strong> Magnetismo que uma sonâmbula costumava ter, ànoite, uma espécie de êxtase, que explicava assim:Entro, então, num esta<strong>do</strong> semelhante ao em que o magnetiza<strong>do</strong>r me põe e, dilatan<strong>do</strong> -se omeu corpo pouco a pouco, vejo -o muito distintamente longe de mim, imóvel e frio, como seestivesse morto. Quanto a mim, assemelho-me a um vapor luminoso e sinto-me a pensar separada<strong>do</strong> meu corpo. Nesse esta<strong>do</strong>, compreen<strong>do</strong> e vejo muito mais coisas <strong>do</strong> que no sonambulismo,quan<strong>do</strong> a faculdade de pensar se exerce sem que eu esteja separada <strong>do</strong>s meus órgãos. Mas, escoa<strong>do</strong>salguns minutos, um quarto de hora, no máximo, o vapor luminoso de minha alma se aproxima cadavez mais <strong>do</strong> meu corpo, perco os senti<strong>do</strong>s, cessa o êxtase.Acrescenta o autor que, chegan<strong>do</strong> a esse grau de expansão <strong>do</strong> sistema nervoso, o homemespiritualiza<strong>do</strong>, ou, se o preferirem, fluidifica<strong>do</strong> em to<strong>do</strong> o seu ser, goza de todas as faculdades <strong>do</strong>sa quem se chama Espíritos e que somente nesse esta<strong>do</strong> é que se acha, por assim dizer, quebrada ecompletamente difundida a centralização da sensibilidade nervosa.Havemos de ver que a narrativa dessa sonâmbula, referente ao esta<strong>do</strong> de vapor luminoso queela assume desde que sai <strong>do</strong> seu corpo, tem a confirmá -la experimentalmente os trabalhos deRochas sobre a exteriorização da sensibilidade. Prossigamos.Outra sonâmbula que, como essa, tinha, durante a noite, visões que em nada seassemelhavam aos sonhos ordinários e que a deixavam em extrema fadiga, disse um dia ao mesmo<strong>do</strong>utor:Parecia que me achava suspensa nos ares, sem forma material, tornada por inteiro vapor eluz, e que lhe mostrava, deita<strong>do</strong> na cama, qual verdadeiro cadáver, o meu corpo. Veja, dizia -lhe eu,está morto e assim estará dentro de trinta dias. Depois, insensivelmente, aquela luz, que eu sentia22
ser eu mesma, se aproximou <strong>do</strong> cadáver, meteu -se nele e recuperei os senti<strong>do</strong>s, exausta como apóslongo e penoso sono magnético.Outros testemunhosPara os que crêem na imortalidade da alma, indubitável se torna que, sen<strong>do</strong> possível acomunicação com os Espíritos, quem haja de realizá -la tem que se colocar numa posição tãopróxima quanto possível da em que se achará depois da morte.Ora, com certos pacientes, o sonambulismo parece eminentemente apropria<strong>do</strong> a dar esseresulta<strong>do</strong>. Momentaneamente desprendi<strong>do</strong>, ao menos em parte, <strong>do</strong> laço fisiológico, o Espírito seencontra num esta<strong>do</strong> quase idêntico ao em que um dia se achará permanentemente. Ao demais, seadmitirmos que as almas desencarnadas se comunicam entre si, o que parece evidente, claro se fazque elas poderão manifestar-se aos sonâmbulos, quan<strong>do</strong> estes se acharem mergulha<strong>do</strong>s no son omagnético.Isso os magnetiza<strong>do</strong>res, em sua maioria, se viram obriga<strong>do</strong>s a reconhecer. Malgra<strong>do</strong> ao seucepticismo, diz o Dr. Bertrand (52), falan<strong>do</strong> de um sonâmbulo muito lúci<strong>do</strong>:Essa mulher se exprimia sempre como se um ser distinto, separa<strong>do</strong> dela e cuja vo z se faziaouvir na região <strong>do</strong> estômago, lhe houvesse transmiti<strong>do</strong> todas as noções extraordinárias que elamanifestava em sonambulismo. Verifiquei o mesmo fenômeno na maior parte <strong>do</strong>s sonâmbulos quetenho observa<strong>do</strong>. O caso mais vulgar é o em que ao sonâmbulo parece que os acontecimentos queele anuncia lhe são revela<strong>do</strong>s por uma voz.O barão du Potet, por longo tempo incrédulo, foi, a seu turno, constrangi<strong>do</strong> a confessar averdade. Informa ele como encontrou de novo, no magnetismo, a espiritologia antiga e quais osexemplos que o levaram a crer no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s Espíritos, mun<strong>do</strong> que, diz (53), o sábio rejeita comoum <strong>do</strong>s maiores erros <strong>do</strong>s tempos i<strong>do</strong>s, mas em o qual o homem profun<strong>do</strong> é induzi<strong>do</strong> a acreditar porefeito de exame sério <strong>do</strong>s fatos.Noutro lugar (54), afirma q ue se pode entrar em relações com os Espíritos desprendi<strong>do</strong>s damatéria, a ponto de obter-se deles aquilo de que se tenha necessidade.Poderíamos multiplicar as citações tomadas à rica biblioteca <strong>do</strong> magnetismo espiritualista emostrar que Charpignon, Ricard, o padre Loubet, Teste, Aubin, Gauthier, Delage, etc., cr<strong>era</strong>m nascomunicações entre vivos e desencarna<strong>do</strong>s. Não devemos, porém, esquecer que o nosso objetivoespecial é o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> perispírito e, por isso, passamos imediatamente a um pesquisa<strong>do</strong>rconsciencioso, homem de boa-fé, Cahagnet, que foi quem melhor estu<strong>do</strong>u esses fenômenos.As experiências de CahagnetAté aqui ouvimos muitos magnetiza<strong>do</strong>res afirman<strong>do</strong> a realidade das relações <strong>do</strong> nosso comum mun<strong>do</strong> supranormal. As mais das vezes, os pacientes vêem se us guias ou anjos guardiões, queeles quase sempre descrevem como sen<strong>do</strong> um belo jovem, vesti<strong>do</strong> de branco. As visões, muitofreqüentemente, são místicas: é a Virgem que aparece; recitam preces para afastar os mausEspíritos. Raramente a personagem descrita é um defunto.Será que sempre os pacientes vêem personagens reais? Não o cremos; a maior parte <strong>do</strong>tempo, são sugestiona<strong>do</strong>s pelo experimenta<strong>do</strong>r e também pela própria imaginação. Devemos, pois,preservar-nos cuida<strong>do</strong>samente de dar qualquer crédito às suas afi rmações, desde que estas nãoassentem em provas absolutas, <strong>do</strong> gênero das que reproduzimos, apresentadas pelo Dr. Billot.Carece de valor positivo a visão de um Espírito, se não há certeza absoluta de que não setrata de uma auto-sugestão <strong>do</strong> sonâmbulo, ou de uma transmissão de pensamento <strong>do</strong> op<strong>era</strong><strong>do</strong>r.O seguinte fato, que o Dr. Bertrand citou numa de suas conferências e que o gen<strong>era</strong>l Noizetreproduziu, é prova convincente <strong>do</strong> que dizemos. (55)Um magnetiza<strong>do</strong>r muito imbuí<strong>do</strong> de idéias místicas tinha um sonâmbulo que durante o sonosó via anjos e Espíritos de toda espécie, visões essas que serviam para confirmar cada vez mais acrença religiosa <strong>do</strong> primeiro. Como ele costumasse mencionar, em apoio <strong>do</strong> seu sistema, os sonhosdesse sonâmbulo, outro magnetiza<strong>do</strong>r tomou a si desiludi-lo, mostran<strong>do</strong>-lhe que o referi<strong>do</strong>sonâmbulo só tinha as visões que ele relatava, porque no seu próprio cérebro existia o tipo de tais23
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