De certas passagens <strong>do</strong> Avestá se há podi<strong>do</strong> deduzir que, depois da morte <strong>do</strong> homem, oferúer voltava ao céu, para desfrutar ai de um poder independente, mais ou menos extenso,conforme fora mais ou menos pura e virtuosa a criatura que lhe esti v<strong>era</strong> confiada. De to<strong>do</strong>independente <strong>do</strong> corpo humano e da alma humana, o ferúer é um gênio imaterial, responsável eimortal. To<strong>do</strong> ser teve ou terá o seu ferúer. Em tu<strong>do</strong> o que existe, há um ferúer certo, isto é, algumacoisa de divino. O Avestá invoca o ferú er <strong>do</strong>s santos, <strong>do</strong> fogo, da assembléia <strong>do</strong>s sacer<strong>do</strong>tes, deOrmuzd, <strong>do</strong>s amschaspands (anjos celestes), <strong>do</strong>s izeds, da palavra excelente, <strong>do</strong>s seres puros, daágua, da terra, das árvores, <strong>do</strong>s rebanhos, <strong>do</strong> tourogérmen, de Zoroastro, em quem, primeiro,Ormuzd pensou, a quem instruiu pelo ouvi<strong>do</strong> e ao qual formou com grandeza, em meio dasprovíncias <strong>do</strong> Irã. (13)Na Judéia, os hebreus, ao tempo de Moisés, desconheciam inteiramente qualquer idéia dealma (14). Foi preciso o cativeiro de Babilônia, para que esse povo be besse, entre os seusvence<strong>do</strong>res, a idéia da imortalidade, ao mesmo tempo em que a da verdadeira composição <strong>do</strong>homem. Os cabalista, intérpretes <strong>do</strong> esoterismo judeu, chamam Nephesh ao corpo fluídico <strong>do</strong>Princípio pensante.A GréciaOs gregos, desde a mais alta Antigüidade, estiv<strong>era</strong>m na posse da verdade sobre o mun<strong>do</strong>espiritual. Em Homero, é freqüente os moribun<strong>do</strong>s profetizarem e a alma de Pátroclo vem visitarAquiles na sua tenda.Segun<strong>do</strong> a <strong>do</strong>utrina da maioria <strong>do</strong>s filósofos gregos, cada homem tem por guia um demônioparticular (eles davam o nome de dainwn aos Espíritos), que lhe personifica a individualidademoral. (15)A gen<strong>era</strong>lidade <strong>do</strong>s humanos <strong>era</strong> guiada por Espíritos vulgares; os <strong>do</strong>utos mereciamvisita<strong>do</strong>s por Espíritos superiores (Id.). Thales, que viveu seis séculos e meio antes da nossa <strong>era</strong>,ensinava, tal qual na China, que o Universo <strong>era</strong> povoa<strong>do</strong> de demônios e de gênios, testemunhassecretas das nossas ações, mesmo <strong>do</strong>s nossos pensamentos, sen<strong>do</strong> também nossos guias espirituais(16). Até, desse artigo, fazia um <strong>do</strong>s pontos capitais da sua moral, confessan<strong>do</strong> que nada havia maispróprio a inspirar a cada homem a necessidade de exercer sobre si mesmo essa espécie de vigilânciaa que Pitágoras mais tarde chamou o sal da vida. (17)Epimênides, contemporâneo de Só lon, <strong>era</strong> guia<strong>do</strong> pelos Espíritos e freqüentemente recebiainspirações divinas. Sustentava fortemente o <strong>do</strong>gma da metempsicose e, para convencer o povo,dizia que ressuscitara muitas vezes e que, particularmente, fora naco. (18)Sócrates (19) e, sobretu<strong>do</strong>, Pl atão, como achassem excessivamente grande à distância entreDeus e o homem, enchiam-na de Espíritos, consid<strong>era</strong>n<strong>do</strong>-os gênios tutelares <strong>do</strong>s povos e <strong>do</strong>sindivíduos e os inspira<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s oráculos. A alma preexistia ao corpo e chegava ao mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>tada<strong>do</strong> conhecimento das idéias eternas. Semelhante à criança, que no dia seguinte há esqueci<strong>do</strong> ascoisas da vésp<strong>era</strong>, esse conhecimento ficava nela amo<strong>do</strong>rra<strong>do</strong>, pela sua união com o corpo, paradespertar pouco a pouco, com o tempo, o trabalho, o uso da razão e <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong> s. Aprender <strong>era</strong>lembrar-se; morrer <strong>era</strong> voltar a ponto de partida e tornar ao primitivo esta<strong>do</strong>: de felicidade, para osbons; de sofrimento, para os maus.Cada alma possui um demônio, um Espírito familiar, que a inspira, com ela se comunica, lhefala à consciência e a adverte <strong>do</strong> que tem que fazer ou que evitar. Firmemente convenci<strong>do</strong> de que,por intermédio desses Espíritos, uma comunicação podia estabelecer -se entre o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s vivos eos a quem chamamos mortos, Sócrates tinha um demônio, um Espírito familiar, que constantementelhe falava e o guiava em todas as circunstâncias. (20)Sim, diz Lamartine, ele é inspira<strong>do</strong>, segun<strong>do</strong> o afirma e repete. Porque nos negaríamos a crerna palavra <strong>do</strong> homem que dava a vida por amor da verdade? Haverá muitos testemunhos quetenham o valor da palavra de Sócrates prestes a morrer? Sim, ele <strong>era</strong> inspira<strong>do</strong>... A verdade e asabe<strong>do</strong>ria não emanam de nós; descem <strong>do</strong> céu aos corações escolhi<strong>do</strong>s, que Deus suscita, de acor<strong>do</strong>com as necessidades <strong>do</strong> tempo. (21)O claro gênio <strong>do</strong>s gregos perce beu a necessidade de um intermediário entre a alma e ocorpo. Para explicar a união da alma imaterial com o corpo terrestre, os filósofos da Hélade12
econhec<strong>era</strong>m a existência de uma substância mista, designada pelo nome de Ochema, que lheservia de envoltório e que os oráculos denominavam o veículo leve, o corpo luminoso, o carro sutil.Falan<strong>do</strong> daquilo que move a matéria, diz Hipócrates que o movimento é devi<strong>do</strong> a uma força imortal,ignis, a que dá o nome de enormon, ou corpo fluídico.Os primeiros cristãosFoi à obrigação lógica de explicar a ação da alma sobre o invólucro físico que ced<strong>era</strong>m osprimeiros cristãos, acreditan<strong>do</strong> na existência de uma substância media<strong>do</strong>ra. Aliás, não secompreende que o espírito seja puramente imaterial, porquanto, então, nenhum ponto de contacto oteria com a matéria física e não poderia existir, desde que deixasse de estar individualiza<strong>do</strong> numcorpo terrestre.No conjunto das coisas, o indivíduo é sempre determina<strong>do</strong> pelas suas relações com outrosseres; no espaço, pela forma corpórea; no tempo, pela memória.O grande apóstolo S. Paulo fala várias vezes de um corpo espiritual (22), imponderável,incorruptível, e Orígenes, em seus Comentários sobre o Novo Testamento, afirma que esse corpo,<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de uma virtude plástica, acompanha a alma em todas as suas existências e em todas as suasperegrinações, para penetrar e os corpos mais ou menos grosseiros e materiais que ela reveste e quelhe são necessários no exercício de suas diversas vidas.Eis aqui, segun<strong>do</strong> Pezzani, as opiniões de a lguns Pais da Igreja sobre esta questão. (23)Orígenes e os Pais alexandrinos, que sustentavam um a certeza, os outros a possibilidade denovas provas após a provação terrena, propunham a si mesmos a questão de saber qual o corpo queressuscitaria no juízo final. Resolv<strong>era</strong>m-na, atribuin<strong>do</strong> a ressurreição apenas ao corpo espiritual,como o fiz<strong>era</strong>m S. Paulo e, mais tarde, o próprio Santo Agostinho, figuran<strong>do</strong> como incorruptíveis,finos, tênues e sob<strong>era</strong>namente ágeis os corpos <strong>do</strong>s eleitos. (24)Então, uma vez que esse corpo espiritual, companheiro inseparável da alma, representava,pela sua substância quintessenciada, to<strong>do</strong>s os outros envoltórios grosseiros, que a alma pud<strong>era</strong> terrevesti<strong>do</strong> temporariamente e que entregara ao apodrecimento e aos vermes nos mun<strong>do</strong>s por ondepassara; uma vez que esse corpo havia impregna<strong>do</strong> de sua energia todas as matérias para um usolimita<strong>do</strong> e transitório, o <strong>do</strong>gma da ressurreição da carne substancial recebia, dessa concepçãosublime, brilhante confirmação. Concebi<strong>do</strong> desse mo<strong>do</strong>, o corpo espiritual representava to<strong>do</strong>s osoutros que somente mereciam o nome de corpo pela sua adjunção ao princípio vivificante da carnereal, isto é, ao que os espíritas denominaram perispírito. (25)Diz Tertullano (26) que os anjos têm um corpo que lhes é própr io e que, como lhes épossível transfigurá-lo em carne humana, eles podem, por um certo tempo, fazer -se visíveis aoshomens e comunicar-se com estes visivelmente. Da mesma maneira fala S. Basílio. Se bem haja eledito algures que os anjos carecem de corpo, no trata<strong>do</strong> que escreveu sobre o Espírito Santo, avançaque os anjos se tornam visíveis pela espécie de corpo que possuem, aparecen<strong>do</strong> aos que de tal coisasão dignos.Nada há na criação, ensina Santo Hilário, que não seja corporal, quer se trate de coisasvisíveis, quer de coisas invisíveis. As próprias almas, estejam ou não ligadas a um corpo, têm umasubstância corpórea inerente à natureza delas, pela razão de que é necessário que toda coisa estejanalguma coisa. Só Deus sen<strong>do</strong> incorpóreo, segun<strong>do</strong> S. Cirin o de Alexandria, só ele não pode estarcircunscrito, enquanto que todas as criaturas o podem, ainda que seus corpos não se assemelhemaos nossos. Mesmo que os demônios sejam chama<strong>do</strong>s animais aéreos, como lhes chama Apuleio,sê-lo-ão no senti<strong>do</strong> em que falava o grande bispo de Hipona, porque eles têm natureza corpórea,sen<strong>do</strong> uns e outros da mesma essência. (27)S. Gregório, por seu la<strong>do</strong>, chama ao anjo um animal racional (28) e S. Bernar<strong>do</strong> nos dirigeestas palavras: Unicamente a Deus atribuamos a imortalidade, bem como a imaterialidade,porquanto só a sua natureza não precisa, nem para si mesma, nem para outrem, <strong>do</strong> auxilio de uminstrumento corpóreo (29). Essa <strong>era</strong> também, de certo mo<strong>do</strong>, a opinião <strong>do</strong> grande Ambrósio deMilão, que a expunha nestes termos:Não imaginemos haja algum ser isento de matéria na sua composição, exceto, única eexclusivamente, a substância da a<strong>do</strong>rável Trindade. (30)13
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