com efeito, a sua figura cheia de nobreza, seu s grandes olhos, o nariz aquilino, a cabeça coberta porsoberba peruca ondulada; mas, em nenhuma daquelas imagens descobria eu a pequeninadeformidade <strong>do</strong> lábio inferior, para a qual a minha atenção fora particularmente atraída durante avisão. O lábio <strong>era</strong> um pouco arregaça<strong>do</strong>, tal como se o defeito fosse conseqüência de um acidentequalquer, na mocidade.O livreiro, experto, afirmou que já apreciara muitas gravuras com a fisionomia de Pascal eviram retratos seus pinta<strong>do</strong>s a óleo ou a aquarela, porém, jamais notara em nenhum o defeito que eupersistentemente assinalava.Regressan<strong>do</strong> a casa, eis que me reaparece o sorrisinho céptico <strong>do</strong> Sr. Fleurot. Isso meenraivecia a mim, que rejubilava a idéia de fazê -lo partilhar da minha convicção, oferecen<strong>do</strong> -lheuma prova da identidade da personagem vista em sonho.Repetidamente tornei a ver, durante o sono, o meu protetor, que me prometeu velar por mimdurante o meu cativeiro terrestre e me explicar mais tarde à causa da afeição que votava à minhafamília. Ousei mesmo falar-lhe da pequena deformidade <strong>do</strong> lábio e lhe perguntei se, em vida, elafora reproduzida nalgum de seus retratos.— Foi, respondeu-me, nas primeiras fotografias minhas, publicadas pouco tempo após aminha morte.— Ainda existe alguma? Dizei-me, eu vo-lo exoro. — Procura e acharás!...Refere a Sra. Fleurot que, aproveitan<strong>do</strong> as férias de seu mari<strong>do</strong>, os <strong>do</strong>is vasculharam, emMarselha e Lião, todas as casas de negócio onde poderiam achar o que desejavam, sem que emnenhuma encontrassem o retrato revela<strong>do</strong>r. Teve então o Sr. Fleurot a inspiração de ir a Clermont -Ferrand, onde viram coroada de êxito a persev<strong>era</strong>nça que vinham demonstran<strong>do</strong>. Encontraram, emcasa de um negociante de antiguidades, o verdadeiro retrato de seu ilustre amigo, com a realdeformação <strong>do</strong> lábio inferior, tal qual a Sra. Fleurot vira em sonho.Por muitos títulos, é bastante instrutivo este relato. Em Primeiro lugar, firma a identidade <strong>do</strong>Espírito, pois que nenhum <strong>do</strong>s retratos existentes na cidade de Nice acusava o sinal característicoque se encontrava no original, na terra de nascimento <strong>do</strong> autor das Provinciais. Em segun<strong>do</strong> lugar,há uma frase <strong>do</strong> Espírito digna de nota, a que intencionalmente sublinhamos: Se nos houvéramosapresenta<strong>do</strong> a ti sob uma forma inteiramente espiritualizada, não nos terias visto, nem, ainda menos,reconheci<strong>do</strong>.Comprova-se assim que tanto mais sutil e etéreo é o perispírito, quanto mais depurada está aalma. Com efeito, diz Allan Kardec que os Espíritos adianta<strong>do</strong>s são invisíveis para os que lhes estãomuito inferiores quanto ao moral; mas, essa elevação não obsta a que o Espírito retome o aspectoque tinha na Terra, aspecto que ele pode reproduzir com perfeita fidelidade, até nas mínimasparticularidades. Assim como, no <strong>do</strong>mínio intelectual, nada se perde, também nada desaparec e <strong>do</strong>que há constituí<strong>do</strong> a forma plástica, o tipo de um Espírito. Eis outro exemplo desse notávelfenômeno.O retrato de VergílioA Sra. Lúcia Grange, diretora <strong>do</strong> jornal La Lumière (A Luz), extraordinário médiumvidente no esta<strong>do</strong> normal, viu o célebre po eta Vergílio tão distintamente, que pôde publicar -lhe oretrato em o número de 25 de setembro de 1884 da sua revista, onde o descreveu exatamente assim:VERGILIO – Coroa<strong>do</strong> de louros. Rosto forte, um tanto longo; nariz saliente, com umabossa <strong>do</strong> la<strong>do</strong>; olhos azul-cinza-escuros; cabelos Castanhos-escuros. Revesti<strong>do</strong> de longa túnica, temtodas as aparências de um homem robusto e sadio. Disse -me, quan<strong>do</strong> se me apresentou, este versolatino que o lembra: Tu Marcellus eris.Qualificaram de fantástico esse retrato. T acharam de suspeito o Espírito, porquanto, diziam,muito provavelmente haviam de ser delica<strong>do</strong>s os traços <strong>do</strong> meigo Vergílio, visto ter si<strong>do</strong> ele muitofeminil, mais mulher <strong>do</strong> que uma mulher.Que responder a tais críticas? Nada. Aconteceu, no entanto, que uma inesp<strong>era</strong>da descoberta,veio dar razão à Sra. Grange.Recentemente, nuns trabalhos de reparação que se faziam em Sousse, encontrou -se umafresco <strong>do</strong> primeiro século, onde se vê o poeta em atitude de compor a Eneida. O que lhe revelou a38
identidade foi o poder-se ler, no rolo de papel aberto diante dele o oitavo verso <strong>do</strong> poema: Musamihi causas memora. A gettue Encyclolédique de Larousse reproduziu esse trecho autêntico, peloqual se reconhece que a descrição feita pelo médium se aplica exatamente ao grande h omem, quenada em absoluto tinira de efemina<strong>do</strong>.Este fato confirma o precedente, estabelecen<strong>do</strong>, pela observação, que o perispírito contémtodas as formas que haja ti<strong>do</strong> neste mun<strong>do</strong>.Uma apariçãoNo caso que segue, é impossível atribuir -se a aparição a uma idéia preconcebida, pois oEspírito que se manifestou <strong>era</strong> Completamente desconheci<strong>do</strong> da senhora que o viu. Em virtude decircunstâncias diversas foi que se pôde saber quem <strong>era</strong> ele e verificar -lhe a identidade. Damos apalavra ao autor da narrativa (76)Eích, 19 de junho de 1862.Senhor,Minha mulher absolutamente não acreditava nos Espíritos e eu não me preocupava com essaquestão. Dizia ela, às vezes: Temo os vivos, mas de maneira alguma me receio <strong>do</strong>s mortos. Se eusoubesse que há Espíritos, desejaria vê -los, pois que nenhum mal me poderiam fazer e essa apariçãome proporcionaria a confirmação <strong>do</strong> <strong>do</strong>gma cristão segun<strong>do</strong> o qual nem tu<strong>do</strong> se extingue conosco.Vivíamos no campo. Em nosso quarto, situa<strong>do</strong> ao norte, desde que o ocupáramos se tinhamcom freqüência produzi<strong>do</strong> rumores estranhos, que nos esforçávamos por atribuir a causas naturais.Certa noite <strong>do</strong> mês de fevereiro <strong>do</strong> ano passa<strong>do</strong>, a Sr. Mahon foi despertada por um contacto muitosensível em seus pés, como se, disse ela, lhe houvessem da<strong>do</strong> pequenas palmadas . E acrescentou Háalguém aqui. Depois, ten<strong>do</strong>-se vira<strong>do</strong> para o la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong>, entreviu, num canto escuro <strong>do</strong> quarto,qualquer coisa informe a se mover, o que a fez repetir: Afirmo -te que aqui está alguém.Eu me achava deita<strong>do</strong> numa cama próxima da sua e lhe respondi: E impossível. Tu<strong>do</strong> estábem fecha<strong>do</strong> e posso assegurar-te que não há pessoa alguma, porque, há uns dez minutos, estouacorda<strong>do</strong> e sei que reina profun<strong>do</strong> silêncio. Enganas -te.Entretanto, voltan<strong>do</strong>-se para o la<strong>do</strong> oposto, ela viu distintamente, entre a cama e a janela, umhomem alto, delga<strong>do</strong>, vestin<strong>do</strong> uma espécie de gibão justo, listra<strong>do</strong>, e com a mão direita erguida,em atitude de ameaça. Seu vulto se destacava bem, na meia obscuridade reinante. Diante dessaaparição, ela experimentou certo sobressalto , crente de que um ladrão se introduzira na casa, e merepetiu pela terceira vez: Há, sim, há alguém aqui. Ao mesmo tempo, sem perder de vista um sóinstante a aparição, que se conservava imóvel, cui<strong>do</strong>u de acender a vela.Devo dizê-lo: <strong>era</strong> tal em mim a convicção de que minha mulher se achava sob o império deuma ilusão, em conseqüência de algum sonho; estava tão persuadi<strong>do</strong> de que nenhuma pessoaestranha podia ter penetra<strong>do</strong> no nosso apartamento, no qual, aliás, o meu cão de guarda fiz<strong>era</strong> a suacostumada ronda, após o jantar <strong>do</strong>s cria<strong>do</strong>s; <strong>era</strong> tão profun<strong>do</strong> o silêncio desde que eu despertara,que, embala<strong>do</strong> por essas idéias, não pensei em abrir os olhos. Se minha mulher me houv<strong>era</strong> dito:Vejo alguém, seria diverso, eu teria olha<strong>do</strong> imediatamente. Tal, porém, não se deu. Provavelmente,as coisas deviam passar-se <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> por que se passaram.Seja como for, durante to<strong>do</strong> o tempo que ela gastou para acender a vela, a aparição lheesteve presente. Desvaneceu-se com a luz. Ao ouvir-lhe a narrativa pormenorizada <strong>do</strong> que ocorr <strong>era</strong>,levantei-me. Percorri o apartamento inteiro. Nada. Consultei o relógio, <strong>era</strong>m quatro horas.A partir de então, diversos fatos singulares se têm da<strong>do</strong> no apartamento: ruí<strong>do</strong>sinexplicáveis, luzes vistam de fora, por mim, através das janelas <strong>do</strong> primeiro an dar, quan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s seacham no andar térreo; desaparição súbita de moedas das minhas próprias mãos; pancadas, etc., etc.Mas, a aparição não se repetiu. Convém dizer que à noite conservávamos acesa uma lampadazinha.Ultimamente, estan<strong>do</strong> em Paris, a Sra. Mah on perguntou à sonâmbula <strong>do</strong> Sr. Cahagnet sepoderia dizer-lhe qual o Espírito que se lhe manifestara. A resposta foi esta:Vejo-o... É um homem revesti<strong>do</strong> da toga de juiz com amplas mangas. Objetou minha mulhernão ter si<strong>do</strong> assim que ele se lhe apresentara. Pouco importa. Digo-lhe que é a ele que eu vejo.Tomou as vestes que mais lhe convinham. Quan<strong>do</strong> vivo, foi juiz, muito demandista por natureza.Ao morrer, achava-se com a razão perturbada por motivo de um processo injusto que via quase39
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