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A COMUNICAÇÃO COMO DIREITO HUMANO: Um ... - DHnet

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ou administrativamente separadas; pode-se deixar uma cultura e passar a<br />

outra, ir e vir ‘entre’ as culturas e até falar e ouvir transfronteiras, mas podese<br />

dizer com boa doze de precisão onde a pessoa está em dado momento e<br />

em que direção se move. [...] Por fim, ‘multiculturalismo’ implica<br />

tacitamente que estar encerrado numa totalidade cultural é a maneira natural<br />

e portanto presumivelmente saudável de ser-no-mundo, enquanto todas as<br />

demais situações – ser ‘transcultural’, nutrir-se simultaneamente de ‘culturas<br />

diversas’ ou simplesmente não se preocupar com a ‘ambiguidade cultural’ de<br />

sua posição – são situações anormais, ‘híbridas’ e potencialmente<br />

monstruosas, mórbidas e impróprias para viver.<br />

É uma concepção que serve para os que defendem a ‘pureza’ das culturas contra a<br />

dominação do antigo colonizador territorial, agora colonizador via indústrias de cultura e<br />

mídia, a exemplo dos movimentos sociais latino-americanos contra o imperialismo cultural;<br />

também pode ser utilizado pelos defensores de uma ‘cultura superior’ contra ‘subculturas’,<br />

como os movimentos neonazistas, pró-apartheid, anti-islâmicos, anti- imigrantes, em vários<br />

países desenvolvidos; enfim são fenômenos de intolerância cultural, com motivos e impactos<br />

dos mais diversos, que tiveram como contraponto o multiculturalismo, um discurso político<br />

para administrar o convívio voluntário ou forçado das diferenças locais e globais.<br />

Boaventura também esclarece:<br />

A expressão multiculturalismo designa, originalmente, a coexistência de<br />

formas culturais ou de grupos caracterizados por culturas diferentes no seio<br />

de sociedades ‘modernas’. Rapidamente, contudo, o termo se tornou um<br />

modo de descrever as diferenças culturais em um contexto transnacional e<br />

global. Existem diferentes noções de multiculturalismo, nem todas de<br />

sentido emancipatório. O termo apresenta as mesmas dificuldades e os<br />

mesmos potenciais do conceito de ‘cultura’, um conceito central das<br />

humanidades e das ciências sociais e que, nas últimas décadas, se tornou um<br />

terreno explícito de lutas políticas (SANTOS; NUNES, 2003, p.26).<br />

Mas, não somente de lutas políticas, pois o cenário também foi de embates<br />

econômicos e, sobretudo ideológicos. E fazendo a dosagem de prioridades estavam as<br />

relações de poder, na grande maioria das vezes estabelecidas de forma desigual. Aí se<br />

encontram as principais críticas ao multiculturalismo. Para muitos intelectuais de esquerda,<br />

não passava de um braço ideológico do neoliberalismo, que frente às diferenças e<br />

divergências culturais preferiu consolidar um processo de tolerância à distância, que “não<br />

exige um envolvimento ativo com os ‘outros’ e reforça o sentimento de superioridade de<br />

quem fala de um autodesignado lugar de universalidade”( SANTOS; NUNES, 2003, p.31).<br />

Zizek, um dos críticos mais ferrenhos, faz as seguintes colocações:

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