A COMUNICAÇÃO COMO DIREITO HUMANO: Um ... - DHnet
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ideológico, sócio-econômico e cultural. A tecnologia e seu avanço, por si só, não determina a<br />
participação de todos e todas na comunicação.<br />
A evolução de um simples meio de distribuição para um meio de<br />
comunicação não é um mero problema técnico. Ela é evitada<br />
conscientemente, por boas ou más razões políticas. A diferenciação técnica<br />
entre emissor e receptor reflete-se na divisão de trabalho entre produtores e<br />
consumidores da sociedade; esse mecanismo adquire intenso contorno<br />
político na indústria da consciência. Em última análise, essa evolução reside<br />
na contradição básica entre classes dominantes e dominadas (de um lado, o<br />
capital monopolista ou a burocracia monopolista e, de outro, as massas<br />
dependentes). (ENZENSBERGER, 2003, p. 17).<br />
Portanto, seria fundamental aprofundar o debate científico e político sobre a relação<br />
dos modelos de desenvolvimento da comunicação empreendidos na modernidade e as<br />
possibilidades emancipatórias e/ou repressoras para a humanidade. A massificação da cultura<br />
através da reprodutibilidade da obra de arte e a industrialização dos meios de expressão, que<br />
passaram a também funcionar como instrumentos de entretenimento e propaganda, além de<br />
informar, foram um dos campos de estudos.<br />
O mercado global, tornando as mídias seu principal mantenedor, começou a ser<br />
desenhado como uma necessidade de transformação empreendido às artes, à cultura e, por<br />
conseguinte, à comunicação, pela possibilidade da reprodução da obra e disseminação às<br />
massas. <strong>Um</strong> dos primeiros a analisar os possíveis potenciais dessa transformação foi o<br />
filósofo alemão Walter Bejamim. Ele analisou os efeitos desse novo paradigma artísticocultural,<br />
procurando compreender e sistematizar as mudanças acarretadas pelas novas formas<br />
originais de arte, a partir de sua reprodutividade técnica. Tais transformações eram quase<br />
inevitáveis e não, necessariamente, trariam resultados negativos. Seu interesse estava mais na<br />
identificação dos aspectos positivos de tais mudanças. As tensões entre tradição e inovação,<br />
entre a grande arte e as culturas do povo.<br />
Multiplicando as cópias, elas transformam o evento produzido apenas uma<br />
vez num fenômeno de massas. Permitindo ao objeto reproduzido oferecer-se<br />
à visão e à audição em quaisquer circunstâncias, conferem-lhe atualidade<br />
permanente. Esses dois processos conduzem a um abalo considerável da<br />
realidade transmitida – a um abalo da tradição, que se constitui na<br />
contrapartida da crise por que passa a humanidade e a sua renovação atual.<br />
Estão em estreita correlação com os movimentos de massa hoje produzidos.<br />
Seu agente mais eficaz é o cinema. Mesmo considerado sob forma mais<br />
positiva – e até precisamente sob essa forma – não se pode apreender a<br />
significação social do cinema, caso seja negligenciado o seu aspecto<br />
destrutivo e catártico: a liquidação do elemento tradicional dentro da herança<br />
cultural. (BENJAMIM, 1980, p.8)<br />
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