A COMUNICAÇÃO COMO DIREITO HUMANO: Um ... - DHnet
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emergentes da arqueologia virtual de Pasárgada 2, “nome inventado de um lugar da nossa<br />
sociedade, de qualquer sociedade onde vivamos, a uma distância subjetivamente variável do<br />
lugar onde vivemos [...] proponho uma deslocação radical dentro de um mesmo lugar, o<br />
nosso” (SANTOS, 2005, p. 325).<br />
147<br />
Trata-se de uma arqueologia virtual porque só interessa escavar sobre o que<br />
não foi feito e, porque não foi feito, ou seja, porque é que as alternativas<br />
deixaram de o ser. Neste sentido, a escavação é orientada para os silêncios e<br />
para os silenciamentos, para as tradições suprimidas, para as experiências<br />
subalternas, para a perspectiva das vítimas, para os oprimidos, para as<br />
margens, para a periferia, para as fronteiras, para o sul do norte, para a fome<br />
da fartura, para a miséria da opulência, para a tradição do que não foi<br />
deixado existir, para os começos antes de serem fins, para a inteligibilidade<br />
que nunca foi compreendida, para as línguas e estilos de vida proibidos, para<br />
o lixo intratável do bem-estar mercantil, para o suor inscrito no pronto-avestir<br />
lavado, para a natureza nas toneladas de CO² imponderavelmente<br />
leves nos nossos ombros. Pela mudança de perspectiva e de escala, a utopia<br />
subverte as combinações hegemônicas do que existe, destotaliza os sentidos,<br />
desuniversaliza os universos, desorienta os mapas. Tudo isto com um único<br />
objetivo de descompor a cama onde as subjetividades dormem um sono<br />
injusto. (SANTOS, 2005, p. 325)<br />
O paradigma emergente não será erguido do nada, senão da própria crise da<br />
modernidade, das contradições geradas por ela, dos vazios não ocupados, das vozes<br />
sufocadas, da sua estrutura sólida que começava a se decompor e deixar escapar fragmentos<br />
antes aprisionados. O novo paradigma vai acontecer a partir das fissuras e rasuras forçadas<br />
pelo controverso que nunca aceitou adormecer totalmente. Três áreas de intenso conflito<br />
paradigmático fazem parte da ampla utopia construída por Boaventura (2005, p. 327): 1.<br />
Conhecimento e subjetividade. 2. Padrões de transformação social; 3. Poder e Política.<br />
Conforme uma analogia com a realidade global, poder-se-ia dizer que os conflitos<br />
paradigmáticos da primeira área acontecem no universo da globalidade; que os conflitos dos<br />
padrões de transformação social na dimensão do globalismo; e que os conflitos do poder e da<br />
política na dimensão da globalização. A essas três áreas de conflito agrega-se a quarta, a<br />
utopia moderna da comunicação e a utopia da comunicação emergente – o direito humano à<br />
comunicação. No entanto, os conflitos não têm uma data precisa para acabar.<br />
Na primeira área o conflito é sobretudo epistemológico, mas que termina por revelar<br />
as diferenças entre a subjetividade moderna e a pós-moderna. O centro desse conflito é o<br />
reconhecimento da validade do saber. A modernidade isolou e acumulou alguns saberes num<br />
espaço não acessível ao tempo, forjados no progresso científico e no desenvolvimento<br />
tecnológico. A temporalidade imutável fixou determinismos e formulou previsões. Esse