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A COMUNICAÇÃO COMO DIREITO HUMANO: Um ... - DHnet

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E, é claro, a forma ideal de ideologia deste capitalismo global é o<br />

multiculturalismo, a atitude que, a partir de uma posição global vazia, trata<br />

cada cultura local da maneira como o colonizador trata o povo colonizado –<br />

como ‘nativos’ cujos costumes devem ser cuidadosamente estudados e<br />

‘respeitados’. Ou seja, a relação entre o colonialismo imperialista tradicional<br />

e a autocolonização capitalista global é exatamente a mesma que a relação<br />

entre o imperialismo cultural ocidental e o multiculturalismo: assim como o<br />

capitalismo global implica o paradoxo da colonização sem a metrópole do<br />

Estado-nação colonizador, o multiculturalismo implica uma distância e/ou<br />

respeito eurocêntrico condescendente pelas culturas locais, sem raízes em<br />

alguma cultura particular própria. Em outras palavras, o multiculturalismo é<br />

uma forma repudiada, invertida e auto-referencial de racismo, um ‘racismo<br />

com distanciamento’ – ‘ respeita a identidade do Outro, concebendo o Outro<br />

como uma comunidade ‘autêntica’ e auto-contida em relação à qual ele, o<br />

multiculturalista, mantém uma distância possibilitada por sua posição<br />

universal privilegiada (ZIZEK, 2005, p. 32–33).<br />

O multiculturalismo, então, não poderia ser nunca uma opção emancipatória, pois<br />

nasceu das demandas de fortalecimento do próprio capitalismo global, que necessitava dar<br />

uma resposta aos resultados da globalização - como as mobilizações de povos africanos e<br />

asiáticos para a Europa, migrações dentro da própria Europa, e de latinos para os Estados<br />

Unidos e Canadá - e optou por uma política de tolerância, de convivência pacífica com os<br />

diferentes, mas não deixou de empregar uma violência, que silenciosa e não explícita,<br />

esmagou sem deixar muitos rastros as barreiras da homogeneização cultural. E ainda Zizek<br />

(2005, p. 35):<br />

A conclusão a ser tirada é que a problemática do multiculturalismo – a<br />

coexistência híbrida de diversos mundos da vida culturais – que hoje se<br />

impõe é a forma de aparecimento do seu oposto, da presença maciça do<br />

capitalismo como sistema mundial universal: atesta a homogeneização sem<br />

precedentes do mundo contemporâneo.<br />

No entanto, alguns autores destacaram uma diferenciação entre o multiculturalismo<br />

enquanto descrição e enquanto projeto. Enquanto descrição seria possível falar da “[...]<br />

existência de uma multiplicidade de culturas no mundo; [...] da co-existência de culturas<br />

diversas no espaço de um mesmo Estado-nação; e [...] da existência de culturas que se<br />

interinfluenciam tanto dentro como além do estado-nação”(STAM, 1997, p. 188-203 apud<br />

SANTOS; NUNES, 2003, p. 28) . Enquanto projeto político o objetivo poderia ser apenas<br />

acentuar o caráter de celebração e tolerância das diferenças ou reconhecer essas diferenças,<br />

promovendo o diálogo intercultural. A problemática não estaria, portanto, na origem do<br />

conceito, mas nas diversas formas de sua apropriação. E umas dessas formas seria a da<br />

globalização.

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