A COMUNICAÇÃO COMO DIREITO HUMANO: Um ... - DHnet
A COMUNICAÇÃO COMO DIREITO HUMANO: Um ... - DHnet
A COMUNICAÇÃO COMO DIREITO HUMANO: Um ... - DHnet
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
138<br />
E, é claro, a forma ideal de ideologia deste capitalismo global é o<br />
multiculturalismo, a atitude que, a partir de uma posição global vazia, trata<br />
cada cultura local da maneira como o colonizador trata o povo colonizado –<br />
como ‘nativos’ cujos costumes devem ser cuidadosamente estudados e<br />
‘respeitados’. Ou seja, a relação entre o colonialismo imperialista tradicional<br />
e a autocolonização capitalista global é exatamente a mesma que a relação<br />
entre o imperialismo cultural ocidental e o multiculturalismo: assim como o<br />
capitalismo global implica o paradoxo da colonização sem a metrópole do<br />
Estado-nação colonizador, o multiculturalismo implica uma distância e/ou<br />
respeito eurocêntrico condescendente pelas culturas locais, sem raízes em<br />
alguma cultura particular própria. Em outras palavras, o multiculturalismo é<br />
uma forma repudiada, invertida e auto-referencial de racismo, um ‘racismo<br />
com distanciamento’ – ‘ respeita a identidade do Outro, concebendo o Outro<br />
como uma comunidade ‘autêntica’ e auto-contida em relação à qual ele, o<br />
multiculturalista, mantém uma distância possibilitada por sua posição<br />
universal privilegiada (ZIZEK, 2005, p. 32–33).<br />
O multiculturalismo, então, não poderia ser nunca uma opção emancipatória, pois<br />
nasceu das demandas de fortalecimento do próprio capitalismo global, que necessitava dar<br />
uma resposta aos resultados da globalização - como as mobilizações de povos africanos e<br />
asiáticos para a Europa, migrações dentro da própria Europa, e de latinos para os Estados<br />
Unidos e Canadá - e optou por uma política de tolerância, de convivência pacífica com os<br />
diferentes, mas não deixou de empregar uma violência, que silenciosa e não explícita,<br />
esmagou sem deixar muitos rastros as barreiras da homogeneização cultural. E ainda Zizek<br />
(2005, p. 35):<br />
A conclusão a ser tirada é que a problemática do multiculturalismo – a<br />
coexistência híbrida de diversos mundos da vida culturais – que hoje se<br />
impõe é a forma de aparecimento do seu oposto, da presença maciça do<br />
capitalismo como sistema mundial universal: atesta a homogeneização sem<br />
precedentes do mundo contemporâneo.<br />
No entanto, alguns autores destacaram uma diferenciação entre o multiculturalismo<br />
enquanto descrição e enquanto projeto. Enquanto descrição seria possível falar da “[...]<br />
existência de uma multiplicidade de culturas no mundo; [...] da co-existência de culturas<br />
diversas no espaço de um mesmo Estado-nação; e [...] da existência de culturas que se<br />
interinfluenciam tanto dentro como além do estado-nação”(STAM, 1997, p. 188-203 apud<br />
SANTOS; NUNES, 2003, p. 28) . Enquanto projeto político o objetivo poderia ser apenas<br />
acentuar o caráter de celebração e tolerância das diferenças ou reconhecer essas diferenças,<br />
promovendo o diálogo intercultural. A problemática não estaria, portanto, na origem do<br />
conceito, mas nas diversas formas de sua apropriação. E umas dessas formas seria a da<br />
globalização.