A COMUNICAÇÃO COMO DIREITO HUMANO: Um ... - DHnet
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e Horkheimer. A passividade consumista do público apenas absorvia os produtos culturais,<br />
sem crítica, sem objeções. A indústria cultural ditava as regras de comportamento, os gostos,<br />
as verdades e mentiras, construía novos modelos de ética, com valores e ideais de vida bem<br />
adaptados a maquinaria capitalista. Não havia mais a necessidade de pensar, tudo já estava<br />
pronto e acabado, só restando às massas se apropriar dos produtos. Os efeitos não tinham<br />
como ser, de nenhuma forma, positivos, pois a questão não estava na ampliação do acesso,<br />
mas na qualidade dos conteúdos. A indústria cultural seria a mina não perecível do<br />
capitalismo.<br />
Essa aparelhagem inflada do prazer não torna a vida mais humana para os<br />
homens. A idéia de esgotar as possibilidades técnicas dadas, a idéia da plena<br />
utilização de capacidades vista do consumo estético, é própria do sistema<br />
econômico que recusa a utilização de capacidades quando se trata da<br />
eliminação da fome. (ADORNO, HORKHEIMER, 1985, p.130)<br />
O potencial revolucionário da industrialização da comunicação e da cultura estaria,<br />
portanto, na forma ou no conteúdo? Ou nos dois? Enzensberger termina por unir na sua teoria,<br />
sobre os meios de comunicação e o que denomina também de indústria da consciência, a<br />
forma e o conteúdo como potenciais emancipatórios e repressores, dependendo dos interesses<br />
a que deveria servir. Sua análise não é, nem de perto, totalizadora. Ele defende o poder<br />
revolucionário dos meios de comunicação, mesmo inseridos em uma realidade de indústria,<br />
com vistas apenas ao poder através do acúmulo de capital. Não deixa de reconhecer que as<br />
mídias eletrônicas alavancaram a indústria da consciência, quando “tornou-se o marca-passo<br />
do desenvolvimento socioeconômico das sociedades industriais tardias” (ENZENSBERGER,<br />
2003, p.11). A invasão, por esta indústria, de todos os outros setores da produção, assumindo<br />
cada vez mais funções de comando e de controle, determinou o padrão da tecnologia<br />
dominante. Esse padrão, chamado a partir do final dos anos 1970 de Indústrias Culturais,<br />
consolidou a informação, o conhecimento e os bens culturais como fontes de poder e,<br />
principalmente, de capital.<br />
No entanto, o processo de aceleração, empreendido pelo capitalismo ainda<br />
monopolista, das indústrias culturais, terminou por gerar suas próprias contradições e, ao<br />
mesmo tempo, “ele deve retê-la”. Só que dependendo das “condições produtivas de um<br />
determinado momento o problema é insolúvel; discrepâncias cada vez maiores são geradas de<br />
forma acelerada e são explosivas em potencial [...]” (ENZENSBERGER, 2003, p.12). Seriam<br />
essas fissuras, através do uso das mídias para repressão, que deveriam ser ocupadas por um<br />
outro modelo de comunicação, o uso das mídias para emancipação.<br />
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