Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência
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Tinha cabelos louros e um rosto tão largo e vigoroso quanto o <strong>de</strong> Lancelote,<br />
seu meio-irmão, era estreito e <strong>de</strong>licado. Tal como Artur, a sua fi gura<br />
inspirava confi ança e se todos os Cristãos tivessem sido como Galaad, creio<br />
que teria abraçado o culto da cruz naqueles dias longínquos.<br />
— Passámos a noite do outro lado da montanha — indicou com um<br />
gesto a estrada atrás <strong>de</strong> nós — e meta<strong>de</strong> dos homens fi caram enregelados;<br />
vocês, no entanto, <strong>de</strong>vem ter <strong>de</strong>scansado ali, não? — Apontou para a coluna<br />
<strong>de</strong> fumo que ainda se <strong>de</strong>sprendia da nossa fogueira.<br />
— Quentes e secos — disse eu, e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> os recém-chegados terem<br />
saudado os seus velhos camaradas, eu próprio os abracei a todos e disse a<br />
Ceinwyn como se chamavam. Um por um ajoelharam e juraram-lhe lealda<strong>de</strong>.<br />
Todos sabiam que ela se escapulira da sua festa <strong>de</strong> noivado para se<br />
juntar a mim, e amavam-na por isso, erguendo agora as lâminas <strong>de</strong>scobertas<br />
das espadas para que as mesmas pu<strong>de</strong>ssem ser agraciadas com o seu<br />
toque real. — E que é feito dos outros homens? — perguntei a Galaad.<br />
— Foram juntar-se a Artur. — Fez uma careta. — Nenhum dos cristãos<br />
veio comigo, infelizmente. Exceto eu.<br />
— Achas que um Cal<strong>de</strong>irão pagão compensa tudo isto? — perguntei<br />
eu, indicando com um gesto a estrada gelada que se estendia à nossa frente.<br />
— Diwrnach espera-nos no fi m da estrada, meu amigo — disse Galaad<br />
— e segundo oiço dizer, a sua cruelda<strong>de</strong> iguala tudo o que alguma<br />
vez possa ter saído <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro do covil do diabo. A missão <strong>de</strong> um cristão é<br />
combater o mal e por isso aqui estou.<br />
Saudou Merlim e Nimue e, em seguida, enquanto príncipe com a<br />
mesma condição social <strong>de</strong> Ceinwyn, abraçou-a.<br />
— Sois uma mulher afortunada — ouvi-o sussurrar.<br />
Ela sorriu e beijou-lhe a face.<br />
— E agora mais ainda, meu Príncipe, pois estais aqui connosco.<br />
— Isso é verda<strong>de</strong>, claro. — Galaad <strong>de</strong>u um passo atrás e o seu olhar<br />
pousou em cada um <strong>de</strong> nós, alternadamente. — Toda a Bretanha fala <strong>de</strong><br />
vocês os dois.<br />
— Porque toda a Bretanha está cheia <strong>de</strong> línguas ociosas — interveio<br />
Merlim, num surpreen<strong>de</strong>nte acesso <strong>de</strong> mau génio — e temos uma viagem<br />
pela frente quando os dois tiverem dado por terminada a tagarelice.<br />
O seu rosto estava tenso e o seu humor irritadiço. Atribuí-o à ida<strong>de</strong> e<br />
ao caminho árduo que percorríamos em tempo frio e fi z por não pensar no<br />
seu juramento <strong>de</strong> morte.<br />
A travessia das montanhas <strong>de</strong>morou outros dois dias. A Estrada Sombria<br />
não era longa, mas era aci<strong>de</strong>ntada, seguindo por colinas íngremes e<br />
furando vales profundos on<strong>de</strong> o mais ínfi mo dos sons ressoava cavernoso<br />
e frio nas pare<strong>de</strong>s geladas. Encontrámos um povoado abandonado on<strong>de</strong><br />
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