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Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência

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— Tenho poucos guerreiros, Lor<strong>de</strong> Derfel — prosseguiu na sua voz<br />

controlada — e não quero que as vossas lanças me façam per<strong>de</strong>r mais nenhum.<br />

Mas mais cedo ou mais tar<strong>de</strong>, tereis <strong>de</strong> sair do meio das rochas e eu<br />

estarei à vossa espera, e enquanto estiver à vossa espera, <strong>de</strong>ixarei que a minha<br />

imaginação se eleve a novos cumes. Apresentai os meus cumprimentos<br />

à princesa Ceinwyn e dizei-lhe que aguardo com ansieda<strong>de</strong> o momento em<br />

que possamos conhecer-nos melhor.<br />

Ergueu a lança numa saudação trocista e em seguida fez o caminho <strong>de</strong><br />

volta até ao círculo <strong>de</strong> cavaleiros negros, que nesse momento cercavam por<br />

completo o monte.<br />

Deixei-me cair na taça encaixada no centro do monte e percebi que<br />

fosse o que fosse que encontrássemos, seria <strong>de</strong>masiado tar<strong>de</strong> para Merlim.<br />

A morte estava estampada no seu rosto. O maxilar estava <strong>de</strong>scaído e<br />

os olhos tão vazios como o espaço entre os mundos. Os <strong>de</strong>ntes tiritaram<br />

uma vez em sinal <strong>de</strong> que ainda vivia, mas essa vida era agora um ténue fi o<br />

que estava a esboroar-se rapidamente. Nimue pegara na faca <strong>de</strong> Ceinwyn e<br />

começara a escarafunchar e a <strong>de</strong>sfazer as pedras pequenas que enchiam a<br />

concavida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> nos encontrávamos, enquanto Ceinwyn, uma expressão<br />

exausta no rosto, sucumbira junto a um rochedo, tremendo e observando<br />

as escavações <strong>de</strong> Nimue. Fosse qual fosse o transe que se tinha apo<strong>de</strong>rado<br />

<strong>de</strong> Ceinwyn, neste momento já passara e eu aju<strong>de</strong>i-a a limpar a porcaria das<br />

mãos, <strong>de</strong>scobri o seu fato <strong>de</strong> pele <strong>de</strong> lobo e cobri-a.<br />

Ela puxou as luvas.<br />

— Tive um sonho — sussurrou-me — e vi o fi m.<br />

— O nosso fi m? — perguntei, alarmado.<br />

Ela abanou a cabeça.<br />

— O fi m <strong>de</strong> Ynys Mon. Havia linhas <strong>de</strong> soldados, Derfel, vestidos com<br />

saias e couraças romanas e elmos <strong>de</strong> bronze. Gran<strong>de</strong>s linhas <strong>de</strong> soldados,<br />

com os braços que manejavam as espadas tingidos <strong>de</strong> sangue até aos ombros,<br />

porque matavam, matavam e continuavam a matar. Atravessavam as fl orestas<br />

formando uma enorme linha e matando, apenas. As armas subiam e <strong>de</strong>sciam,<br />

todas as mulheres e crianças fugiam, só que não havia sítio para fugir e<br />

os soldados cercavam-nos cada vez mais, massacrando-os. Crianças, Derfel!<br />

— E os druidas?<br />

— Todos mortos. Todos, exceto três, e trouxeram o Cal<strong>de</strong>irão para<br />

aqui. Já tinham aberto um poço para o colocar, percebes, antes <strong>de</strong> os Romanos<br />

terem atravessado as águas, e enterraram-no aqui, cobrindo-o <strong>de</strong>pois<br />

com pedras tiradas do lago; <strong>de</strong>pois cobriram as pedras com cinzas e atearam<br />

um fogo com as suas próprias mãos para que os Romanos pensassem<br />

que nada po<strong>de</strong>ria estar enterrado aqui. E <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> tudo isto estar feito,<br />

caminharam cantando na direção dos bosques para morrer.<br />

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