Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência
Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência
Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
— Diwrnach, Merlim, ensina a um homem como há <strong>de</strong> ser bom vizinho.<br />
Permitirei que atravesses o meu território, pois temo as pragas que<br />
me possas rogar se o não fi zer. Mas nem um dos meus homens te acompanhará,<br />
e quando os teus ossos forem enterrados nas areias <strong>de</strong> Lleyn, direi<br />
a Diwrnach que nada tive a ver com o facto <strong>de</strong> teres violado a minha proprieda<strong>de</strong>.<br />
— Ireis revelar-lhe a estrada que vamos tomar? — perguntou Merlim,<br />
já que nesse momento tínhamos <strong>de</strong> escolher entre duas estradas. Uma contornava<br />
a costa e era a estrada para norte habitualmente usada no inverno,<br />
e a outra era a Estrada Sombria que muitos homens reconheciam ser intransitável<br />
durante o inverno. Merlim esperava que viajando pela Estrada<br />
Sombria pu<strong>de</strong>sse surpreen<strong>de</strong>r Diwrnach e sair <strong>de</strong> Ynys Mon antes mesmo<br />
que ele tivesse dado pela nossa presença.<br />
Cadwallon sorriu pela única vez naquela noite.<br />
— Ele já sabe — disse o rei, olhando <strong>de</strong>pois para Ceinwyn, a fi gura<br />
mais resplan<strong>de</strong>cente entre todas as que se encontravam no salão escurecido<br />
pelo fumo. — E sem dúvida que aguarda ansiosamente a vossa chegada.<br />
Será que Diwrnach sabia que estávamos a pensar percorrer a Estrada<br />
Sombria? Ou estaria Cadwallon a fazer conjeturas? Fosse como fosse, cuspi,<br />
para que todos fi cássemos protegidos do mal. O solstício estava para breve,<br />
a longa noite do ano em que a vida está em <strong>de</strong>clínio, a esperança vacila e<br />
os <strong>de</strong>mónios dominam os ares. E seria nessa altura que atravessaríamos a<br />
Estrada Sombria.<br />
Cadwallon tomava-nos por loucos, Diwrnach aguardava-nos e nós<br />
cobrimo-nos com as nossas peles e adormecemos.<br />
Na manhã seguinte, o Sol brilhava, transformando os cumes circundantes<br />
em espigões <strong>de</strong> um branco ofuscante que feria os olhos. O céu estava<br />
quase límpido e um vento forte arrancava a neve ao solo, formando<br />
nuvens <strong>de</strong> partículas reluzentes que <strong>de</strong>slizavam com suavida<strong>de</strong> ao longo da<br />
terra alva. Carregámos os póneis, aceitámos a pele <strong>de</strong> carneiro com que Cadwallon<br />
nos presenteou <strong>de</strong> má vonta<strong>de</strong> e iniciámos a nossa marcha na direção<br />
da Estrada Sombria, que começava precisamente a norte <strong>de</strong> Caer Gei.<br />
Era uma estrada <strong>de</strong>spovoada, on<strong>de</strong> não havia uma única quinta, uma só<br />
alma que nos oferecesse abrigo. Nada, a não ser um trilho aci<strong>de</strong>ntado que<br />
furava a barreira formada pelas montanhas agrestes e protegia o coração do<br />
território <strong>de</strong> Cadwallon dos Escudos Sanguinários <strong>de</strong> Diwrnach. Dois postes<br />
assinalavam o início da estrada, ambos encimados por crânios humanos<br />
embrulhados em farrapos e <strong>de</strong> on<strong>de</strong> pendiam longos pingentes <strong>de</strong> gelo que<br />
retiniam embalados pelo vento. Os crânios estavam virados para norte, na<br />
104