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Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência

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tu estarás comigo. — E recusou-se a dar ouvidos a outros argumentos. Não<br />

era mulher para se vergar à autorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um homem. A sua <strong>de</strong>cisão estava<br />

tomada.<br />

Depois, é claro, conversámos sobre os acontecimentos dos últimos<br />

dias e as nossas palavras jorraram <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nadas. Estávamos apaixonados,<br />

tão enfeitiçados um pelo outro como Artur por Guinevere e não nos cansávamos<br />

<strong>de</strong> querer conhecer os pensamentos e as histórias <strong>de</strong> ambos. Mostrei-lhe<br />

o osso <strong>de</strong> porco e ela riu quando lhe disse que esperara até ao último<br />

momento antes <strong>de</strong> o partir em dois.<br />

— Na verda<strong>de</strong>, não sabia se ousaria virar costas a Lancelote — admitiu<br />

Ceinwyn. — Desconhecia tudo sobre o osso, claro. Pensei que tivesse sido<br />

Guinevere quem me tinha forçado a tomar uma <strong>de</strong>cisão.<br />

— Guinevere? — perguntei, surpreendido.<br />

— Não consegui suportar o seu regozijo. Será que isso faz <strong>de</strong> mim<br />

uma pessoa horrível? Senti-me como se fosse o seu gatinho <strong>de</strong> estimação e<br />

não consegui suportá-lo. — Caminhou em silêncio durante algum tempo.<br />

Folhas caíam das árvores, a maioria das quais estavam ainda ver<strong>de</strong>s. Nessa<br />

manhã, ao acordar na primeira madrugada que passei em Cwm Isaf, vira<br />

uma andorinha levantar voo do telhado. Não voltou e calculei que até à<br />

primavera não tornaríamos a ver mais nenhuma. Ceinwyn caminhava <strong>de</strong>scalça<br />

ao longo da margem do ribeiro, a sua mão na minha.<br />

— E tenho andado a pensar naquela profecia do leito <strong>de</strong> caveiras —<br />

continuou. — Acho que signifi ca que não <strong>de</strong>vo casar-me. Estive noiva por<br />

três vezes, Derfel, três vezes! E por três vezes perdi o meu prometido. Se isso<br />

não é uma mensagem dos Deuses, o que é então?<br />

— Oiço Nimue — disse eu.<br />

Ela riu.<br />

— Gosto <strong>de</strong>la.<br />

— Nunca po<strong>de</strong>ria imaginar que vocês gostassem uma da outra —<br />

confessei.<br />

— E porque não haveríamos <strong>de</strong> gostar? Gosto do seu caráter beligerante.<br />

Temos <strong>de</strong> agarrar a vida com as nossas próprias mãos, não submeter-nos<br />

a ela. Durante toda a minha vida, Derfel, fi z aquilo que as pessoas<br />

me diziam para fazer. Sempre fui muito bem-comportada — disse, dando<br />

à expressão «bem-comportada» uma infl exão irónica. — Sempre fui aquela<br />

rapariguinha obediente, a fi lha respeitadora. Era fácil, claro, pois o meu pai<br />

gostava <strong>de</strong> mim e ele gostava <strong>de</strong> muito poucas pessoas, mas <strong>de</strong>ram-me tudo<br />

o que sempre quis e, em troca, tudo o que queriam <strong>de</strong> mim era que eu fosse<br />

bonita e obediente. E eu era muito obediente.<br />

— Bonita, também.<br />

Enterrou um cotovelo nas minhas costelas, num gesto <strong>de</strong> reprovação.<br />

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