Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência
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do que estar casada com Lancelote e po<strong>de</strong>r sentar-se num trono? E tu? —<br />
perguntou ele, inesperadamente.<br />
— Eu, senhor? — Por momentos pensei que ele estaria a sugerir que<br />
eu <strong>de</strong>veria <strong>de</strong>sposar Ceinwyn e o meu coração teve um sobressalto.<br />
— Tens quase trinta anos — disse, — é tempo <strong>de</strong> te casares. Trataremos<br />
disso <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> regressarmos a Dumnónia. Agora, quero que vás até<br />
Powys.<br />
— Eu, senhor? Powys?<br />
Tínhamos acabado <strong>de</strong> combater e <strong>de</strong> <strong>de</strong>rrotar o exército <strong>de</strong> Powys e<br />
não me passava pela cabeça que alguém em Powys estivesse disposto a acolher<br />
amigavelmente um guerreiro inimigo.<br />
Artur agarrou-me pelo braço.<br />
— O facto mais importante das próximas semanas, Derfel, é garantir<br />
que Cuneglas seja proclamado rei <strong>de</strong> Powys. Ele julga que ninguém o <strong>de</strong>safi<br />
ará, mas quero estar certo disso. Quero um dos meus homens em Caer<br />
Sws para servir <strong>de</strong> testemunha da nossa amiza<strong>de</strong>. Nada mais. Quero apenas<br />
que todo aquele que pense em lançar um <strong>de</strong>safi o saiba que terá <strong>de</strong> lutar comigo<br />
e com Cuneglas. Se lá estiveres e se fores visto como amigo <strong>de</strong>le, essa<br />
mensagem será clara.<br />
— Nesse caso, porque não enviar uma centena <strong>de</strong> homens? — perguntei<br />
eu.<br />
— Porque assim parecerá que estamos a impor Cuneglas no trono <strong>de</strong><br />
Powys. Não quero isso. Preciso <strong>de</strong>le como amigo e não quero que ele regresse<br />
a Powys como um homem <strong>de</strong>rrotado. Além disso — sorriu, — vales<br />
tanto como uma centena <strong>de</strong> homens, Derfel. Provaste isso ontem.<br />
Fiz uma careta, pois os elogios extravagantes <strong>de</strong>ixavam-me sempre<br />
pouco à vonta<strong>de</strong>. No entanto, se o elogio signifi cava que eu era o homem<br />
certo para ser o enviado <strong>de</strong> Artur a Powys, então sentia-me feliz por isso,<br />
pois estaria <strong>de</strong> novo perto <strong>de</strong> Ceinwyn. Ainda conservava a preciosa recordação<br />
do toque <strong>de</strong>la na minha mão, da mesma forma que guardava religiosamente<br />
o pregador que ela me <strong>de</strong>ra há tantos anos. Ela ainda não estava<br />
casada com Lancelote, disse para comigo mesmo, e tudo o que eu queria<br />
era uma oportunida<strong>de</strong> para me entregar <strong>de</strong> corpo e alma às minhas esperanças<br />
impossíveis.<br />
— E <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Cuneglas ter sido proclamado rei — perguntei, — que<br />
faço então?<br />
— Esperas por mim — disse Artur. — Seguirei para Powys logo que<br />
possa, e uma vez assinada a paz e assegurado o noivado <strong>de</strong> Lancelote, regressaremos<br />
a casa. E no próximo ano, meu amigo, comandaremos os exércitos<br />
da Bretanha contra os Saxões. — Sentia um prazer raro ao falar da arte<br />
<strong>de</strong> guerrear. Era um bom soldado, que gostava das batalhas graças às emo-<br />
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