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Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência

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— E porque não o fazemos? — perguntei.<br />

— Porque prometi a Silúria a Lancelote — disse ele, numa voz que não<br />

admitia oposição.<br />

Eu nada disse, limitando-me a tocar o punho <strong>de</strong> Hywelbane, para que<br />

o ferro protegesse a minha alma das coisas <strong>de</strong>moníacas daquela noite. Olhei<br />

para sul, na direção do local on<strong>de</strong> os mortos jaziam mansamente e, como o<br />

curso <strong>de</strong> um regato, junto à sebe <strong>de</strong> árvores on<strong>de</strong> os meus homens tinham<br />

combatido o inimigo durante aquele longo dia.<br />

Muitos homens valentes tinham participado naquele combate. Lancelote,<br />

no entanto, não o fi zera. Ao longo <strong>de</strong> todos estes anos que tenho<br />

combatido por Artur e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que conheço Lancelote, nunca o vi combater<br />

no escudo <strong>de</strong>fensivo. Vira-o perseguir fugitivos <strong>de</strong>rrotados, ou fazer prisioneiros<br />

e exibi-los perante multidões excitadas, mas nunca me fora dado<br />

vê-lo sofrer os efeitos da pressão terrível, abrasadora e clangorosa da luta árdua<br />

no perímetro <strong>de</strong> um escudo <strong>de</strong>fensivo. Ele era o rei exilado <strong>de</strong> Benoic,<br />

<strong>de</strong>stronado pela horda <strong>de</strong> francos que tinham irrompido da Gália <strong>de</strong>cididos<br />

a apagar da memória dos homens o reino <strong>de</strong> seu pai, e nem uma vez,<br />

tanto quanto me era dado saber, brandira uma lança contra um grupo <strong>de</strong><br />

guerreiros francos, apesar <strong>de</strong> a sua bravura ser cantada por todos os bardos<br />

<strong>de</strong> norte a sul da Bretanha. Ele era Lancelote, o rei sem terra, o herói <strong>de</strong> cem<br />

combates, a espada dos Bretões, o formoso senhor da <strong>de</strong>sventura, o mo<strong>de</strong>lo<br />

da perfeição, e toda a sua reputação fora construída ao som <strong>de</strong> melodias e<br />

não, pelo que eu sabia, com uma espada. Eu era seu inimigo, e ele meu, mas<br />

ambos éramos amigos <strong>de</strong> Artur e essa amiza<strong>de</strong> impunha tréguas pouco<br />

cómodas à nossa inimiza<strong>de</strong>.<br />

Artur conhecia a minha hostilida<strong>de</strong>. Tocou-me no cotovelo fazendo<br />

sinal para que ambos caminhássemos para sul, na direção do tapete <strong>de</strong><br />

mortos.<br />

— Lancelote é amigo <strong>de</strong> Dumnónia — insistiu ele — e se for ele a<br />

governar a Silúria, não teremos nada a temer. Além disso, se Lancelote <strong>de</strong>sposar<br />

Ceinwyn, contará também com o apoio <strong>de</strong> Powys.<br />

Pronto, estava dito, e agora a minha hostilida<strong>de</strong> misturava-se com um<br />

sentimento <strong>de</strong> raiva. Todavia, nada disse contra os planos <strong>de</strong> Artur. Que<br />

po<strong>de</strong>ria eu dizer? Era fi lho <strong>de</strong> um escravo saxão, um jovem guerreiro com<br />

um bando <strong>de</strong> homens mas sem terra, e Ceinwyn era uma princesa <strong>de</strong> Powys.<br />

Chamavam-na Seren, a estrela, e ela cintilava numa terra sem interesse<br />

como uma centelha <strong>de</strong> Sol caída na lama. Estivera noiva <strong>de</strong> Artur, mas per<strong>de</strong>ra-o<br />

para Guinevere, e essa perda <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ara a guerra que neste momento<br />

chegava ao fi m com o massacre do Vale do Lugg. Agora, em nome<br />

da paz, Ceinwyn <strong>de</strong>veria <strong>de</strong>sposar Lancelote, o meu inimigo, enquanto eu,<br />

que valia pouco mais que nada, estava apaixonado por ela. Usava o prega-<br />

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