13.04.2013 Views

Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência

Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência

Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

mia no interior da tenda em torno da qual se perfi lavam os meus homens<br />

formando um anel protetor.<br />

O rei vestia uma armadura <strong>de</strong> couro negro por baixo da capa e não<br />

usava elmo. O seu escudo parecia lascado pela ferrugem e eu supus que as<br />

lascas fossem as camadas <strong>de</strong> sangue seco, da mesma forma que a cobertura<br />

<strong>de</strong> pele só po<strong>de</strong>ria ser a pele esfolada <strong>de</strong> uma jovem escrava. Deixou o escudo<br />

sinistro suspenso ao lado da bainha da longa espada negra enquanto<br />

refreava o cavalo e apoiava a extremida<strong>de</strong> da enorme lança no chão.<br />

— Sou Diwrnach — disse ele.<br />

Inclinei a cabeça perante ele.<br />

— Sou Derfel, meu Rei.<br />

Ele sorriu.<br />

— Bem-vindo a Ynys Mon, Lor<strong>de</strong> Derfel Cadarn — disse ele, e não<br />

restavam dúvidas <strong>de</strong> que queria surpreen<strong>de</strong>r-me revelando que conhecia<br />

o meu nome completo e o meu título, embora o que mais me tivesse espantado<br />

fosse o facto <strong>de</strong> ele ser um homem atraente. Estava à espera <strong>de</strong><br />

encontrar um vampiro <strong>de</strong> nariz adunco, uma personagem saída <strong>de</strong> um pesa<strong>de</strong>lo.<br />

Diwrnach, porém, estava no início da maturida<strong>de</strong>, tinha uma testa<br />

larga, uma boca gran<strong>de</strong> e uma barba negra bem aparada, que acentuava<br />

uma linha do maxilar pronunciada. A sua aparência nada tinha <strong>de</strong> <strong>de</strong>mente,<br />

embora ele tivesse <strong>de</strong> facto um olho vermelho, o que era sufi ciente para o<br />

tornar uma fi gura assustadora. Encostou a lança ao fl anco do cavalo e tirou<br />

um bolo <strong>de</strong> farinha <strong>de</strong> aveia <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma bolsa. — Pareceis estar com<br />

fome, Lor<strong>de</strong> Derfel — disse ele.<br />

— O inverno é uma época <strong>de</strong> fome, meu Rei.<br />

— Mas com certeza que não ireis recusar a minha oferenda? — Partiu<br />

o bolo <strong>de</strong> aveia em dois e atirou-me uma das meta<strong>de</strong>s. — Comei.<br />

Aceitei o bolo e, em seguida, hesitei.<br />

— Jurei que não comeria, senhor, até ter cumprido a minha missão.<br />

— A vossa missão! — provocou-me. Depois, em movimentos lentos,<br />

enfi ou a meta<strong>de</strong> <strong>de</strong>le na boca. — Não estava envenenada, Lor<strong>de</strong> Derfel —<br />

disse, quando acabou <strong>de</strong> a comer.<br />

— E porque haveria <strong>de</strong> estar, meu Rei?<br />

— Porque eu sou Diwrnach e tenho muitas formas <strong>de</strong> matar os meus<br />

inimigos. — Tornou a sorrir. — Falai-me sobre a vossa missão, Lor<strong>de</strong> Derfel.<br />

— Vim para rezar, meu Rei.<br />

— Oh! — exclamou ele, proferindo a interjeição como se preten<strong>de</strong>sse<br />

sugerir que eu tinha clarifi cado todo aquele mistério por completo. — E as<br />

orações proferidas em Dumnónia são assim tão pouco efi cazes?<br />

— Estamos em território sagrado, senhor — disse eu.<br />

119

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!