Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência
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— É uma honra <strong>de</strong>masiado elevada para mim, senhor — disse eu,<br />
cauteloso. — Além do mais, o paladino <strong>de</strong> Mordred sois vós.<br />
— O Príncipe Artur — disse Guinevere, pois gostava <strong>de</strong> o tratar por<br />
Príncipe, ainda que ele fosse fi lho bastardo — já presi<strong>de</strong> ao Conselho. Não<br />
po<strong>de</strong> ser paladino em simultâneo, a não ser que se espere que seja ele a fazer<br />
tudo o que há a fazer em Dumnónia.<br />
— É certo, senhora — disse eu. Não era avesso à honra, pois a mesma<br />
era elevada, embora tivesse um preço. Em caso <strong>de</strong> batalha, teria <strong>de</strong> lutar<br />
contra todo e qualquer paladino que se apresentasse para um combate individual,<br />
mas em tempo <strong>de</strong> paz, essa honra traduzir-se-ia em riquezas e<br />
num estatuto muito acima da minha condição presente. Já tinha o título <strong>de</strong><br />
Lor<strong>de</strong>, bem como os homens condizentes com esse tipo <strong>de</strong> título e o direito<br />
<strong>de</strong> pintar a minha própria divisa nos escudos <strong>de</strong>sses homens. No entanto<br />
estas honrarias eram partilhadas com outros quarenta senhores da guerra<br />
<strong>de</strong> Dumnónia. Como paladino do rei, tornar-me-ia o principal guerreiro<br />
<strong>de</strong> Dumnónia, embora eu não conseguisse ver <strong>de</strong> que modo é que um homem,<br />
fosse ele quem fosse, po<strong>de</strong>ria reclamar esse estatuto enquanto Artur<br />
fosse vivo. Ou enquanto Sagramor fosse vivo, <strong>de</strong> facto.<br />
— Sagramor — disse, cauteloso — é melhor guerreiro do que eu, meu<br />
Príncipe. — Na presença <strong>de</strong> Guinevere não podia esquecer-me <strong>de</strong> o tratar<br />
ocasionalmente por Príncipe, embora este título lhe <strong>de</strong>sagradasse.<br />
Artur <strong>de</strong>moliu a minha objeção.<br />
— Vou nomear Sagramor Senhor das Pedras — disse ele. — É tudo o<br />
que ele quer. — A tutela das Pedras transformaria Sagramor no responsável<br />
pela fronteira saxónica e não me era difícil acreditar que o negro Sagramor,<br />
pele e olhos escuros, fi caria bem satisfeito com uma nomeação <strong>de</strong> características<br />
tão bélicas. — Tu, Derfel — bateu-me no peito, — serás o paladino.<br />
— E quem — perguntei num tom seco — será a esposa do paladino?<br />
— A minha irmã, Gwenhwyvach — disse Guinevere, olhando-me fi -<br />
xamente.<br />
Senti-me agra<strong>de</strong>cido por ter sido prevenido por Merlim.<br />
— Conce<strong>de</strong>is-me uma honra <strong>de</strong>masiado elevada, senhora — disse eu,<br />
suavemente.<br />
Guinevere sorriu, satisfeita pelo facto <strong>de</strong> as minhas palavras implicarem<br />
aceitação.<br />
— Alguma vez pensaste vir a casar com uma princesa, Derfel?<br />
— Não, senhora — disse eu. Gwenhwyvach, tal como Guinevere,<br />
era <strong>de</strong> facto uma princesa, uma princesa <strong>de</strong> Henis Wyren, embora Henis<br />
Wyren já não existisse. O infeliz reino chamava-se agora Lleyn e era governado<br />
pelo tenebroso invasor irlandês, o rei Diwrnach.<br />
Guinevere <strong>de</strong>u um puxão nas trelas para conter a excitação dos cães.<br />
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