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Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência

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Um bando <strong>de</strong> lavandiscas sarapintadas levantou voo no meio da neblina<br />

que envolvia o ribeiro, que se estendia diante <strong>de</strong> nós.<br />

— Fui sempre obediente — disse Ceinwyn, tristonha. — Sabia que<br />

teria <strong>de</strong> casar com aquele que escolhessem para meu marido, e isso não me<br />

preocupava porque é o que fazem as fi lhas dos reis. Lembro-me da felicida<strong>de</strong><br />

que senti quando conheci Artur. Julguei que a vida afortunada que tivera<br />

até esse momento iria prolongar-se in<strong>de</strong>fi nidamente. Tinha sido agraciada<br />

com um homem tão bom. Então, subitamente, ele esfumou-se.<br />

— E nem sequer reparaste em mim — disse eu.<br />

Eu era o mais jovem dos lanceiros da guarda <strong>de</strong> Artur quando ele viera<br />

a Caer Sws, a fi m <strong>de</strong> celebrar o seu noivado com Ceinwyn. Foi nessa altura<br />

que ela me <strong>de</strong>u o pequeno pregador que ainda usava nessa época. Ela<br />

presenteara toda a escolta <strong>de</strong> Artur, mas nunca soube o fogo que ateara na<br />

minha alma, nesse dia.<br />

— Tenho a certeza que reparei em ti, sim — disse ela. — Quem po<strong>de</strong>ria<br />

ignorar um latagão gran<strong>de</strong>, <strong>de</strong>sajeitado e com cabelos louro-palha como<br />

tu? — Riu e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>ixou que a ajudasse a saltar por cima <strong>de</strong> um carvalho<br />

<strong>de</strong>rrubado. Usava o mesmo vestido <strong>de</strong> linho que vestira na noite anterior,<br />

embora a saia clara estivesse agora manchada <strong>de</strong> lama e musgo. — Em seguida<br />

fi quei noiva <strong>de</strong> Caelgyn <strong>de</strong> Rheged — continuou o seu relato — e<br />

já não estava tão certa <strong>de</strong> ser uma pessoa afortunada. Era um bruto intratável,<br />

mas prometeu ao meu pai uma centena <strong>de</strong> lanceiros e uma quantia<br />

em ouro como dote e eu convenci-me <strong>de</strong> que seria feliz na mesma, ainda<br />

que tivesse <strong>de</strong> ir viver para Rheged. Mas Caelgyn morreu com uma febre.<br />

Depois houve Gundleus. — A recordação fê-la franzir o sobrolho. — Nesse<br />

momento compreendi que não passava <strong>de</strong> um peão num jogo <strong>de</strong> guerra. O<br />

meu pai amava-me, mas ter-me-ia entregue a Gundleus, se isso signifi casse<br />

mais armas para lutar contra Artur. Foi aí que compreendi pela primeira<br />

vez que nunca seria feliz a não ser que eu própria construísse a minha felicida<strong>de</strong>,<br />

e foi precisamente nessa altura que tu e Galaad vieram visitar-nos.<br />

Lembras-te?<br />

— Lembro. — Acompanhara Galaad na sua fracassada missão <strong>de</strong> paz<br />

e Gorfyddyd, em jeito <strong>de</strong> insulto, obrigara-nos a jantar nos aposentos das<br />

mulheres. Aí, à luz das velas, ao som da música tocada por uma harpista,<br />

conversara com Ceinwyn e jurara protegê-la.<br />

— Tu importavas-te com a minha felicida<strong>de</strong>.<br />

— Estava apaixonado por ti — confessei. — Era um cão latindo a uma<br />

estrela.<br />

Ela sorriu.<br />

— Depois veio Lancelote. O adorável Lancelote. O bonito Lancelote.<br />

Todos me diziam que eu era a mulher mais afortunada da Bretanha, mas<br />

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