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Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência

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<strong>de</strong>la no momento em que fora capturada numa incursão dumnoniana.<br />

Tinham-me dito que ela ainda estava viva e que estava na Silúria, mas nunca<br />

mais a vira <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o dia em que o druida Tanaburs me arrancara dos<br />

braços <strong>de</strong>la e tentara matar-me no poço da morte. Merlim criara-me e eu<br />

tinha-me tornado bretão, um amigo <strong>de</strong> Artur e o homem que tinha levado<br />

a estrela <strong>de</strong> Powys do castelo do irmão <strong>de</strong>la. Que fi o <strong>de</strong> vida tão estranho,<br />

pensei, e como era triste que tivesse <strong>de</strong> ser cortado tão cedo aqui, na ilha<br />

sagrada da Bretanha.<br />

— Suponho — disse Merlim — que não há por aqui nenhum pedaço<br />

<strong>de</strong> queijo?<br />

Fitei-o, pensando que <strong>de</strong>via estar a sonhar.<br />

— Daquele tipo esbranquiçado, Derfel — disse ele, ansioso, — que se<br />

esfarela. Não aquela massa rija, amarelo-escuro. Não suporto aquele queijo<br />

rijo amarelo-escuro.<br />

Estava <strong>de</strong> pé <strong>de</strong>ntro da concavida<strong>de</strong> e olhava-me com uma expressão<br />

atenta e séria, com a capa que tinha coberto o seu corpo pendurada nos<br />

ombros, como se fosse um xaile.<br />

— Senhor? — disse eu, numa voz fraca.<br />

— Queijo, Derfel. Não ouviste o que eu disse? Apetece-me comer<br />

queijo. Tínhamos um pedaço. Estava embrulhado em linho. E on<strong>de</strong> está o<br />

meu bastão? Um homem <strong>de</strong>ita-se para dormir um pouco e logo lhe roubam<br />

o bastão. Será que já não há gente honesta? Vivemos num mundo terrível.<br />

Não há queijo, não há honestida<strong>de</strong>, não há bastão.<br />

— Senhor!<br />

— Para <strong>de</strong> me gritar, Derfel. Não estou surdo, apenas tenho fome.<br />

— Oh, senhor!<br />

— Agora choras! O<strong>de</strong>io lágrimas. Tudo o que peço é um pedaço <strong>de</strong><br />

queijo e tu começas a choramingar como uma criança. Ah, eis o meu bastão.<br />

Ótimo.<br />

Apanhou o bastão, que estava ao lado <strong>de</strong> Nimue, e serviu-se <strong>de</strong>le<br />

para sair da cavida<strong>de</strong>. Os outros soldados estavam agora acordados e olhavam-no<br />

boquiabertos. Depois, Nimue mexeu-se e eu ouvi a respiração ofegante<br />

<strong>de</strong> Ceinwyn.<br />

— Suponho, Derfel — disse Merlim enquanto caminhava entre os fardos<br />

empilhados procurando o seu pedaço <strong>de</strong> queijo, — que nos colocaste<br />

numa posição difícil? Estamos cercados, não é verda<strong>de</strong>?<br />

— Sim, senhor.<br />

— E somos inferiores em número?<br />

— Sim, senhor.<br />

— Ora, ora, Derfel. E consi<strong>de</strong>ras-te tu um lí<strong>de</strong>r <strong>de</strong> guerreiros? Queijo!<br />

Cá está ele. Eu sabia que havia algum. Excelente.<br />

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