Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência
Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência
Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Agora ali estávamos nós, no mesmo local, num último e <strong>de</strong>sesperado esforço<br />
para fazer recuar os anos e rebobinar séculos <strong>de</strong> tristezas e sofrimentos,<br />
para que a Bretanha voltasse a ser o estado abençoado que era antes da<br />
chegada dos Romanos. Nessa altura seria a Bretanha <strong>de</strong> Merlim, a Bretanha<br />
dos Deuses, a Bretanha liberta dos Saxões, a Bretanha repleta <strong>de</strong> ouro,<br />
salões rejubilantes e milagres.<br />
Caminhámos para leste, na direção da zona menos larga dos estreitos<br />
e aí, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> contornarmos um rochedo e por baixo <strong>de</strong> uma fortaleza<br />
<strong>de</strong>serta, encontrámos dois barcos que tinham sido içados até fi car sobre os<br />
seixos <strong>de</strong> uma enseada minúscula. Uma dúzia <strong>de</strong> homens aguardava junto<br />
aos barcos, quase como se estivessem à nossa espera.<br />
— São os barqueiros? — perguntou-me Ceinwyn.<br />
— Os barqueiros <strong>de</strong> Diwrnach — respondi eu e levei a mão à cobertura<br />
<strong>de</strong> ferro do punho <strong>de</strong> Hywelbane. — Querem que atravessemos — disse<br />
eu, e senti medo pois o rei estava a facilitar <strong>de</strong>masiado a nossa missão.<br />
Os marinheiros não se sentiam <strong>de</strong> modo nenhum atemorizados pela<br />
nossa presença. Eram criaturas atarracadas, <strong>de</strong> aspeto endurecido, com escamas<br />
<strong>de</strong> peixe espetadas na barba e vestidos com grossas vestimentas <strong>de</strong><br />
lã. Não tinham quaisquer armas para além das facas <strong>de</strong> amanhar o peixe<br />
e os arpões. Galaad perguntou-lhes se tinham visto alguns dos lanceiros<br />
<strong>de</strong> Diwrnach, mas eles limitaram-se a um encolher <strong>de</strong> ombros, como se<br />
a língua que ele falava não tivesse qualquer signifi cado para eles. Nimue<br />
dirigiu-se a eles em irlandês, a sua língua <strong>de</strong> origem, e eles respon<strong>de</strong>ram-lhe<br />
com um mínimo <strong>de</strong> educação. Alegaram que não tinham visto nenhum<br />
dos Escudos Sanguinários, mas disseram-lhe que tínhamos <strong>de</strong> esperar até<br />
que a maré atingisse o nível <strong>de</strong>sejado para que pudéssemos fazer a travessia.<br />
Só então, ao que parecia, os estreitos seriam seguros para os barcos.<br />
Fizemos uma cama para Merlim num dos barcos, <strong>de</strong>pois Issa e eu escalámos<br />
a fortaleza <strong>de</strong>serta e espreitámos para o seu interior. Uma segunda<br />
coluna <strong>de</strong> fumo elevava-se para o céu, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o vale dos carvalhos retorcidos.<br />
Fora isso, porém, nada mudara e não havia inimigos à vista. Eles estavam<br />
lá, no entanto. Não era necessário ver os seus escudos toscamente pintados<br />
<strong>de</strong> sangue para saber que estavam por perto. Issa tocou a lâmina da espada.<br />
— Creio, senhor — disse ele, — que Ynys Mon seria um bom lugar<br />
para morrer.<br />
Sorri.<br />
— Seria um lugar ainda melhor para viver, Issa.<br />
— Mas as nossas almas estarão com certeza a salvo, se morrermos em<br />
solo sagrado? — perguntou ele, ansiosamente.<br />
— Estarão a salvo — prometi-lhe — e tu e eu atravessaremos juntos a<br />
ponte das espadas.<br />
113