Tradução de Ana Faria e Isabel Andrade - Saída de Emergência
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— Não exatamente — admitiu Nimue. — Mas enquanto vocês dois<br />
arranjavam a vossa casinha — fez esta observação num tom sarcástico,<br />
— nós fomos até Cadair Idris. Fizemos um sacrifício, o sacrifício antigo, e<br />
Merlim ofereceu a sua vida como garantia, não ao Cal<strong>de</strong>irão, mas à <strong>de</strong>manda.<br />
Se encontrarmos o Cal<strong>de</strong>irão, ele viverá, mas se fracassarmos, morrerá<br />
e a alma-sombra do sacrifício po<strong>de</strong>rá reclamar a alma <strong>de</strong> Merlim para toda<br />
a eternida<strong>de</strong>.<br />
Eu sabia o que era o sacrifício antigo, embora nunca tivesse ouvido<br />
dizer que continuava a ser praticado no nosso tempo.<br />
— Quem foi o sacrifício? — perguntei.<br />
— Ninguém que conheças. Ninguém que nós conhecêssemos. Um<br />
homem, apenas. — Nimue falou com <strong>de</strong>sdém. — Mas a sua alma-sombra<br />
está aqui, observando-nos, e quer que fracassemos. Quer a vida <strong>de</strong> Merlim.<br />
— E se Merlim acabar por morrer? — perguntei.<br />
— Não morrerá, louco! Não, se encontrarmos o Cal<strong>de</strong>irão.<br />
— Se eu o encontrar — disse Ceinwyn, nervosa.<br />
— Encontrarás — retorquiu Nimue, confi ante.<br />
— Como?<br />
— Sonharás — disse Nimue — e o sonho conduzir-nos-á até ao Cal<strong>de</strong>irão.<br />
E Diwrnach, compreendi quando chegámos aos estreitos que separavam<br />
o continente da ilha, queria que o encontrássemos. A fogueira fora<br />
o sinal <strong>de</strong> que estávamos a ser vigiados pelos seus homens, mas estes não<br />
se tinham mostrado nem tentado impedir a nossa viagem, o que sugeria<br />
que Diwrnach estava ao corrente da nossa <strong>de</strong>manda e queria que a mesma<br />
fosse bem-sucedida para que ele próprio pu<strong>de</strong>sse apo<strong>de</strong>rar-se do Cal<strong>de</strong>irão.<br />
Não havia outra explicação para o facto <strong>de</strong> não estar a levantar obstáculos à<br />
nossa viagem até Ynys Mon.<br />
Os estreitos não eram largos, mas a água cinzenta rodopiava, sugava<br />
e formava espuma à medida que varria impetuosamente o canal. O mar<br />
corria veloz por entre aquelas passagens estreitas, formando perigosos re<strong>de</strong>moinhos<br />
ou quebrando-se em vagas <strong>de</strong> espuma branca contra rochedos<br />
escondidos. O mar, porém, não era tão assustador como a costa distante,<br />
que se erguia perante os nossos olhos absolutamente vazia, escura e <strong>de</strong>sabrigada,<br />
quase como se esperasse a oportunida<strong>de</strong> certa para sugar as nossas<br />
almas. Estremeci ao observar a colina coberta <strong>de</strong> erva, perdida na distância,<br />
sem po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> pensar naquele longínquo Dia Negro em que os Romanos<br />
chegaram a esta mesma costa rochosa e em que a distante margem<br />
oposta se enchera <strong>de</strong> druidas, que lançavam as suas temíveis maldições na<br />
direção dos soldados estrangeiros. As maldições tinham falhado, os Romanos<br />
tinham feito a travessia até à outra margem e Ynys Mon perecera.<br />
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